sábado, 27 de julho de 2013

Corrida TV/Norte: assim ninguém nos leva a sério... somos uns eternos brincalhões!

Duarte Pinto teve ontem na Póvoa de Varzim uma lide digna de prémio, mas...
Se a Tauromaquia fosse hoje levada a sério, os telejornais da semana passada
teriam dado o destaque que se impunha ao facto de Rui Fernandes ter dado
a Portugal a honraria de ganhar em França (Mejanes) o "Rojão de Ouro", apenas e só,
o mais prestigiado troféu outorgado naquele país ao toureio a cavalo. Mas ninguém
falou dessa importante vitória do cavaleiro português, que foi também uma vitória
de Portugal. E porquê? Porque ninguém leva já a Tauromaquia a sério neste país...



Miguel Alvarenga - Para a Tauromaquia ser levada a sério, os homens dos toiros tinham que se dar ao respeito. E não dão. Permitem e cometem escandaleiras como a de ontem à noite na Póvoa de Varzim, ainda para mais em directo para o país inteiro pela televisão. E com isso, meus amigos, a Festa perde toda a sua credibilidade, banaliza-se como um espectáculo sem rei nem roque, onde tudo é permitido e onde tudo é lei feita em cima do joelho. E à balda.
Se a Tauromaquia tivesse hoje a credibilidade que teve noutros tempos - e que Manuel dos Santos tão dignamente lhe deu, por exemplo, nas célebres "Reportagens do Exterior" que eram as nocturnas de quinta-feira no Campo Pequeno na RTP - os telejornais da semana finda teriam dado o destaque que merecia o facto de Rui Fernandes ter ganho em França, na praça de Mejanes, o mais prestigiado troféu que naquele país se outorga ao toureio a cavalo, o "Rojão de Ouro", em aguerrida competição, apenas e só, com a grande Figura que é Diego Ventura. Mas todas as televisões ignoraram essa enorme honraria que Rui Fernandes trouxe para terras lusas. E porquê? Porque ninguém leva a Tauromaquia a sério...
O que ontem vimos em directo pela RTP, já no final da Corrida TV/Norte, é a imagem do descrédito e da bandalheira - porque é mesmo uma bandalheira - em que caíu o espectáculo tauromáquico nos últimos anos. Lamentável. Lamentável é pouco. Triste e desolador.
Luis Rouxinol é um grande Toureiro, grande mesmo. Um Toureiro que lutou em 25 anos, com a maior das dignidades e o mais respeitado mérito, pelo lugar cimeiro que hoje ocupa. Merece tudo e mais alguma coisa. Menos o prémio para a "melhor lide" que ontem lhe concederam, vá lá saber-se por quê. E ele mesmo o disse, quer nas expressões desoladoras que exibiu durante a lide, quer nas declarações finais que fez para a RTP. Teve um toiro quase ilidável e lidou-o com a garra, o querer e a maestria que são seu apanágio em todas as corridas. Mas não alcançou, como ele próprio o frisou, o triunfo que desejava.
Levou vários "bombazos" em cada ferro que cravou, inclusivé com a famosa égua "Viajante", que é, só e apenas, uma das melhores montadas da actualidade. Levou esses "bombazos" (empurrões) porque arriscou, porque pisou terrenos ousados, porque é Toureiro dos de cima. Foi uma lide de imenso valor, mas não foi, de modo algum, uma lide digna de um prémio.
Os deuses devem estar loucos. O júri (quem era, afinal?) ou se enganou, ou bebeu antes da corrida ou fumou cigarros daqueles que fazem rir. Das três, uma...
Comparado com este escândalo, a proeza de Castelo Branco a brincar aos Forcados no célebre programa da SIC foi um hino de louvor à Tauromaquia. Mas os mesmos (ditos) "aficionados" que entraram em perfeita paranóia com o feito de Castelo Branco, não mexeram agora uma palha para denunciar o escândalo de ontem na tourada da Casa do Pessoal da RTP...
A Corrida TV/Norte foi uma verdadeira seca, sem a lotação esgotada que era usual (apesar de uma praça muito bem composta) e sem o êxito artístico que se desejava, muito por culpa dos sonsos toiros de Passanha. Os toureiros esforçaram-se e os forcados estiveram heróicos. O prémio para a "melhor pega" ficou muito bem entregue a Mário Gonçalves, dos Amadores do Ribatejo, um grupo que está a regressar em força à ribalta e que é hoje, sem margem para dúvidas, um dos melhores desta temporada. Márcio Francisco, dos Amadores de Vila Franca, fez também um pegão que merecia ser premiado, mas aqui havia que decidir a sério. E o troféu ficou bem entregue.
No que respeita aos cavaleiros, o prémio podia ter sido entregue ao Maestro Bastinhas (que teve o único toiro bom da noite) pela sua lide perfeita e extremamente racional. Bastinhas entendeu o toiro na perfeição e deu-lhe a lide adequada, ao seu melhor e mais exuberante estilo - que continua, 30 anos depois, a contagiar e a galvanizar as gentes.
Ou devia ter sido entregue ao valente Duarte Pinto, autor de uma lide empolgante a um toiro que não tinha lide e que ele "espremeu" ao máximo, impondo a sua verdade, a sua técnica e a sua tremenda ousadia, pondo "a carne no assador", cravando ferros de parar corações, por outras palavras, dignificando a sua arte, o seu toureio e o apelido de peso que tem no nome. Olé Duarte!
Sónia Matias protagonizou também uma actuação de muita raça, a confirmar o grande momento que está a atravessar; Brito Paes reafirmou que está a vir acima, finalmente, bem montado e cheio de ganas de se afirmar em definitivo; e o jovem João Maria Branco quis muito frente a um toiro que não queria, teve ganas e teve argumentos, mas não conseguiu o triunfo que se impunha e desejava.
De resto, a Corrida TV/Norte, bem dirigida pelo eficiente Nuno Nery, foi ontem um verdadeiro "quadro de miséria" - da triste miséria e do quadro desolador em que se encontra a Festa Brava em terras de Portugal.
Que saudades dos tempos em que isto era levado a sério, era respeitado e era dignificado pelos que cá andavam. Hoje, para mal dos nossos pecados, os maiores inimigos da Festa estão dentro dela. E por muito que nos custe, isto tem os dias cada vez mais contados...
É que assim, meus amigos, ninguém nos leva a sério. Somos uns eternos  brincalhões.

Fotos Emílio de Jesus/Arquivo e D.R.