João Ribeiro Telles quando falava ao "Farpas" |
João Ribeiro Telles está hoje em San
Clemente, Espanha, onde toureia ao fim da tarde. Amanhã vai estar no Campo
Pequeno na Corrida TV para discutir com João Moura Caetano e também com o jovem
João Maria Branco. Vive a sua melhor temporada de sempre e diz que isso se deve
não apenas à quadra de cavalos perfeita que ele próprio preparou, mas também ao
facto de estar "mais sólido, mais maduro" e de "as coisas
estarem finalmente todas no lugar". Vai lutar para ser eleito Triunfador da
Temporada, diz que "toureia como sente" e que isso "não é uma
fuga à linha clássica" que caracteriza os cavaleiros da Torrinha. O Pai
tem sido "o grande motor" da sua carreira. Há um ano, na Corrida TV,
ganhou o prémio para a "melhor lide" e promete que amanhã vai
"fazer tudo por tudo para o trazer outra vez". A 24 horas da grande
noite no Campo Pequeno, João Telles falou ao "Farpas". Com a
convicção, a serenidade, a tranquilidade e o charme com que enfrenta os toiros
na arena, falou-nos da temporada que é "a da sua vida", da polémica que envolveu as "exclusivas" e dos seus próximos compromissos numa época em que não ultrapassará as quinze corridas em Portugal. Também da triunfal campanha que tem feito em arenas de Espanha. Vamos ouvir o "Ginja", alcunha que o tio Manuel lhe pôs
ainda em pequeno e que até hoje ele não sabe por quê...
Entrevista de Miguel Alvarenga
- É este, finalmente, o teu ano, João?
- Penso que sim. É o ano mais sólido,
tenho a quadra de cavalos perfeita, são todos cavalos postos e estreados por
mim, as coisas têm corrido bem, os triunfos têm acontecido só em praças e em
corridas importantes, por isso penso que este é, na verdade e finalmente, o meu
ano, a minha melhor temporada. Tenho obtido bons êxitos em Espanha e em
Portugal tenho triunfado nas corridas onde me apresento.
- Caminhas a passos largos para o trono
de Triunfador da Temporada...
- Vou fazer tudo por isso! Faltam ainda
algumas corridas de muita importância, casos da Corrida TV de amanhã no Campo
Pequeno e da corrida de 12 de Setembro na Moita. A ver vamos se as coisas
continuam a correr como até aqui!
- Perspectivas para a Corrida TV de
amanhã no Campo Pequeno, onde te vais defrontar com outro dos grandes
candidatos a Triunfador da Temporada, João Moura Caetano e também com João
Maria Branco?
- O João Moura Caetano é outro toureiro
que anda em alta, bem montado e bem moralizado, penso que vai ser um bom duelo,
esperemos que os toiros nos ajudem. O João Maria Branco é um jovem que se vem
afirmando e que também está num bom momento. É uma corrida importante, a corrida
mais antiga do calendário taurino nacional, já a toureei no ano passado e tive
a felicidade de ganhar o prémio e este ano vou fazer tudo por tudo para o
trazer outra vez!
- És o mais revolucionário dos cavaleiros
da Dinastia Ribeiro Telles. E porquê? Porquê a "fuga" àquela linha
clássica que caracteriza os toureiros da Torrinha?
- Não é uma "fuga", faço o
toureiro que sinto. Felizmente, esta temporada tenho conseguido triunfar e
tourear como gosto e sinto o toureio. Às vezes isso não é possível, ou porque o
toiro o não permite, ou porque as coisas não saem bem, mas este ano, graças a
Deus, as coisas têm-me corrido bem e tenho conseguido fazer o meu toureio. O
público tem gostado, como recentemente aconteceu em Alcochete e isso
satisfaz-me. Não "fugi" à linha que caracteriza, por exemplo, o meu
tio António e o meu primo Manuel. O meu toureio, o toureio que sinto e que levo
dentro de mim, pode não ser muito clássico, mas é um toureio sério, um toureio
de verdade e interpretado à minha maneira.
- De todos os filhos de toureiros que
surgiram nos últimos anos, foste praticamente o único que não contou na arena
com o apoio do Pai, uma vez que o teu se retirou precisamente quando
apareceste. Isso foi bom ou foi mau, João?
- Eu acho que o meu Pai se retirou precisamente
para me apoiar, para se dedicar a mim ao máximo. Deu-me e tem-me dado tudo, sem
ele eu não era nada, o meu Pai tem sido o motor da minha carreira. Não foi
fácil para mim afirmar-me, o nome era o mesmo, tinha que defender o nome do meu
Pai e honrá-lo. E trabalho todos os dias para isso, para não o defraudar e para
defender em praça o meu toureio e o meu nome. O meu Pai acompanha-me em todas
as corridas e sente os meus triunfos como se fossem dele.
- Vem de onde a tua alcunha,
"Ginja"?
- Vem do meu tio Manuel, que põe
alcunhas a toda a gente. Nem sei por que fiquei "Ginja"... foi logo
desde pequeno... e há pessoas que nem sabem o meu nome, que me tratam só por
"Ginja"!
- Teres chegado neste momento onde
chegaste teve a ver com o facto, como há pouco referiste, de teres finalmente
uma quadra de cavalos sólida?
- Esta temporada faço cinco anos de
alternativa. Não é só os cavalos, eu próprio estou mais sólido, mais toureado,
com mais cabeça, mais maduro. Há já alguns anos que aconteciam triunfos, mas
considero que este ano tenho, por fim, uma quadra de grande confiança e muito
sólida e obviamente que isso tem ajudado. Está tudo mais sério, está finalmente
tudo no sítio e eu estou moralizado como nunca, devido a tudo isso.
- A campanha em Espanha, tem corrido
bem?
- Tem, apesar de as coisas estarem um
pouco complicadas. Não é apenas nos toiros, a crise é geral e afecta, como não
podia deixar de ser, o espectáculo tauromáquico. Mas tem havido uma boa
aceitação do público e um grande entusiasmo pelas corridas de rejoneio
(cavaleiros) e em termos gerais tenho que fazer um balanço positivo da campanha
que tenho feito em Espanha. Tenho que lutar, tenho lá ainda muitas portas para
abrir e vou continuar a fazer tudo por isso.
- O tema das "exclusivas",
consideras que foi bom para os toureiros e para a Festa?
- Penso que sim. Ao princípio gerou para
aí muita confusão e muita polémica. Fui um dos toureiros que assinou uma
"exclusiva" com a empresa "Campo e Praça" e penso, sinceramente,
que isso foi para para nós, toureiros e também para a Festa em geral. Acho que
as coisas, de início, terão sido mal interpretadas. No meu caso pessoal, estou
super-contente, foi óptimo, penso que os empresários estão também muito
contentes comigo. Penso que as "exclusivas", ao contrário do que
alguns pensavam, surgiram na altura certa. Eu não queria fazer muitas corridas,
queria apenas tourear corridas importantes e em praças importantes, faço
quinze, tenho praticamente todas feitas, faltam apenas algumas, mas está tudo
apalavrado. Em suma, eu estou contente e os empresários António Manuel Barata
Gomes e Albino Caçoete também.
- Para o ano haverá nova
"exclusiva"?
- O contrato que fizemos foi para este
ano. Depois se verá...
- Era preciso surgir uma parelha de
cavaleiros que agitassem as hostes, estilo Núncio-Simão, Batista-Veiga e até
como teu Pai e João Moura, que tantas vezes competiram e chegaram mesmo a
actuar mano-a-mano. Quem pensas que podia ser um competidor ideal para ti?
- Há muitos novos aí a andarem bem. Toureei muito com o João Moura Jr.,
embora este ano ainda não tenhamos toureado juntos. O João Moura Caetano é
outro companheiro que está moralizadíssimo e que tem uma grande quadra de
cavalos. Para já, a parelha que elejo é com o Caetano, vamos já tourear juntos
amanhã no Campo Pequeno e também com o João Maria Branco, que tem toureado
menos, mas anda muito bem, penso que está a ser muito bem conduzido, muito bem
levado. Mas, para já, a grande parelha que destaco é a minha com o Moura
Caetano. Mas há muitos mais. Eu sou novo e mesmo assim já sou dos "mais
velhos", muitas vezes sou eu a abrir o cartel, e isso é sinal,
precisamente, de que têm aparecido muitos toureiros novos e alguns deles com
valor.
- Para terminar, fala-me dos próximos
desafios...
- São vários. Já amanhã é a Corrida TV
em Lisboa, seguem-se outras corridas de muita impoortância, entre as quais a de
reinauguração da praça de Estremos no dia 30 e a de Almeirim no dia 31, onde
vou tourear com o meu tio António e com os Salgueiros pai e filho, depois a
corrida da Moita com Salgueiro e Ventura. E há outras. Estou preparado e
moralizado, espero que as coisas me continuem a correr como até aqui. Neste
momento, tenho a cabeça na corrida de amanhã no Campo Pequeno!
Fotos Emílio de Jesus/Arquivo e Ana do
Valle