Miguel Alvarenga regressou ontem à noite aos estúdios da Rádio Iris FM em Samora Correia, alguns anos depois de já ali ter sido entrevistado por Pedro Pinto, responsável pelo anterior programa de tauromaquia de uma estação que tem primado por estar sempre ao lado da Festa Brava.
Ontem o director do "Farpas" esteve duas horas à conversa com Maurício do Vale, que todas as terças-feiras ali apresenta o programa "Sombra Sol", um espaço super-português onde se fala de toiros e de fado, as máximas expressões da cultura e da tradição nacionais.
Miguel Alvarenga viajou um pouco pela sua carreira de jornalista e de crítico tauromáquico, recordando os primeiros passos em que teve o apoio (inesquecível) do grande Manuel dos Santos (foto ao lado), que depois de retirado das arenas, após brilhante carreira como matador de toiros, foi o mais visionário dos empresários à frente dos destinos da praça do Campo Pequeno e de muitas outras.
"Foi um homem que procurou novos valores, não apenas no toureio, mas também na crítica e eu tive a sorte de me cruzar com ele, por ser amigo de meu Pai há muitos anos. Acreditou em mim, ensinou-me muito e deu-me o primeiro empurrão para ser o que depois fui...", contou Alvarenga, referindo depois os seus começos como jornalista em 1976 no semanário "O Diabo" e as influências que recebeu de Vera Lagoa e que, segundo ele, "me moldaram jornalisticamente e me fizeram ser como sou".
A paixão pelos fados, as experiências "taurinas" como espada e forcado nas saudosas garraiadas de antigamente foram ainda algumas da facetas de Miguel Alvarenga lembradas ontem na grande entrevista a Maurício do Vale: "Cheguei a actuar no Campo Pequeno na primeira garraiada do CDS em 1978 com a praça completamente esgotada e essas garraiadas fomentavam novos aficionados e traziam gente nova para as praças", recordou.
Sobre o actual momento da Festa Brava, o director do "Farpas" lamentou "a falta de visão futurista de quem manda", afirmando que "tudo decorre como nos anos 60 e a nossa tauromaquia parou no tempo". Alternativas? Respondeu: "O espectáculo tauromáquico precisa sobretudo de cabeças, de gente iluminada que o saiba promover com marketing bem feito e precisa, sobretudo, de ídolos e de valores que levem gente às praças. É necessária toda uma estratégia, é preciso diminuir radicalmente o número de espectáculos, apresentar menos corridas, mas boas, criar condições para que o público acorra às praças com interesse. E isso passa por tanta coisa! Passa sobretudo pela necessidade de empresários visionários, como foi Manuel dos Santos, mas também por uma redefinição total da carreira e da estratégia dos toureiros. O recente espectáculo de José Cid no Campo Pequeno esgotou a praça. Afinal, não é assim tão difícil esgotar o Campo Pequeno. Mas a verdade é que José Cid canta ali uma vez por ano... se andasse a cantar todas as semanas ali e nas redondezas, certamente que não encheria... Enfim, não podemos fazer paralelismos, mas penso que a Festa deveria ser toda repensada e era bem preciso que os toiros voltassem a ser um espectáculo de multidões, a par do futebol, como acontecia noutros tempos".
E apelou depois à união de todos "para não darmos azo a que digam que os anti-taurinos estão dentro da Festa e que nós próprios somos, às vezes, bem mais prejudiciais uns aos outros do que aqueles que protestam às portas das praças".
Dos seus tempos primeiros, Miguel Alvarenga recordou que Mestre Batista era o seu ídolo nas arenas e, na escrita, tinha José Sampaio, jornalista e antigo crítico taurino do "Diário de Notícias", como maior referência.
Anunciou ainda que este ano decidiu suspender a atribuição dos Troféus "Farpas" "por considerar que não houve nesta temporada grandes destaques": "Houve toureiros que subiram a sua cotação, uns que a mantiveram e outros que desceram, mas penso que não é fácil eleger um ou mesmo dois grandes triunfadores e por isso decidimos este ano não atribuir troféus, pode ser que voltem para o ano".
Fotos D.R.