domingo, 5 de janeiro de 2014

A história do meu encontro com Eusébio

Eusébio e Chibanga na arena do (antigo) Campo Pequeno
Eusébio fotografado por Ricardo Relvas em 1 de Agosto do ano passado na praça
de toiros do Campo Pequeno
O "Pantera Negra" com o Prof. Oliveira Salazar
Dois símbolos nacionais - de sempre e para sempre!
Eusébio com o matador de toiros Amadeu dos Anjos (ao meio) e o também 
grande futebolista Germano (à esquerda)
No ano passado na RTP, no programa de Malato, com o matador de toiros
Ricardo Chibanga, recordando a infância conjunta em Moçambique
Eusébio com o antigo matador de toiros Óscar Rosmano, hoje a viver no México



Miguel Alvarenga - Era um dia 10 de Junho, que antigamente se chamava "da Raça", foi há mais ou menos quinze anos. O Maestro Amadeu dos Anjos não estava ainda no seu actual paraíso em Tróia, viva em Lisboa, ali ao pé de Sete Rios e do Jardim Zoológico, onde quase todas as semanas nos reuníamos com amigos em fantásticas almoçaradas. Amadeu é um excelente cozinheiro. "Tem na cozinha a mesma muñeca e a mesma magia com que comandava a sua muleta de ouro nos tempos em que toureava", costumava dizer eu.
Como todas as semanas sucedia, quinta ou sexta-feira, o Maestro telefonou-me. "Este sábado temos um convidado especial, o Eusébio!". Ainda por cima num Dia de Portugal. Só faltava mesmo a Amália...
Foi um dia inesquecível. Eusébio chegou um nadinha atrasado. Os almoços eram uma espécie de lanches-ajantarados, começavam sempre tarde e acabavam já de madrugada. O rei veio directamente do Estádio do Jamor, onde assistira à final da taça. Veio acompanhado por sua Mulher, Flora e pelo seu amigo e também antigo jogador moçambicano Hilário, do Sporting.
Embora não seja nada entusiasta de futebol, confesso que senti um arrepio quando cumprimentei Eusébio. Cresci a ouvir falar dos seus feitos gloriosos. É uma referência nacional. E estava ali, na minha frente, com uma simplicidade arrepiante.
"Ó Amadeu, hoje quem cozinha sou eu!", disse. Apertou o avental, "arrimou-se" à cozinha e ali esteve, sorridente, simpático, brindando-nos com umas belíssimas costoletas em azeite e alho.
Depois sentámo-nos à mesa, bebemos e bebemos e ouvimos da boca do rei estórias de episódios fantásticos passados em Moçambique, nos tempos em que jogavam descalços à bola... com Ricardo Chibanga, o célebre matador de toiros. Contei-as na altura no jornal "Farpas".
"Nunca percebi como o Chibanga foi para toureiro - contou Eusébio - ele que era um dos maiores 'mariquinhas' quando jogávamos à bola. Caía, aleijava-se e era logo uma berrata dos diabos. Como é que não tinha medo dos toiros? Foi uma coisa que me espantou sempre!".
Essa tarde única foi ainda mais única pela presença, já mais tarde, do também famoso pintor moçambicano Malangatana, entretanto falecido e que era também amigo do Maestro Amadeu.
Rimos, falámos, recordaram-se tempos passados (que me encantaram conhecer) e de Eusébio guardo essa imagem simples de um homem que foi tão grande.

Fotos D.R.