sábado, 21 de junho de 2014

Cartaxo, ontem: triunfos, prémios... e a verdade!

Grande actuação de Rouxinol com o bravo toiro de Jorge de Carvalho
Marcos Bastinhas esteve enorme com o belíssimo toiro de Felicidade Dias
Antigamente havia uma ou duas corridas de gala por ano, de que se destacava
a da Liga Contra o Cancro em Lisboa; hoje em dia, há galas "por dá cá aquela
palha"
, começa a ser corriqueiro e enfadonho...
Luis Rouxinol recebeu o prémio que distinguia a melhor lide
O Engº Jorge de Carvalho premiado ontem pela bravura do seu toiro no Cartaxo.
Na foto de baixo, a entrega do prémio "apresentação" ao representante da divisa
de Felicidade Dias


Miguel Alvarenga - Luis Rouxinol ganhou ontem à noite no Cartaxo o prémio que distinguia a melhor lide - atribuído pelas tertúlias e pela organização da corrida, sem que tivesse havido anúncio detalhado de quem constituía ma verdade o júri... - e que, se valesse a verdade, deveria ter sido repartido "ex-aequo" com Marcos Bastinhas, autor de uma lide deslumbrante e bem reveladora do momento enorme que atravessa. Mesmo assim e apesar da atribuição destes troféus continuar a ser dúbia e a ter muito que se lhe diga... o público (praça cheia, mais de três quartos das bancadas bem preenchidos) não protestou.
Num concurso de ganadarias (algumas menos idóneas...), a vitória coube, no que à bravura diz respeito, ao toiro do Engº Jorge de Carvalho, bem lidado por Rouxinol, apesar de excessivamente "capotado", o que originou mesmo uma intervenção algo exaltada, mas legitimamente compreensível, do ganadeiro, junto dos bandarilheiros do toureiro; no que concerne à apresentação, o troféu foi entregue ao toiro de Felicidade Dias, superiormente lidado por Marcos Bastinhas. Num e noutro caso, nada a apontar. Foi justa e merecida a decisão do júri (desconhecido).
A corrida, que se iniciou com o cortejo de gala à antiga portuguesa (que, por excesso de repetição - antigamente havia uma ou duas galas por ano, agora é quase dia-sim, dia-não - começa a ser enfadonho e "mais-do-mesmo", já chega), ficou ainda marcada pelo importante triunfo do Grupo de Forcados Amadores de Alenquer, que se encerrou em solitário e de forma brilhante com os seis toiros. Comandado por Jorge Vicente, que ontem era simultâneamente organizador da corrida e se encontrava entre tábuas à paisana, o grupo continua excluído, incompreensivelmente, da Associação de Forcados, como se fosse lógico haver grupos que são filhos e outros que são enteados. Mas enfim... adiante.
Luis Rouxinol foi protagonista de uma actuação brilhante e sempre em crescendo. Pena que a extraordinária condição de lide do toiro de Jorge de Carvalho tivesse sido, aqui e ali, beliscada pelo excesso de capotazos dos peões de brega do cavaleiro. Rouxinol soube aproveitar da melhor forma a excelente qualidade do toiro e brilhou a todo o gás. O público esteve com ele - como está sempre.
Antes, Joaquim Bastinhas viu-se e desejou-se com um mansote de João Ramalho que se atravessava uma barbaridade. Valeu a larga experiência do Maestro de Elvas para tornear as dificuldades impostas pela falta de qualidade do toiro. Deu-lhe Bastinhas a volta com o seu saber e acabou premiado com música e merecida volta à arena pelo seu labor e pela sua entrega.
Filipe Gonçalves lidou um perigoso exemplar de José Dias, também com escassas condições de lide. Esteve o cavaleiro algarvio valente que nem um leão, sofrendo uma aparatosa colhida contra as tábuas que provocou (pasme-se!) danos em dois pilares (partidos) de cimento na trincheira. Não caíu por milagre e depois recompôs-se. Pôs a carne no assador, arriscou, mas a lide não teve brilhantismo. O público aplaudiu a sua ousadia, a sua entrega e a sua honestidade.
Grande foi o triunfo de Marcos Bastinhas com o imponente toiro de Felicidade Dias, que teve extraordinário comportamento e se arrancou com emoção e alegria de todos os terrenos. O jovem cavaleiro está num momento fantástico, pode com todos os toiros e tem cavalos para todas as situações. Voltou ontem a estar fenomenal, arrepiando nas sortes de "quiebro" e na verdade que impôs em dois fantásticos curtos de frente. Terminou com um par de excelente nota.
Ana Rita regressava ontem ao Cartaxo, depois da grave colhida que ali sofreu no final da época passada. Lidou um toiro que pedia contas, de Manuel Coimbra, esteve ousada, como está sempre, mas vê-la tourear é um risco. A valente cavaleira tem uma "quadrazinha" de cavalos (quase) impróprios para consumo e ontem, só por milagre não se deu ali outra tragédia. Ana Rita é valente, mas trabalha no arame sem rede e isso um dia pode ter condições dramáticas.
O praticante Filipe Ferreira, que toureava a sua primeira corrida "a sério" depois de ter estado quatro anos afastado, era ontem uma incógnita. Surpreendeu pela positiva. Frente ao mais pesado toiro da noite, um "tio" da ganadaria Casa Avó, começou "sem certezas" e alguma irregularidade, mas depois confiou-se, tranquilizou-se e cumpriu com dignidade e seriedade este primeiro importante desafio. Procurou ir de frente, cravou com acerto, não falhou um ferro e não sofreu um toque. Ouviu música e deu aplaudida volta à arena.
Brilhante, como atrás referi, foi a actuação em solitário dos Forcados de Alenquer, com valentes pegas a cargo de, por esta ordem, David Vicente (à segunda), Ricardo Filipe (à primeira), Pedro Coelho (à primeira), André Laranjinho (à primeira, espectacular), André Mata (à terceira e já muito maltratado, mas com uma raça desmedida) e Jaime Mendes (muitíssimo bem, ao primeiro intento). O grupo esteve bem nas ajudas, com decisão e coeso.
Bem, na generalidade, os bandarilheiros, um destaque merecido para Fábio Machado, Ricardo Raimundo, David Antunes, Cláudio Miguel, Duarte Alegrete e João "Belmonte". Aplausos para a direcção de corrida a cargo de Lourenço Luzio.

Não perca hoje, aqui, os Momentos de Glória e os Famosos que estiveram ontem na Cartaxo. Uma grande reportagem de Emílio de Jesus.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com