Miguel Alvarenga (texto e fotos) - João
Maria Branco sagrou-se ontem absoluto e incontestado triunfador da Corrida
"Correio da Manhã"/Centro, realizada na centenária praça de toiros da Figueira
da Foz, com muito querer e enorme decisão, mas sobretudo imensa arte e com
argumentos de sobra para dizer, se dúvidas alguém tivesse, que está "a
ferver" e vai marcar em força esta temporada.
É verdade que João Maria teve em sorte
os dois melhore toiros da tarde e os únicos lidáveis de um curro mansote e sem
casta de Francisco Romão Tenório. Mas é ainda mais verdade que o jovem e
valoroso cavaleiro de Estremoz os "agarrou" com unhas e dentes, os
"espremeu" e não deixou fugir tão importante oportunidade numa tarde
em que estava a competir com António Telles e João Moura Júnior. O público, que
enchia pouco mais que metade da lotação do "Coliseu Figueirense",
explodiu em euforia e entusiasmo e aplaudiu de pé a primeira e vibrante
actuação de João Maria Branco, no terceiro toiro da corrida, que salvou uma tarde
de tédio e não deixou que a corrida ficasse "em branco".
Correcto - e
artista - em tudo o que fez, o cavaleiro mal deixou o toiro "pensar",
lidou-o em pleno de maestria e assinou uma actuação verdadeiramente antológica,
daquelas que ficam na memória de quem viu e marcam a carreira de um toureiro. O
último ferro foi um autêntico monumento de raça, de arte, de verdade e de
emoção. João Maria Branco deu ontem um passo de leão e de afirmação. De
consagração, mesmo.
No último toiro da corrida, com menos
"chama" que o seu primeiro, mas mesmo assim, lidável em comparação
com os restantes, Branco voltou a fazer alarde da sua ambição, do seu querer,
da dimensão da sua arte e agora já
ninguém tem dúvidas de que o cavaleiro alentejano caminha a passos largos para
o galarim das primeiras figuras.
Como aqui escrevi esta manhã, Rui Bento
tem agora argumentos para fazer o "cartel do ano" em Lisboa,
colocando-o a 4 de Setembro no posto que está em aberto para competir com Pablo
Hermoso e Moura Júnior. Doa a quem doer, acusem-no ou não os "velhos do
Restelo" de estar a puxar a brasa à sua sardinha e a defender
exclusivamente os toureiros que apodera. Branco deixou ontem a fasquia
altíssima na arena figueirense. Merece por inteiro entrar nessa
"guerra" em Lisboa. Tenho dito - e faça-se justiça!
Dos forcados (Santarém e Lisboa) já
falei detalhadamente na notícia anterior. Foi uma tarde dura e que pôs a prova
o valor de ferro dos dois valentes grupos.
Do mais que aconteceu ontem na Figueira
e por obra e graça dos toiros "que ninguém merece" que sairam à arena
do centenário Coliseu, há quase nada a dizer. O simpático ganadeiro Francisco
Romão Tenório (que não deixa de o ser pelo facto de os seus toiros não terem
servido) poupou-me desta vez a mais escritos...
António Ribeiro Telles foi autor de duas
lides que evidenciaram a sua sabedoria e experiência, optando por arriscadas e
emotivas sortes "a sesgo" a dois toiros que não acudiam aos seus
cites - um desempenho que o público reconheceu e aplaudiu nas merecidas voltas
à arena; e João Moura Júnior, algo "morno" no seu primeiro, mas ainda
assim aprumado na única lide "a que teve direiro", nada pôde fazer no
quinto da ordem, um manso distraído e reservadíssimo, que nem dava pelo cavalo
a passar-lhe à frente. Acudia aos capotes e deu depois dores de cabeça aos
forcados, mas não quis saber de Mourinha e dos seus cavalinhos. Impróprio para
consumo...
Enfim, uma tarde que foi de Branco e dos
valentes forcados de Santarém e Lisboa, havendo ainda a destacar, por ser justo
e ser merecido, o excelente desempenho de todos os bandarilheiros face às
difíceis condições dos toiros. Um olé para Ernesto Manuel, João Ribeiro
"Curro" e António Telles Bastos, Hugo Silva e Jorge Alegrias, Diogo
Malafaia e Filipe Casqueiro. Toureiros de prata que ontem valeram ouro. E dos
melhores quilates.
Corrida bem dirigida, como sempre, por
Lourenço Luzio, assessorado pelo veterinário Dr. João Maria Nobre, onde houve
um único brinde de forcados aos representantes do "Correio da Manhã"
e onde se guardou, ao início, um minuto de silêncio em memória de António
Morgado.
Gerida pela empresa do Campo Pequeno, a praça da Figueira voltou a ter ontem Rui Bento ao leme. A próxima corrida, televisionada pela RTP, será na noite de 15 de Agosto. Oxalá melhor que esta. A Festa é mesmo assim: o homem bem põe, mas às vezes o toiro descompõe...