Terceira lotação esgotada da temporada lisboeta e segunda por obra e graça da presença de Pablo Hermoso de Mendoza |
O último brinde, a última pega e a derradeira volta à arena do Campo Pequeno de um Forcado enorme. Adeus, Nuno Marques! Olé, Toureiro! |
Ontem só houve mesmo emoção na "brutalidade", sem maldade, com que os animais investiram para os forcados. Aqui, momentos da dura intervenção do valente Rui Godinho (Vila Franca) no quinto da noite |
António Telles: Mestre é Mestre e os Mestres toureiam quaisquer toiros, mesmo os que à partida condicionam o labor de qualquer toureiro... |
A arte e os magníficos cavalos de Pablo Hermoso "taparam" ontem a inexistência de toiros para se luzir... |
João Moura Jr. vive a sua temporada de ouro. E está tudo dito |
Miguel Alvarenga - Ontem o Campo Pequeno
esgotou a lotação pela terceira vez nesta temporada e pela segunda por obra e
graça da presença de Pablo Hermoso de Mendoza, que já acabara com os bilhetes
este ano na noite de inauguração da época. Uma praça esgotada, e ainda para
mais a primeira do país, é sempre uma vitória para a Festa. A banda da
Sociedade de Instrução Coruchense tocou muitíssimo bem, a mando do sempre
diligente e aficionado Rogério Jóia, um dos bons directores de corrida da
actualidade. O cornetim José Henriques foi um dos mais aplaudidos da noite
pelas suas artísticas e apuradas intervenções a mandar sair os animais.
Despediu-se de Lisboa um Forcado enorme, Nuno Marques, que pegou à segunda e
deu depois emocionada volta à arena, a última numa praça onde tantas vezes
brilhou e que não mais há-de pisar. Grande pega, também, a sexta, do novo
(futuro) cabo dos Amadores da Chamusca, Nuno Marecos. A primeira pega deste
grupo foi executada por Luis Isidro. Rui Godinho fez a pega da noite pelo Grupo
de Vila Franca, de que foram também intervenientes Bruno Casquinha e Pedro
Castelo, o cabo, em sortes menos brilhantes. António Ribeiro Telles é um Mestre
e os Mestres toureiam quaisquer toiros com a mesma raça e a mesma verdade,
mesmo que alguns, como os de ontem, possam dar à tauromaquia uma imagem de
mentira, por isso António esteve grande e triunfou, adaptando-se aos suaves e
doces Murubezinhos com a casta que todos lhe reconhecemos. Pablo Hermoso de
Mendoza e os seus magníficos cavalos estiveram ontem por cima dos oponentes,
mas sem o brilhantismo costumeiro. O primeiro que lidou era o mais pequenote e
ainda por cima visivelmente diminuído, o que por si só diminuiu e muito o labor
do cavaleiro. O segundo era um verdadeiro "boi", sempre de cabeça
levantada e só a arte de Pablo Hermoso conseguiria cravar-lhe seis ferros,
"tapando" o facto de não ter tido matéria para se luzir. João Moura
Jr. vive a sua temporada de ouro e está tudo dito. Teve, por sorte, os dois
"mais toiros" dos seis "não toiros" de ontem e espremeu-lhes
todo o sumo, entusiasmando em sortes que tiveram muito mais de arte do que
propriamente de risco. Como foi o mais aplaudido e aquele que mais chegou ao
público, pode concluir-se que tenha sido o triunfador da noite. Mas não se pode
falar em grandes triunfos quando se está diante de toiros como os de ontem.
Muito bem apresentados, à excepção do segundo, os exemplares da ganadaria de Dª
Maria Guiomar Cortes de Moura não tiveram nada a ver com os "manos"
que este ano triunfaram em Madrid. Limitaram-se a galopar sem maldade, foram
dóceis, não transmitiram nada - à excepção, nalguns casos, da emoção e da força
com que investiram para os forcados, parecendo difíceis e complicadas pegas
onde não houve mal nenhum - e retiraram toda a emoção e todo o risco que,
noutros tempos eram a nota dominante do espectáculo taurino. Sem toiros não há
argumentos e a noite de ontem em Lisboa foi, por isso, sonsa, chata e sem
história de maior. Não fosse o de Lisboa um público carinhoso, folclórico e
desentendido da matéria e por certo que todos os que ontem esgotaram o Campo
Pequeno não voltariam a dar-se à maçada de ali voltar. Houve glamour nas
bancadas e a presença de alguns famosos nesta que era a corrida da revista
"Lux", mas faltou na arena tudo aquilo que faz parte (ou fazia) da
corrida de toiros e que era, noutros tempos, a essência de um jogo de vida e
morte, onde o risco era quem mais mandava. O publicozinho adorou. Os que
entendem e percebem e antigamente se designavam por aficionados (já não há
muitos), esses, coitados, foram enganados. E bem enganados. E mais nada há a
dizer. Por que mais nada e quase nada se passou ontem no Campo Pequeno. Não se
queixem depois, quando isto um dia fôr mesmo ao fundo. Não se esqueçam nunca de
que o Parque Mayer acabou, não por obra dos políticos, mas porque o público
deixou de ir à revista e os teatros apodreceram...
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com