segunda-feira, 30 de março de 2015

Monforte, sábado: Caetano e Moura, a história repete-se

Caetano e Moura: os primos foram os maiores em Monforte! Para quando o
mano-a-mano por que toda a afición anseia e espera?...
Dois momentos da fantástica actuação de João Moura Caetano, aqui com os
magníficos cavalos "Aramis" e "Xispa"
Muito bem montado e superiormente moralizado, João Moura Júnior respondeu
ao triunfo do primo com uma memorável actuação, a demonstrar que pretende
marcar pela diferença a temporada de 2015. Na foto de baixo, Jorge Neggi, o
valente forcado romeno dos Amadores de Alter, que executou uma grande pega



Miguel Alvarenga - Em tarde de sol e já algum calorzinho, prestou-se no sábado justa homenagem aos Bombeiros Voluntários de Monforte (Portalegre) numa corrida que registou agradável moldura humana na praça que tem o nome de João Moura, o sempre lembrado pai do Maestro Moura e Avô de João e Miguel (três quartos das bancadas preenchidos), apesar de com um cartel destes e sem mais corridas no mesmo dia (infelizmente, os empresários continuam a apostar na sobreposição de espectáculos, o que em nada engrandece a Festa, mas desta vez isso não se passou), se esperasse (e se impunha) lotação esgotada...
Estavam em praça seis cavaleiros com distintos estilos: a arte e a raça dos Bastinhas (pai e filho), a classe de Ana Batista e o moderno toureio mourista interpretado pelos irmãos João e Miguel Moura e por seu primo João Moura Caetano. Havia, pode dizer-se, toureiros para (quase) todos os gostos.
Pese embora a entrega e o querer de todos os toureiros, os toiros (de distintas ganadarias) conidionaram de alguma forma os desempenhos deles e os triunfos maiores da tarde foram para Moura Caetano com um belíssimo e colaborante exemplar da ganadaria de sua Avó, Maria Guiomar Cortes de Moura (com direito a chamada à arena de António Moura, primo do cavaleiro e representante da ganadaria); e para João Moura Jr., que vive momento grande, com um toiro que se prestou ao êxito, de Francisco Romão Tenório. Ou seja: anos depois, a história repete-se a competição entre os novos Caetano e Moura volta a animar as praças portuguesas e a prometer uma renovada rivalidade a que os empresários deviam estar mais atentos. Para quando o mano-a-mano (primo-a-primo, neste caso concreto) que está por fazer?...
João Moura Caetano iniciou esta temporada decidido a recuperar o "tempo perdido" na anterior. Começou por triunfar uma semana antes em Calamonte (Badajoz) e no sábado, com os magníficos cavalos "Aramis", "Temperamento" e "Xispa", bordou o toureio em Monforte, elevando ao máximo esplendor o que é o toureio com temple, com arte e com bom gosto.
Começou com dois compridos de praça a praça, a aguentar até ao fim, pondo desde logo emoção numa lide que subiu depois de tom nos curtos e teve verdadeiros recortes de maravilha na preparação, execução e remate das sortes. Está Caetano num momento pleno de afirmação e com ganas de provar que em 2015 tudo será diferente de 2014.
Ao clamoroso triunfo do primo, respondeu a seguir João Moura Júnior com uma actuação que confirmou, também, o momento enorme de consolidação e maturidade de que já dera nota na temporada anterior. O incentivo que lhe tem sido dado pelo apoderado Rui Bento e que ele próprio reconhece em recente entrevista à revista "Novo Burladero", terá sido determinante para a actual moralização e a diferença com que Mourinha entra em praça, decidido a mostrar que é o melhor. Não será por acaso, nada é por acaso no toureio, que inicia a época com presenças nas duas principais feiras de Espanha, Sevilha e Madrid, e também na inauguração do Campo Pequeno.
Em Monforte, sua terra, João Moura Jr. deu contas à afición da sua extraordinária quadra de cavalos. Vive um momento de imensa solidez, de confiança e, mais que isso, de absoluta afirmação. Tudo o que fez foi bem feito e com alardes e toques de primeiríssima figura. Bregou templadamente ao melhor estilo mourista, impôs emoção no momento do ferro e ladeou com a raça e o temple - e a força! - que herdou de seu Pai. Mais um triunfo importante de Moura Jr. a deixar antever uma temporada "de estrondo".
As restantes actuações ficaram algo aquém do que se esperava, repito, mais por culpa da pouca colaboração dos toiros, do que da vontade dos toureiros.
Joaquim Bastinhas continua em alta e com um fulgor super-jovem. Triunfador da última temporada, o veterano Maestro de Elvas abriu praça frente a um toiro de Passanha que pouco proporcionou e que não se adequava ao seu habitual toureio de emoção. Bastinhas elevou a lide muito por obra e graça da sua experiência e saber, mas não teve matéria prima para brilhar como é usual. Não cravou, inclusivé, o sempre exigido par de bandarilhas, nem saltou do cavalo.
Ana Batista enfrentou um toiro mal apresentado e complicado de Sommer d'Andrade, um toiro que pedia contas e que em momentos da lide trouxe algum desconforto à valente cavaleira de Salvaterra, que esteve uns furos abaixo do seu melhor, sem contudo perder a classe que a caracteriza.
Diante de um Passanha que veio "a menos", Marcos Bastinhas esteve empenhado, sacou-lhe o pouco partido que tinha para dar e protagonizou uma actuação valorosa, com ferros de verdade, mas também sem o brilho costumeiro, por culpa do oponente, que não ajudou. Decididamente, a casta Murube tem muito pouco a ver com o toureio de raça, de verdade e emoção, dos Bastinhas, que são toureiros de outras castas e de outro poder.
Miguel Moura (que actuou a substituir seu Pai, ainda não restabelecido de recente operação à vesícula e que assistiu à corrida na trincheira) fechou a corrida com um colaborante toiro de Romão Tenório que lhe permitiu adornos templados em demasia, mas que não transmitiu emoção no momento do ferro, acabando por retirar algum brilhantismo ao seu esforço e à sua entrega. Viu-se, contudo, que era um Moura que estava em praça. Há sempre uma diferença marcante, essa é que é essa.
Não houve problemas de maior para os forcados, destacando-se as intervenções dos Amadores de Alter do Chão (com caras de João Galhofas e do valente romeno Jorge Neggi, ambas à primeira) e dos Amadores de Monforte, que comemoram esta temporada o seu 15º aniversário (com pegas por intermédio de André Charepe e Vitor Carreiras, ao primeiro e segundo intento, respectivamente). Os Amadores de Coimbra - terra dos doutores e também de pegadores de toiros - realizaram duas pegas, à segunda e à terceira, por José Freire e Rui Martins.
Ao intervalo, os Bombeiros de Monforte e membros da autarquia, liderados pelo presidente da Câmara, Gonçalo Lagem, desceram à arena para obsequiar os toureiros e os forcados com diplomas alusivos à corrida - que foi dirigida com condescendência e afición por Marco Gomes, tendo-se destacado ainda o cornetim Nuno Narciso com intervenções (toques) merecedores de calorosos aplausos.
Em suma, uma tarde quente e de ambiente enorme, com muitos famosos do mundo da tauromaquia nas bancadas (e na trincheira, excessivamente ocupada...) e de triunfo pleno para os primos Moura Caetano e João Moura Júnior, a deixar no ar, como noutros tempos, uma competição que pode - e deve - animar esta temporada, assim o entendam os senhores empresários que, por vezes, nem sempre entendem (ou não podem, dados outros compromissos...) levar a efeito os elencos que chamam público e enchem as praças...

Não perca, hoje, a grande foto-reportagem de Maria João Mil-Homens e todas as fotos dos muitos Famosos que no sábado marcaram presença em Monforte.

Fotos M. Alvarenga