Rui Bento e a Drª Paula Mattamouros Resende, a dupla de sucesso da praça de toiros de Lisboa, que continua a ser o espelho e o exemplo da temporada |
"Nené" continua a ser o maior exemplo do empresário taurino "à antiga", marcando a temporada com as suas cuidadas e sérias organizações em duas praças-chave, as de Évora e Alcochete |
João Pedro Bolota levantou a cabeça e levou a efeito os maiores cartéis de sempre na Feira de Santarém, mas o público não correspondeu como se desejava e se impunha |
Rafael Vilhais levantou as praças de Salvaterra e de Beja. O seu único Calcanhar de Aquiles foi a Moita... |
Fernando dos Santos continua a ser o empresário que mais festejos organiza (Albufeira e Nazaré) e aquele que mais promove os novos valores do toureio |
Ricardo Levesinho esteve um ano mais ao leme do Coliseu Figueirense e diz-se agora que pode regressar à sua "Palha Blanco" em Vila Franca |
Miguel Alvarenga - Embora não tenham sido ainda divulgados os dados oficiais da Inspecção-Geral de Actividades Culturais (IGAC) quanto ao número oficial de festejos taurinos celebrados em Portugal no ano que hoje chega ao fim, os números apontam para cerca de 190 - o que representa um excesso de espectáculos.
Campo Pequeno
Entre as empresas Top de 2017, há que começar por destacar o labor levado a cabo na primeira praça do país, a do Campo Pequeno, que este ano celebrou o seu 125º aniversário, pela dupla que a gere, Drª Paula Mattamouros Resende e Rui Bento.
Nem tudo foram rosas e houve corridas a que o público não afluiu como era de esperar, destacando-se entre estas a do "mano-a-mano" Pablo Hermoso de Mendoza/Manzanares, que encheu sem esgotar (como se impunha) e também aquela em que participaram Rui Fernandes, Leonardo Hernández e Moura Caetano, que apesar do elenco bem rematado, poucos aficionados atraíu às bancadas da praça lisboeta.
De resto, houve três lotações esgotadas - a corrida de abertura, a da comemoração dos 125 anos e a de gala à antiga portuguesa que encerrou o Abono -, o que uma vez mais abonou em favor da credibilidade empresarial de quem gere a primeira praça de Portugal e também do patamar bem alto a que eleveram a Monumental a nível internacional e, obviamente, a nível nacional.
Num balanço geral, há que mencionar de novo a aposta no toureio a pé e nas corridas mistas e o cuidado imposto na composição dos cartéis, na globalidade atractivos e bem rematados. Houve ausências notadas, como as de Diego Ventura e de João Ribeiro Telles, que suscitaram mesmo alguma polémica e também trocas de mimos entre a empresa e os próprios toureiros ou seus apoderados.
O fenómeno Padilla, que se tornou no novo ídolo da aficion nacional, acabou por expirar na quarta actuação do jerezano, em Setembro, onde passou de bestial a besta e foi alvo de uma das maiores broncas dos últimos tempos. Por Lisboa passaram as grandes figuras do toureio a cavalo e no que respeita ao toureio a pé há que destacar a histórica noite de Manzanares em Julho e também as presenças marcantes de António Ferrera, "El Fandi", Juan del Álamo e do português Manuel Dias Gomes, único matador luso que este ano toureou no Campo Pequeno, triunfando forte na noite da bronca a Padilla.
António M. Cardoso "Nené"
Decano dos empresários taurinos nacionais em actividade, António Manuel Cardoso "Nené" (Toiros & Tauromaquia) manteve em 2017 a liderança dos que ainda simbolizam e engrandecem a imagem de um passado glorioso dos grandes empresários tauromáquicos nacionais.
Gestor taurino "à antiga", intocável na seriedade dos cartéis que monta e, sobretudo, dos toiros que apresente, o veterano "Nené" levou o barco a bom porto nas praças de Alcochete e de Évora e em algumas outras organizações, como por exemplo a corrida que levou a efeito em Vendas Novas. Cartéis cuidados, bem rematados e sempre a garantia do toiro-toiro continuam a ser as tónicas da exemplar actividade deste sério empresário que um ano mais marcou a diferença.
João Pedro Bolota
Depois de ter sido conhecido como "o empresário da praças cheias", João Pedro Bolota (Aplaudir) conheceu algum declínio na sua actividade em 2016, sobretudo na gestão da praça da Moita (que acabou por perder), mas esta temporada voltou a levantar a cabeça e a mostrar que está vivo e bem vivo.
Os cartelazos que montou na Feira de Santarém foram a nota mais alta do seu labor empresarial em 2017, havendo só a lamentar que o público não tenho correspondido, como se impunha e desejava, aos ousados elencos que montou com as maiores figuras de Espanha e de Portugal.
Na Monumental do Montijo (em parceria com Abel Correia) levou a efeito as corridas habituais, destacando-se as duas que compuseram a Feira de S. Pedro e na Póvoa de Varzim voltou a marcar a temporada nortenha com a realização da usual Corrida TV/Norte, em parceria com a Casa do Pessoal da RTP.
Por ser um empresário agressivo, sério e aficionado, muito se continua a esperar de si em 2018.
Simão Comenda e Paulo Vacas de Carvalho
Apesar de actualmente e desde há alguns anos organizarem apenas uma corrida de toiros anual, a da Feira de Setembro em Montemor-o-Novo, os empresários Simão Comenda e Paulo Vacas de Carvalho (Montemor é Praça Cheia) continuam a destacar-se pelo empenho, pela seriedade e pelo bom gosto com que levam a efeito esta sua já histórica organização.
Bons toiros (de António Silva), competição entre destacados cavaleiros (este ano, António Telles, João Moura Jr. e João Ribeiro Telles, os grandes triunfadores do ano) e a tradicional tarde de consagração dos Forcados Amadores de Montemor voltaram a marcar aquela que é uma das mais esperadas e mais importantes corridas da temporada, pelo que é de inteira justiça destacar no ano que passa o dedicado e sério labor desta dupla triunfadora.
Rafael Vilhais
É a mais recente e agradável novidade da classe empresarial taurina nacional. A seriedade e o empenho que põe nas suas organizações estão a dar frutos altamente positivos. Levantou as praças de Salvaterra de Magos (esgotada na Tourada Real e cheia em Maio no Concurso de Ganadarias) e de Beja (esgotada na corrida de Agosto) com cartéis ousados, atrevidos e muito bem rematados.
Brilhou também nas Caldas da Rainha e o único Calcanhar de Aquiles de Rafael Vilhais foi mesmo a praça da Moita, onde não conseguiu encher em Maio com o "mano-a-mano" Ventura/Roca Rey e onde conheceu o fracasso na Feira de Setembro, com as casas mais fracas dos últimos anos. Uma praça e uma gestão que Rafael Vilhais vai ter que reajustar e modificar em 2018.
Paulo Pessoa de Carvalho
Jovem e empreendedor empresário, ex-forcado de valor dos grupos das Caldas e de Montemor, Paulo Pessoa de Carvalho destacou-se durante vários anos à frente da praça das Caldas da Rainha e atirou-se depois para vôos mais arriscados e de muito maior responsabilidade, nem sempre sendo bem sucedido.
Foi o caso de Vila Franca, cuja Feira de Outubro andou mais ou menos à deriva pela péssima qualidade dos toiros, havendo mesmo a registar uma bronca monumental na nocturna de terça-feira, que o terá feito perder a "Palha Blanco". A culpa, que Paulo Pessoa nunca esclareceu devidamente (o que teria abonado em ser favor e poderia mesmo ter limpo a má imagem que acabou por deixar), foi atribuída à ganadaria de Santa Maria, que terá mandado para Vila Franca toiros que não tinham sido escolhidos e o caso, diz-se, segue dentro de momentos na barra dos tribunais.
De resto, Paulo Pessoa honrou com a usual seriedade os seus outros compromissos. Encheu Vila Franca pelo Colete Encarnado com Padilla e as corridas que montou na Chamusca e em Vinhais também nada tiveram a apontar.
Deixará certamente de estar ao leme da praça de Vila Franca, mas nem por isso perderá a sua notoriedade e a sua credibilidade de bom empresário no ano que arranca amanhã. Por morrer uma andorinha nunca acabou a Primavera.
Fernando dos Santos
Mantém o estatuto inabalável de ser o empresário que mais festejos organiza por ano, sobretudo na Monumental de Albufeira e também o estatuto de gestor taurino que mais aposta na juventude e que mais oportunidades dá aos novos, levando a efeito o maior número de novilhadas e festejos populares que se realizam por ano em Portugal.
Nem sempre bem conseguida, a sua nova aventura empresarial na praça de toiros da Nazaré teve também, um ano mais, o cunho vincado da sua personalidade de grande aficionado, organizando elencos bem rematados e que marcaram a época de Verão nessa carismática arena.
Ricardo Levesinho
Iniciou a sua actividade empresarial na praça da sua terra, a de Vila Franca, desenvolvendo um trabalho notável ao longo de vários anos - e diz-se que pode regressar em 2018 à "Palha Blanco", o que seria de inteira justiça e faria todo o sentido.
Enquanto isso, Ricardo Levesinho (Tauroleve) geriu a praça de toiros da Figueira da Foz, onde deverá permanecer, levando a efeito três corridas, de que sobressaíu a última, televisionada pela RTP e com um cartel de seis cavaleiros mais ao gosto do público do Coliseu Figueirense.
É um empresário com credibilidade e obra feita e por isso mesmo muito se espera dele em 2018.
José Luis Gomes
Antigo cabo dos Forcados Amadores de Lisboa, posto em que sucedeu ao histórico Nuno Salvação Barreto, José Luis Gomes iniciou há uns anos a sua actividade empresarial e tem sobressaído na gestão da praça de Sobral de Monte Agraço com as organizações cuidadas do tradicional Festival Taurino de 25 de Abril e com a corrida da Feira de Setembro, que este ano voltou a ter lotação esgotada.
Menos sorte teve noutros empreendimentos, como foi o caso da praça de toiros do Cartaxo, de que se tornou adjudicatário no início do ano, acabando por desistir depois de algum insucesso nos primeiros espectáculos que montou. No início do ano, assumira também a gestão da praça alentejana de Alpalhão, em parceria com Paulo Pessoa de Carvalho, mas acabaram por não levar a efeito nenhum espectáculo.
Em 2018 manter-se-à ao leme da praça do Sobral e diz-se que tem outro projecto grande provável numa outra praça a que se irá candidatar...
De Caras Tauromaquia
Composta por dois novos empresários, ex-forcados de Coruche, esta empresa denominada De Caras Tauromaquia foi uma das agradáveis surpresas da temporada de 2017, gerindo a Monumental de Coruche com resultados brilhantes, destacando-se a tradicional corrida de 17 de Agosto em que se homenageou a memória de Mestre David Ribeiro Telles e a de Setembro com sérios toiros da ganadaria Palha.
O trabalho dos novos empresários foi notável e engrandeceu o prestígio da praça de toiros do Sorraia, dizendo-se agora que pode haver a possibilidade desta dupla empresarial se vir a candidatar a uma outra praça.
Outros empresários em destaque
Para lá dos que referimos anteriormente, outros empresários se destacaram nesta temporada de 2017, havendo a realçar os primeiros e bons cartéis do ano levados a efeito pelo Dr. Joaquim Grave em Mourão; as boas corridas organizadas por Rui Palma, um jovem e empreendedor empresário com sucessos marcantes nos festejos que levou a efeito em Montemor-o-Novo em Maio (onde deverá voltar a organizar uma corrida no próximo ano), em São Manços (onde continua) e na Messejana, entre outros; bem como as usuais organizações de Vasco Durão (Verdadeira Festa) nas praças de Reguengos de Monsaraz, de Alcácer do Sal e da Amareleja, a que vai juntar no próximo ano a gestão da praça de Estremoz.
Destaque, ainda, para Luis Miguel Pombeiro, na sempre cuidada gestão da praça de toiros de Idanha-a-Nova, onde este ano organizou apenas uma corrida, mas que foi um êxito; e para o Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande, da Praia da Vitória, Ilha Terceira, belas duas bem montadas corridas que em Agosto marcaram na Monumental de Angra do Heroísmo as Festas da Praia; bem como para a Tertúlia Tauromáquica Terceirense pela montagem da tradicional Feira Taurina das Sanjoaninas, em Junho em Angra.
Fotos D.R. e Maria Mil-Homens