sábado, 25 de agosto de 2018

Corrida TVI: João Moura Jr. e Forcados de Vila Franca fizeram ontem a diferença

Grande ambiente, praça cheia e mais uma importante jornada de afirmação da
Festa e da temporada "torista" do Campo Pequeno, com uma mensagem
significativa: as corridas à sexta-feira levam mais gente à praça. Pensem nisso
e mudem a tradição. As tradições caducas deixam de ter sentido
Margarida Vitória Pereira, directora da TVI, recebeu da empresa do Campo Pequeno
ao início da corrida a homenagem aos 25 anos da estação líder de audiências
Mestre Luis Miguel da Veiga cortou a coleta ao seu antigo e dedicado
bandarilheiro João Boeiro, que recebeu muito bem o primeiro toiro da corrida.
Momento emotivo e a que faltou só uma merecida última volta à arena do
valoroso toureiro de Alhandra
A cátedra e a maestria de António Ribeiro Telles, que provou ontem uma vez
mais que pode e dá a volta a todos os toiros. Enfrentou dois Graves reservados
e que cedo se refugiaram em tábuas. Mas disse-lhes: "Estou aqui!"
Luis Rouxinol não esteve no seu melhor na lide do
segundo toiro da noite e no quinto começou aliviado
nos compridos, acabando depois por protagonizar
nos curtos uma actuação empolgante e que Lisboa
aplaudiu de pé
Público de pé a aclamar Moura Jr.
João Moura Jr. marcou ontem claramente a diferença
sobretudo na lide do último toiro. Levou o público ao
delírio


Grande ambiente, praça cheia e muita seriedade imposta pelos toiros de Murteira Grave - que, apesar das expectativas, da presença e do trapio dignos de qualquer primeira praça do mundo, ficaram além do que se esperava no que a investidas e comportamento diz respeito. Não foi o êxito desejado pelo ganadeiro e pelo público. João Moura Jr. marcou a diferença e os Forcados de Vila Franca tiveram uma noite de glória. Imensa. Foi mais uma jornada importante de afirmação da Festa, com transmissão (em diferido) pela TVI 

Miguel Alvarenga - Foram sérios, muito sérios mesmo, os toiros de Murteira Grave lidados ontem no Campo Pequeno na Corrida TVI. Encastados, com imenso trapio, dignos de qualquer primeira praça do mundo, dando continuidade ao lema “torista” que está a dominar a temporada de Lisboa. Mas na maioria dos casos, foram apenas sérios, exigentes, bem apresentados, dando emoção. Mas pouca luta. Sem rematar e sem as investidas que caracterizam esta histórica ganadaria. Distraídos, cheios de sentido em tudo, mas sem se empenharem a fundo, alguns mesmo procurando o refúgio em tábuas, cavalgando ao lado dos cavalos. Não foi o êxito que se esperava da ganadaria. Bateram forte e feio nos forcados. De nota alta os dois últimos.
Foi uma corrida dura, sim senhor. Mas menos brava do que se esperava - e se espera sempre dos Murteira Grave.
Valeu mais ontem mais o empenho e a maestria com que os três cavaleiros os enfrentaram - e na maioria dos casos estiveram por cima deles. E valeu a noite de glória dos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira - que grande grupo!

Cátedra e maestria 
do grande António

António Ribeiro Telles deu a volta aos seus dois oponentes, distraídos e a procurar o refúgio nas tábuas. No primeiro, resolveu o assunto com sortes segadas e ousadas. Ao seu segundo, pisou terrenos de compromisso e assim logrou provocar as investidas, conseguindo ferros “à António” que levantaram o público das bancadas.
António é um Mestre e pode com todos os toiros. Esteve brilhante a lidar, superando as dificuldades que os toiros lhe puseram. Sobretudo, repito, no primeiro. Uma estampa com 640 quilos, merecidamente aplaudido mal entrou na arena, mas que depois veio a menos e se ficou por tábuas.

Ainda e sempre,
o valor tremendo de Rouxinol

Luis Rouxinol esteve algo aquém do seu melhor no primeiro toiro do seu lote, toiro complicado e de investidas pouco claras. No segundo, começou aliviado (íssimo!) nos compridos, mas cresceu depois nos curtos e esteve exuberante numa lide empolgante.
É incrível como um toureiro com a sua idade continua todos os dias a dar a cara como se fosse a primeira vez. Rouxinol é, ainda e sempre, um toureiro de uma entrega, de uma raça e de um profissionalismo que não têm limites nem fronteiras, que bradam aos céus e são, afinal, há muitos anos, a razão maior de ser do seu sucesso, da sua afirmação, de ter chegado onde chegou - e como chegou. A tragar todos os dias, como se fosse sempre o primeiro.

O esplendor eterno 
do toureio mourista

João Moura Júnior cravou um ferro memorável, o quarto curto, ao seu primeiro toiro, um oponente que pouco se empenhou. No sexto, marcou a diferença. O toiro cresceu depois de Moura lhe ter provocado com destemida valentia as investidas, correndo em sua direcção de praça a praça, cravando de poder a poder num palmo de terreno. Emocionou e fez explodir o público.
Moura Júnior alcançou já um invejável patamar e defende a sua posição com a firmeza e a serenidade dos eleitos. Ontem protagonizou mais uma noite grande de afirmação frente a toiros que exigiram, nem sempre foram claros e que ele obrigou a investir, pondo a carne toda no assador, abrindo o livro, elevando bem alto a tauromaquia mourista e essa forma tão distinta de lidar e mexer com os toiros. Noite de (re)afirmação de Moura Jr. como o primeiro da nova geração!

Forcados de Vila Franca
em noite de triunfo rotundo

Noite de glória para os heróicos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira - ainda e sempre, um grupo e peras. Ainda e sempre um dos grandes grupos deste país.
Foi enorme, assombrosa, a pega de Vasco Pereira, futuro cabo dos vilafranquenses. Um verdadeiro hino à nobre arte de pegar toiros. O toiro de Murteira Grave, que pouco se empenhara na lide, guardou todas as suas forças para o confronto com os forcados. Vasco citou-o com a tranquilidade que o caracteriza, pisou-lhe os terrenos, mandou-o vir quando quis e depois fechou-se com um par de braços que quase não é possível. Aguentou e aguentou os fortíssimos derrotes, até que foi “tirado de cena” com violência e sem que os companheiros o pudessem evitar.
Na segunda tentativa, voltou a agigantar-se e a fechar-se com braços de ferro, aguentando de novo dois fortíssimos derrotes sem sair. O grupo fechou com tremenda coesão e decisão. Deu depois uma muito aplaudida volta à arena com António Telles e deveria ter dado outra, e outra, e outra. Enorme!
Márcio Francisco foi o forcado de cara dos Amadores de Vila Franca na segunda pega do grupo, ao terceiro toiro da noite. Forcado de créditos firmados e também de um valor sem fronteiras, consumou igualmente à segunda, depois de violentamente derrotado na primeira tentativa. Outra pega grande.
Para a cara do quinto toiro foi outro forcado de eleição. E de dinastia. Francisco Faria provocou a investida do toiro, recuou a mandar e a templar e fechou-se com decisão, executando à primeira outro pegão e assim encerrando com chave de ouro um triunfo rotundo do grupo.

Mathias salva honra 
do convento moitense

O Aposento da Moita, que pouco tem actuado esta temporada (incompreensivelmente), acusou precisamente a pouca actividade que tem tido e não teve uma noite brilhante.
Ruben Serafim saíu lesionado ao tentar pegar o segundo toiro da corrida e foi dobrado por Marco Ventura, que consumou à quinta, a sesgo, com os ajudas “em cima” e sem o brilho que se queria.
O cabo José Maria Bettencourt não deu ontem conta do recado, como costuma dar, ele que é um forcado experiente e de um poderio acima da média. Pegou o quarto toiro à terceira.
Leonardo Mathias acabaria por salvar a honra do convento moitense com uma pega de eleição ao último toiro da noite, à primeira e, aqui sim, com o grupo a ajudar como nos velhos tempos. É um grande forcado, diz-se que será o próximo cabo do Aposento da Moita e a verdade é que ontem foi ele quem devolveu ao grupo o ânimo que esteve à beira de se perder.

Boieiro merecia a volta

O consagrado bandarilheiro João Boieiro despediu-se ontem das arenas no final da lide do primeiro toiro, que recebeu bem com o capote. Mestre Luis Miguel da Veiga, a cuja quadrilha pertenceu durante onze anos, cortou-lhe a coleta em cerimónia breve e simples, mas emotiva, como é natural quando um toureiro põe termo à sua carreira. Boieiro agradeceu nos médios a forte ovação que o público lhe tributou. Ficou por dar a última volta à arena - que tinha sido merecida.
Ao início da corrida, no final das cortesias - em que se guardou um minuto de silêncio em memória do bandarilheiro António José Martins, falecido há uma semana -, a Administração do Campo Pequeno prestou homenagem aos 25 anos da TVI, entregando uma lembrança alusiva à efeméride à sua directora Margarida Vitória Pereira, a quem depois os forcados e Moura Jr. brindaram.
A corrida foi superiormente dirigida por Pedro Reinhardt, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva, decorrendo em bom ritmo e sem demoras.
A praça encheu (sem esgotar), houve um ambiente e um calor humano que é preciso destacar e, a meu ver, ficou provado que as corridas à sexta-feira são bem capazes de levar mais gente ao Campo Pequeno do que à quinta. Há tradições que, por já não terem o sentido de outros tempos, é necessário e urgente mudar. E esta é uma delas.

Fotos Emílio de Jesus