José Boto e a Mulher de Joaquim Bastinhas, Helena Nabeiro Tenório, foram os únicos que assistiram na segunda-feira ao momento da morte do famoso toureiro na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa
"Nunca tinha visto uma pessoa morrer e impressionou-me imenso, mais a mais sendo um amigo tão querido", disse ontem ao "Farpas" o aficionado de Sousel José Boto (foto ao lado), um amigo de infância de Joaquim Bastinhas que acompanhou nas últimas semanas todo o drama vivido pela família no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde o toureiro estava internado desde o início de Novembro e onde morreu pouco passava das seis da tarde no último dia do ano.
"De manhã os médicos disseram que estava por horas, já não tinha oxigenação, os orgãos estavam todos em falência, não havia nada a fazer para o salvar", conta o amigo.
José Boto e Helena Nabeiro Tenório, a Mulher de Joaquim Bastinhas, foram os únicos que assistiram na Unidade de Cuidados Intensivos ao momento da morte do mais querido e mais popular dos toureiro nacionais.
"De repente a máquina começou a apitar por todos os lados e ficou amarela. A enfermeira disse-nos que tinha chegado ao fim", prossegue José Boto.
Lá fora estavam também os filhos do toureiro, Marcos e Ivan. E o crítico taurino Maurício do Vale, que chegara poucos minutos antes ao hospital para estar uns momentos junto da família.
"Quando cheguei saíu o Marcos a chorar e a dizer que o pai tinha acabado de morrer", disse-nos o antigo comentador taurino da RTP.
Joaquim Bastinhas estava aparentemente bem quando no dia 3 de Novembro ainda esteve na Feira da Golegã. Nos últimos tempos e depois de em Setembro ter obtido um memorável e recordado triunfo no Coliseu de Elvas, naquela que acabou por ser a sua última corrida, queixava-se de espasmos e dores do estômago e foi isso que motivou que nesse mesmo dia viesse a Lisboa a uma consulta que tinha marcada no Hospital de Cruz Vermelha. Mas acabou por ficar internado depois de lhe diagnosticarem um pólipo nos intestinos e nessa semana foi operado.
No período pós-operatório surgiram entretanto várias complicações e dois dias depois foi novamente operado, situação que se viria a repetir ainda mais duas vezes, sempre devido ao agravamento do seu estado.
"Uma operação aos intestinos acarreta sempre um elevado grau de probabilidades de se soltarem bactérias infecciosas (do próprio intestino) que se alojam e infectam outros orgãos", explicou ao "Farpas" um médico que, sem ter propriamente conhecimento de todo o processo que envolveu o agravamento do estado de saúde de Joaquim Bastinhas, nos adiantou que "pode ter sido isso que aconteceu e que provocou uma septicemia a que o doente acabou por não resistir".
A realidade é que Bastinhas lutou pela vida durante dois meses, acabando por morrer no último dia do ano.
"O Joaquim Manuel não esteve sempre em coma, esteve muitas vezes consciente e estava muito bem de cabeça. Não podia falar por estar entubado, mas reconhecia-nos a todos, gesticulava, procurava sempre transmitir-nos qualquer coisa. Nós íamos vê-lo através de um vidro e falávamos com ele. Uma enfermeira chegou a pensar que eu era irmão dele e um dia perguntou-lhe: 'Está a reconhecer ali o seu irmnão?' e ele dizia que não com a cabeça. E a enfermeira depois, comentou, muito triste, que o Joaquim Manuel não reconhecera o irmão, quando o que ele queria dizer era que eu não era seu irmão. Depois expliquei isso à enfermeira", conta José Boto.
"Nos últimos dias ainda lhe disse: 'Vá, despacha-te que estás quase a sair daqui (dos Cuidados Intensivos) e a ir para um quarto e não tarda estás em casa!'. E ele disse que não com a cabeça. Penso que estava plenamente consciente da gravidade da situação. Mas estava muito lúcido. Só nos últimos dois dias é que piorou e não mais deu sinal de si", acrescenta o amigo.
"Estávamos todos preparados, os médicos na segunda-feira prepararam a família para o que iria acontecer. Houve dias em que melhorou, depois piorava, depois melhorava outra vez, mas na segunda-feira os médicos disseram mesmo que já não havia nada a fazer, os orgãos já estavam em falência e o tempo estava a esgotar-se", diz José Boto. E termina:
"Morreu em paz, serenamente, pura e simplesmente apagou-se como uma vela".
A urna estava ontem aberta e muitos puderam confirmar a serenidade do rosto de Joaquim Bastinhas. "É um anjo que ali está a dormir", dizia o crítico tauromáquico Hugo Teixeira.
Fotos D.R. e Emílio de Jesus