sábado, 5 de dezembro de 2020

Casas/Pombeiro: a importante união que vai revolucionar a tauromaquia

"Sí, me voy a incorporar a la gestión de Lisboa". Esta revelação feita por Simón Casas - apenas e só, há vários anos, o maior produtor mundial de espectáculos tauromáquicos - na passada quinta-feira, ao site espanhol aplausos.es, deixou o mundo português em alvoroço.

Dois dias antes, Simón Casas e Luis Miguel Pombeiro, gestor da Monumental de Lisboa, estiveram reunidos num almoço numa afamada cervejaria em Sevilha e o "Farpas" dera em tempo útil a notícia deste encontro em primeiríssima mão. O encontro de Casas e Pombeiro foi ocasionalmente testemunhado pelo empresário taurino português Vasco Durão, que se encontrava a almoçar no mesmo restaurante.

Dois dias depois desse almoço, Simón Casas divulgou, de acordo com Luis Miguel Pombeiro, o segredo que ambos tinham guardado e acertado só revelar com mais alguns pormenores na quinta-feira. 

O site mundotoro.com adiantou também nesse dia que o encontro entre os dois gestores das três principais praças de toiros europeias - Madrid, Lisboa e Nimes - teve por objectivo "analisar a perspectiva de uma estreia colaboração entre as suas empresas com o fim de potenciar a capital portuguesa do toureio e a defesa e a promoção internacional da tauromaquia", acrescentando que "os dois produtores coincidiram nas suas visões de trabalho e na oportunidade de juntar os seus meios para favorecer as suas políticas de programações e conceitos criativos".

Não existe propriamente uma sociedade entre ambos, Pombeiro reafirma que a empresa Ovação e Palmas, gestora da praça de toiros de Lisboa e de outras, "é só sua" e que "não tem sócios" no Campo Pequeno. O antigo cavaleiro Manuel Jorge de Oliveira (que chegou a ser anunciado como sócio da Ovação e Palmas na gestão da Monumental de Lisboa) é apenas sócio de Pombeiro na praça do Cartaxo.

Luis Miguel Pombeiro confirma que Simón Casas se vai "incorporar na gestão" da primeira praça de toiros de Portugal no âmbito de uma parceria que ambos assumiram esta semana em Sevilha e que visa potencializar a importância da Monumental de Lisboa, a Catedral do Toureio a Cavalo, através de uma "união mútua" que vai passar pela contratação de toureiros espanhóis e franceses para Portugal e de toureiros lusos para Espanha e França.

Nesta importante união de esforços e de estratégias assumida por Simón Casas e Luis Miguel Pombeiro, não está excluída também a possibilidade da intervenção do empresário português na produção de algumas corridas conjuntas com o famoso empresário francês além-fronteiras.

Simón Casas e Luis Miguel Pombeiro voltarão a reunir no início do próximo ano, desta vez em Lisboa, onde projectam promover uma conferência de imprensa para anunciar os seus objectivos comuns na defesa e promoção internacional da tauromaquia.

Elevada a um patamar de grande destaque e visibilidade em todo o mundo taurino por Rui Bento, nos catorze anos em que a geriu, a Monumental Praça de Toiros de Lisboa conhecerá a partir de agora um novo fulgor através da incorporação de Simón Casas na sua gestão. Luis Miguel Pombeiro continua sendo o gestor taurino da Catedral, mas tem agora a seu lado uma importantíssima mais valia chamada Simón Casas - que, por seu turno, pode desfrutar também em algumas das suas produções além-fronteiras da experiência e da categoria daquele que foi, nesta temporada atípica da pandemia, o empresário taurino do ano em Portugal.

Trata-se, obviamente, de uma união de esforços que muito vem valorizar a Monumental de Lisboa e, ao mesmo tempo, inflaccionar ainda mais a importância de Simón Casas como principal produtor mundial de espectáculos (tauromáquicos e não só) e também a importância de Luis Miguel Pombeiro como primeiro dos empresários taurinos nacionais. É, acima de tudo, uma parceria - inesperada e surpreendente para muitos, mas que já vinha sendo abordada há alguns meses - de vital importância para a tauromaquia a nível mundial.

Quem é Simón Casas: de espontâneo 

a principal promotor mundial de tauromaquia

Natural da cidade francesa de Nimes, de seu verdadeiro nome Bernard Domb Cazes, mas utilizando há muitos anos o nome artístico de Simón Casas, é filho de pai polaco e mãe judia e, pelo lado materno, as suas raízes vêm de Toledo espanhol do século XV. A expulsão em, 1492 acabou com o êxodo na Turquia e o regresso à Europa, mais concretamente a Nimes. E foi na cidade francesa que o então jovem Bernard sonhou ser toureiro.

Blanquito, seu primeiro apoderado, substituiu Cazes por Casas e como Bernard e Domb não soavam a nomes de toureiros, baptizou-o com o nome artístico de Simón Casas.

Na sua história há o episódio de ter saltado de espontâneo à arena de Nimes quando toureava o célebre António Ordoñez, nos anos 60. Em 1967 estreou-se como novilheiro na Monumental de Madrid, cortando uma orelha. Ainda como novilheiro, chegou a tourear em Portugal na desaparecida Monumental de Cascais. E depois de uma campanha de triunfos em parelha com o também matador francês "Nimeño", tomou a alternativa de matador de toiros em Nimes em Maio de  1975, apadrinhado por Ángel Teruel, com o testemunho de Paco Alcalde, frente a toiros de Dionísio Rodríguez, convertendo-se no primeiro toureiro a doutorar-se no antigo coliseu romano. No dia seguinte a tomar a alternativa, anunciou que se retirava do toureio.

E depois dessa experiência como toureiro, decide tornar-se empresário, iniciando uma trajectória que se viria a revelar única, no início dos anos 70, em Bayonne, ao lado do famoso Manolo Chopera. Passou também a ser apoderado de toureiros, o primeiro dos quais foi o sevilhano Emílio Muñoz. Pelas suas mãos passaram depois toureiros tão importantes como Curro Vásquez, José Maria Manzanares (pai), Cristina Sánchez, Finito de Córdoba, Uceda Leal, Júlio Aparício, Javier Conde, Daniel Luque, David Mora e outros. Lançou a rejoneadora Marie Sara e actualmente apodera Lea Vicens e os matadores Juan Leal e Sebastián Castella (que este ano anunciou retirar-se das arenas e é agora seu sócio na gestão da praça de Béziers). 

Na sua já longa e emblemática trajectória como empresário - prefere que o refiram como produtor - destacam-se ainda as suas excelentes relações e as importantes campanhas que promoveu com toureiros tão importantes como Paco Ojeda, José Tomás ou "El Juli".

Simon Casas é também escritor e autor de cinco livros de temática taurina. Actualmente gere as praças de toiros de Madrid (associado à empresa Nautalia, depois de também ter estado na anterior adjudicação de Las Ventas com a Taurodelta de Martínez Uranga) e a de Nimes e ainda outras em Espanha (Valência e Alicante, por exemplo) e em França.

Simón Casas é um produtor diferente - de todo o tipo de espectáculos, incluindo os de tauromaquia. Em Nimes, por exemplo, tem dado particular categoria ao espectáculo tauromáquico, associando-o às grandes figuras da Cultura mundial, que por norma convida a dar palestras integradas nas feiras taurinas. Casos de Mário Vargas Llosa, Albert Boadella ou Fernando Sánchez Dragó.

Fotos D.R.

A confirmação da notícia avançada dois dias antes pelo
"Farpas", no site "Aplausos"

Simón Casas no Campo Pequeno em 2016 (com Rui Bento),
quando aqui esteve pela última vez, como apoderado da
rejoneadora francesa Lea Vicens
A alternativa de matador de Simón Casas em Nimes (1975).
No dia seguinte, anunciou que se retirava das arenas e pouco
depois deu início a uma das mais importantes trajectórias
empresariais no mundo da tauromaquia