sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Monumental de Albufeira não dá mais corridas: negócio foi concretizado em Julho do ano passado



É agora um dado adquirido e já não há volta a dar. A emblemática praça de toiros Monumental de Albufeira, inaugurada em 10 de Abril de 1982 e que foi palco dos primeiros passos de quase todas as actuais figuras do toureio a cavalo e a pé, vai ser desactivada pela empresa imobiliária que a comprou.

A notícia, avançada no início da semana pelo site "Touro e Ouro", foi ontem confirmada à agência Lusa pela empresa Corcova - Investimentos Turístico e Imobiliários, SA, que em Julho do ano passado concretizou o negócio de compra do imóvel e o pretende transformar num complexo turístico, confirmando que "em termos de estrutura de touradas, terminou".

Há já mais de dez anos que o empresário e antigo matador de toiros Fernando dos Santos, proprietário da Monumental, a vendera a uma outra empresa, mantendo contudo o escritório, um apartamento existente na praça e ficando com o usufruto para a realização de corridas de toiros durante 50 anos. A empresa Corcova, neste segundo negócio, adquiriu também esses espaços ao antigo toureiro, terminando também o usufruto de que beneficiara no anterior negócio.

Em declarações, ontem, ao site "Tauronews", Sofia Gamboa, filha de Fernando dos Santos e que ultimamente era a responsável pela gestão da praça de toiros juntamente com seu marido, o cavaleiro Tito Semedo, confirmou: "Vendemos a praça… Primeiro já não se podia fazer publicidade, segundo com a pandemia isto piorou e acabou por ser uma oportunidade de negócio. O apoio no Algarve não era nenhum. Sinto-me muito triste, vai ficar uma mágoa para a vida toda, eu fui criada ali".

A Monumental de Albufeira, única praça de toiros fixa do Algarve, sucedeu a uma desmontável ali instalada no mesmo lugar nos finais dos anos 70 por Fernando dos Santos, que anteriormente tivera em funcionamento uma outra portátil em Alvor. Foi inaugurada a 10 de Abril de 1982 com uma corrida de cartel internacional em que tomaram parte o rejoneador espanhol Ángel Peralta, os cavaleiros lusos José Mestre Batista e José Zuquete, o próprio Fernando dos Santos e o célebre matador espanhol Paco Camino, tendo pegado os Forcados Amadores de Beja, capitaneados ao tempo pelo emblemático forcado João Marujo Caixinha.

Entre novilhadas e corridas de toiros, a Monumental de Albufeira era a praça que mais espectáculos tauromáquicos levava a efeito em cada temporada. Encerrada no ano passado pela falta de turistas devido à pandemia, o último festejo que ali teve lugar foi uma novilhada em 25 de Outubro de 2019. Nesse último ano em que esteve activa e segundo o relatório da Inspecção-Geral das Actividades Culturais, a praça algarvia foi a que mais espectáculos realizou, num total de vinte.

Para a construir e inaugurar, o empresário Fernando dos Santos beneficiou, ao tempo, de empréstimos a fundo perdido e outros com juros bonificados que foram atribuídos pelo então secretário de Estado do Turismo, Luis Nandim de Carvalho. Fonte próxima de todo esse processo recordou hoje ao "Farpas" que existia a obrigatoriedade de o recinto ter como prioridade a realização de corridas de toiros, pelo que este volte-face verificado com o actual negócio (fechado, como dissemos, em Julho do ano passado) pode ainda fazer correr alguma tinta. Ou não.

Fotos D.R., Emílio de Jesus/Arquivo e M. Alvarenga

O então secretário de Estado do Turismo, Nandim de Carvalho
(à direita) com Fernando dos Santos no dia da inauguração
da Monumental de Albufeira, vendo-se ainda na foto o
cavaleiro José Zuquete e o crítico taurino Quito Fernandes
O antigo matador de toiros Fernando dos Santos
inaugurou a Monumental de Albufeira há 39 anos