Jaime Amante - Na Ilha da Madeira também nasceram toureiros… Na Venezuela, reside uma das maiores comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo. Estima-se que residam, neste país, cerca de 300 mil madeirenses ou luso-descendentes, num total de 500 mil portugueses.
O fluxo migratório de portugueses para a Venezuela iniciou-se na década de 40 e prolongou-se até meados dos anos 80.
Entre os anos de 1950 a 1969, chegaram ao território venezuelano 73.554 portugueses, dos quais 38.737 madeirenses, 17.286 aveirenses, 7.214 portuenses e os restantes provenientes de outros distritos do país.
Num primeiro momento, estes imigrantes dedicaram-se sobretudo, à agricultura. Contudo, a partir dos finais dos anos 40, a grande maioria passou a desenvolver a sua actividade ligada ao comércio - essencialmente de alimentos e mais tarde começou a diversificar a sua ocupação profissional, enveredando pela pequena e média indústria, sobretudo no sector manufatureiro.
Na História recente da Venezuela existiram e existem luso-venezuelanos a desempenhar as mais diversas profissões: empresários, arquitetos, engenheiros, advogados, economistas, professores, médicos, eclesiásticos, militares e naturalmente toureiros.
Pepe Câmara a Carlos Pita, matadores madeirenses
Na Venezuela o toureio nasceu no campo, produto do meio rural e agropecuário, crescendo paredes meias com os toiros coleados (actividade muito idêntica aos Rodeios e Charros Mexicanos) nas
capeas com gado criollo, espalhadas pelos Vales de Tuy e Aragua, nas savanas de Carabobo e nas planícies de Apure, Guárico,e Anzoátegui. As Festa Religiosas no interior profundo, nos lugarejos do sopé Andino e nas localidades taurinas nos Departamentos de Táchira e Mérida. Terras venezuelanas que vibraram e aplaudiram muitos aspirantes a toureiros. Terra taurina por excelência que viu nascer grandes toureiros.
Na vasta lista de toureiros venezuelanos ou luso-venezuelanos um nome é referência, José Manuel Sá da Câmara vulgarmente conhecido no meio taurino por Pepe Câmara, matador de toiros nascido em Canhas no Concelho de Ponta do Sol na Ilha da Madeira.
O que talvez seja surpreendente ao comum aficionado é que a pequena povoação madeirense (Canhas) viu nascer outro matador de toiros luso-venezuelano de seu nome Carlos Pita Pauleiro.
Nasceu em Canhas - (Ponta do Sol) Ilha da Madeira, a 19 de Outubro de 1954.
Percorre o habitual trajecto de capeas e novilhadas sem cavalos por terras venezuelanas. A 14 de Março de 1975 apresenta-se pela primeira vez em Caracas no Nuevo Circo.
Reparte cartel com Victoriano Garrido, José Brizuela “Curro de Barinas”, Fernando Cáceres, Ender Guerra e José Gregório Sebastián. Lidam-se nessa tarde seis novilhos criollos.
Viaja para Espanha onde se apresenta com picadores durante o ano de 1978. Apresenta-se em Madrid - Las Ventas no taurino dia de 15 de Agosto de 1980. Lidam-se nessa tarde quatro novilhos de António Arribas e dois de Garcia Romero Hermanos. Tem como companheiros o rejoneador Gregorio Muñóz “El Rubio” e José Maguilla “El Gallo de Morón”.
No final da temporada de 1980, a 25 de Outubro, recebe alternativa em Madridejos (Toledo). Tem como padrinho Andrés Vázquez e testemunha Pedro Fernandez “Niño de Aranjuez". Lidam-se três toiros de Alonso Moreno de la Cova, dois de Ana Romero e um de Terrubias.
Regressa à sua terra adoptiva, onde se apresenta a 15 de Novembro de 1980, em Maracaibo no Departamento de Zulia - na que seria a sua primeira corrida como matador de toiros. Alterna com o rejoneador Oky Botero e com os companheiros Francisco Rivera “Paquirri” e José Nelo “Morenito de Maracay”. Lidam-se seis toiros colombianos de Dosgutiérrez.
Apresenta-se em Caracas - Plaza de Toiros “Nuevo Circo” a 28 de Março de 1982. Cartel de luxo com o Maestro Pedro Moya “Niño de la Capea” e o seu conterrâneo Pepe Câmara. Debutou com “Fusilero”, número 728, de 446 quilos, assim como os restantes, com ferro de Halma Valencia.
Percorre com êxito a geografia taurina venezuelana e a 3 de Fevereiro de 1991 retira-se do toureio em Yaritagüa (Estado de Yaracuy). Actuou mano-a-mano com Bernardo Valencia "El Cordobés de Venezuela" frente a toiros de Rio Seco.
Tornou-se mais tarde empresário taurino ao adquirir em Espanha uma praça portátil batizada de “La Polareña”.
Não é do nosso conhecimento que alguma vez tenha tourado em Portugal, no entanto não é de excluir que nos anos de 1977 e 1978 possa ter actuado em Barrancos por indicação do seu conterrâneo e amigo Pepe Câmara.
Tive o prazer de o conhecer a 18 de Fevereiro de 1990 aquando da minha estreia em Maracay, integrando o "El Bombero Torero", quando na companhia de Pepe Câmara e sua esposa se apresentaram no pátio de quadrilhas da Maestranza César Girón para me cumprimentarem. Foi um momento muitíssimo agradável e reconfortante. Já não estava com Pepe Câmara desde o ano de 1983.
Carlos Pita faleceu vítima de um acidente de tráfego em Caracas no ano 2000.
Fotos D.R.