Entre estes seis toiros da ganadaria Couto de Fornilhos anunciados no cartaz da corrida que este sábado se realizou na Arena D'Évora, três deles já tinham os 6 anos cumpridos - pelo que, segundo o Regulamento Tauromáquico, não poderiam sair à praça. Mesmo assim estavam anunciados pela empresa e a sua lide estaria, segundo adianta hoje o site touroeouro.com, autorizada pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC)...
O escândalo, levantado ontem aqui no "Farpas" por Miguel Alvarenga na nova rubrica "Coisas que eu sei...", só foi travado, como ontem refere o site de Solange Pinto e João Dinis, depois da pronta intervenção da Associação Nacional de Toureiros e da Associação Nacional de Grupos de Forcados, que terão alertado os três cavaleiros (Luis Rouxinol, Miguel Moura e Salgueiro da Costa) e os dois grupos de forcados (Santarém e Évora) para o facto de estarem a violar a Lei no caso de qualquer um deles enfrentar um dos três toiros de 6 anos.
A Associação Nacional de Toureiros alertou mesmo os três cavaleiros para o facto de o Fundo de Assistência não lhes poder dar qualquer tipo de apoio e cobertura em caso de sofrerem algum acidente, uma vez que não está permitida pelo Regulamento a lide de toiros com os 6 anos cumpridos.
E também a Associação Nacional de Grupos de Forcados informou os Amadores de Santarém e os Amadores de Évora, seus associados, de que se pegassem esses toiros não só estariam a violar o Regulamento Tauromáquico, como também os próprios estatutos internos da associação. E isto, pasme-se, decorreu apesar de um dos empresários da praça de Évora, Francisco Mendonça Mira, ser membro dos corpos dirigentes da própria ANGF...
Só depois das intervenções a tempo e horas da ANdT e da ANGF é que os artistas da corrida do passado sábado em Évora tomaram posição e informaram a empresa NEPE de que assim não podia ser. Nas vésperas da corrida, os empresários acederam e trocaram os três toiros de 6 anos por outros três da mesma ganadaria Couto de Fornilhos com 4 anos. Os de 6 não foram lidados - mas foi por pouco que isso não aconteceu...
Mais grave: segundo noticia ontem o site touroeouro.com, a empresa da praça de Évora teria obtido uma "permissão especial" assinada pelo inspector-geral da IGAC, Silveira Botelho, a autorizar a lide dos referidos três toiros com 6 anos. O inspector-geral, adianta o mesmo site, ter-se-ia escudado num parecer emitido por médicos veterinários, fechando os olhos ao que o Regulamento Tauromáquico estabelece na alínea 3 do artigo 30º (Lei 89/2014): "em qualquer tipo de espectáculo não são admissíveis reses anteriormente lidadas ou com mais de seis anos de idade". Uma situação que, a ser verdadeira e a ser investigada, pode causar embaraços ao inspector-geral da IGAC.
De acordo com o touroeouro.com, esta situação criou também algum mal estar entre a classe dos ganadeiros, uma vez que muito deles tiveram que mandar abater no último ano, devido à pandemia, animais com muito menos de 6 anos.
Entretanto e segundo também o referido site, a Associação Nacional de Toureiros está ainda a investigar um outro caso verificado no ano passado numa praça de primeira (primeiríssima, mesmo!) onde terá sido lidado um toiro com 6 anos cumpridos, dessa vez com o conhecimento e o consentimento dos próprios cavaleiros e forcados que participaram na corrida e que terão mesmo assinado um termo de responsabilidade perante a empresa, não se opondo a enfrentar, como veio a acontecer, esse toiro com idade não regulamentar...
O touroeouro.com augura que esta situação pode vir a agitar bastante os próximos dias e pode mesmo originar processos de investigação por parte do Ministério da Cultura, por forma a apurar responsabilidades sobre a violação da Lei que regulamenta o espectáculo tauromáquico e a existência de regimes de excepção "injustificáveis".
A procissão ainda agora vai no adro. Mas, como se vê, não é necessário termos às vezes tão excessivas preocupações com os anti-taurinos, quando são os próprios agentes da tauromaquia que vão contribuindo, aos poucos, para afundar a Festa...
Fotos Florindo Piteira