Miguel Alvarenga - Não tem só a ver com a pandemia, tem a ver sobretudo com os tempos modernos que vivemos e que já não têm nada a ver com o passado.
Tenho saudades das campanhas eleitorais de antigamente. Dos comícios, que às vezes davam pancadaria à saída, com arruaceiros provocadores.
Lembro-me do comício do Partido da Democracia Cristã no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, que foi cercado pelos comunistas. Dos muitos comícios do CDS que invariavelmente terminavam com cenas de pugilato na ruas. O do São Luis ficou na História. Tenho saudades das mocas de Rio Maior… Da Alameda da Fonte Luminosa cheia, do Coliseu, do Campo Pequeno, do Pavilhão dos Desportos. Aquilo era uma alegria!
Íamos aos comícios ouvir os políticos, ver as miúdas, gritar vivas aos nossos partidos, aplaudir os líderes. Lembro-me dos meus muitos amigos alentejanos, de samarra e autocolante do CDS ao peito. Muitos deles transformavam o comício em bebício e enquanto os políticos falavam, o pessoal bebia umas cervejolas nos bares. Era divertido e era giro. Normalmente acaba tudo ao balcão do “Gambrinus”, com bandeiras e cachecóis, emblemas e autocolantes. Era uma festa. Isso é que eram campanhas eleitorais à séria!
Decorre neste momento a campanha eleitoral e já não tem piada nenhuma. Resume-se a uns debates de escassos vinte minutos nas televisões, onde os líderes trocam galhardetes e dizem umas mentiras e depois gramamos hora e meia com uns parvalhões e umas parvalhonas que ninguém sabe quem são, na maioria dos casos, armados em comentadores, a botar faladura e a dizer o que acharam, dos debates, como se alguém lhes tivesse pedido a opinião… ou estivesse interessado em sabê-la...
Os tempos mudaram. O entusiasmo dos comícios acabou. Agora assistimos aos debates nas televisões e até podemos estar armados com a moca de Rio Maior, mas se nos irritamos não podemos bater-lhes. Estragávamos o televisor…
Fotos D.R.