segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Nazaré: mais uma enchente com ondas de emoção

Fernando José (texto e fotos) - Como diz o ditado do povo, "não há duas sem três", foi exactamente o que aconteceu na noite do passado sábado na praça de toiros do Sítio da Nazaré. Mais uma lotação esgotada, mais uma grande corrida, uma grande entrega de todos os artistas, um bom curro de toiros e um público a retribuir calorosas ovações num ambiente único onde todos gostam de marcar presença.

A noite começou com a empresa Doses de Bravura, através de Rui Bento e seu filho Rui Pedro Cordeiro, a homenagear as duas cavaleiras Sónia Matias e Ana Batista, que esta temporada cumprem 25 anos de alternativa, sendo oferecida a cada uma uma placa que ficará colocada na praça a perpectuar a bonita data. Depois, o homenageado da corrida anterior, José Joaquim Pires, antigo gerente desta praça, também aproveitou o momento para oferecer uma lembrança a cada uma das artistas.


Luís Rouxinol abriu praça, onde toureia há 40 anos, brindou aos Bombeiros Voluntários da Nazaré, num gesto muito oportuno, sendo-lhe retribuídos sentidos aplausos, entrou bem, alegre, com entrega e logo no início da ferragem curta já o público acompanhava a sua actuação ao som do pasodoble "Manuel dos Santos". O exemplar da ganadaria Conde de Murça era um pouco reservado, cheio de sentido, mas o cavaleiro de Pegões, com a sua mestria, saiu por cima dando o primeiro "aquecimento" nas bancadas da praça próxima da Praia do Norte, mundialmente conhecida pelas suas "Ondas Gigantes".


Para a pega saltou à praça, Salvador Ribeiro de Almeida, dos Amadores de Santarém, que se fechou bem à barbela com boas ajudas. Sorte executada com perfeição. 


De seguida foi a vez de Sónia Matias entrar na praça onde já somou fortes triunfos, onde é muito acarinhada pelas gentes nazarenas. A cavaleira entrou cheia de raça toureira, tentou agarrar o momento, só que pela frente teve um exemplar da ganadaria Conde de Murça cheio de sentido, muito "medidor" dos seus terrenos, sempre a "acelerar" e a meter mudanças, que em nada facilitou a actuação da cavaleira de Samora Correia. Destaque positivo para os seus últimos dois ferros curtos.


Se para Sónia Matias o exemplar de 500 quilos não facilitou, também para Miguel Casadinho, dos Amadores de Montemor, aconteceu o mesmo. Num primeiro “frente-a-frente” correu forte, levantou ao primeiro andar por várias vezes o valente forcado, sacudindo de seguida. Na segunda tentativa, Casadinho chegou-se à frente, entrou nos terrenos do seu opositor e este de imediato pô-lo fora. Na terceira tentativa, o grupo uniu-se, carregou e o forcado consumou a pega. No final o valente forcado de Montemor não queria regressar à arena com Sónia Matias, mas os aficionados viram a sua entrega e "obrigaram-no" a dar a volta com fortes aplausos.


Com a "temperatura" já muito alta e deveras motivada pela excelente temporada que está a cumprir, premiada na tarde do dia anterior com uma saída em ombros na praça de Urrós (Mogadouro), foi a vez de entrar em praça Ana Batista, que rubricou uma lide de excelência, esteve toureira, esteve perfeita a escolher os terrenos, a cravar, a bregar e a rematar as sortes com uma alegria de uma noite de sonho. A cavaleira de Salvaterra referiu "uma noite que nunca vou esquecer". Pela frente, teve o melhor toiro e nas suas mãos teve dois excelentes cavalos, tendo um deles, o espectacular “Hermoso”, regressado à praça para a volta de glória e de triunfo da elegante cavaleira. Aqui o público estava ao rubro naquele que é sempre considerado um "ambiente único", pleno de emoções.

 

Como atrás referimos, se o calor já era muito, melhor ficou quando o cabo Francisco Graciosa, dos Amadores de Santarém, que este ano comemoram 110 anos mandou saltar à arena a dupla Francisco Cabaço e Francisco Paulos para um pega de cernelha - aí faltam palavras para descrever o querer, a raça e a fibra do que é ser forcado.


Francisco Cabaço agarrou-se ao toiro que nem uma "lapa" nas pedras da praia, mas este não queria “abraços", com os seus 505 quilos fez os rapazes puxarem das divisas, o primeiro foi o rabejador Paulos a andar em "roda viva" pelo chão, pelo ar, ora virado para cima, ora para baixo, até ser disparado para fora da contenda. Sózinho, Francisco Cabaço continuava agarrado, mas o toiro levou-o para junto das tábuas onde lhe deu fortes apertos, temeu-se o pior, os corações bateram fortes, mas embora bem "coçados" os bravos forcados voltaram à arena para uma valente cernelha de "parar o bicho".  Aí o ambiente entrou em ebulião e ferveu. Ana Batista, deveras emocionada, teve direito a dois valentes "guardas de honra" que, mesmo amassados, tiveram que dar duas voltas à praça. De pouco serviam os lugares marcados, a praça estava toda de pé.


Com metade da corrida cumprida foi a vez, do jovem cavaleiro Rouxinol Júnior regressar à praça onde foi triunfador na temporada de 2023. Começou bem nos compridos, depois um momento de "corte de corrente", mas na parte final arrimou-se, abriu o peito e passou no teste com uma nota muito elevada. Frente a outro "bom" Conde de Murça, terminou com um par de bandarilhas e ainda um ferro de palmo. É caso para dizer que o jovem ginete "meteu bem a lenha" e segurou bem a temperatura.


Para a pega saltou à arena Miguel Cecílio, dos Amadores de Montemor, irmão do poderoso primeiro-ajuda António Cecílio, que consumou vistosa e brilhante pega, dando aplaudida volta com o cavaleiro.


Para o final estavam guardadas, as esperadas lides a duo, prestações nada fáceis numa arena pequena. Ao quinto, entraram Sónia Matias e Ana Batista, que enfrentaram um oponente que não as deixou "respirar", deu luta às duas cavaleiras, Sónia Matias sentiu dificuldades na cravagem, já Ana Batista esteve soberba, boa colocação e sortes bem rematadas. Foi a "cereja" no bolo que continuava de velas acesas. O público entendeu as dificuldades e ajudou a festa sempre acompanhando a música com fortes aplausos.


Para a pega saltou a trincheira Vasco Salazar, dos Amadores de Santarém, com uma vistosa pega ao primeiro intento, plena de perfeição, completada com primeiras ajudas muito fortes.  


Para encerrar a noite foi a vez da actuação da "Dulpa Rouxinóis", mais rotinados, mostraram classe, entrega e perfeição frente a outro bom toiro, bem a escolherem os terrenos, bem a cravarem e a adornarem a lide numa coreografia de carrocel em noite de Festa. No final ambos os rostos espelhavam cumplicidade entre pai e filho, havia abraços, alegria e os agradecimentos ao público eram feitos de braços no ar. Quanto o saudoso Alfredo Vicente gostaria de ver este espectáculo...


Antes de se encerrar a porta dos curros saltou à arena Joel Santos, que se fechou à primeira tentativa com uma execução plena de galhardia, suportando fortes derrotes. Uma pega a condizer com os pergaminhos da história dos Amadores de Montemor.


Uma palavra de apreço para Simão Neves que trouxe para a Nazaré um curro sério de toiros da em boa hora recuperada ganadaria Conde de Murça, que obrigaram os toureiros a terem unhas para tocarem a música em cada actuação numa corrida que foi abrilhantada pela Banda Filarmónica da Maiorga, Alcobaça.  


Dirigiu bem a corrida, a directora técnica Ana Pimenta, acompanhada pelo médico veterinário José Luis da Cruz.


Para a história fica mais uma enchente na mítica praça nazarena com um ambiente fantástico levando a que a "fasquia" continue alta para a novilhada do próximo domingo 24 (17 horas) e a corrida de encerramento a 6 de Setembro. 


 




Primeiro toiro lidado por Luis Rouxinol e pegado por Salvador
Ribeiro de Almeida (Santarém)






Sónia Matias no segundo toiro, pegado por Miguel Casadinho
(Montemor)












Público ao rubro no terceiro toiro: grande lide de Ana Batista e
uma cernelha espectacular de F. Cabaço e F. Paulos (Santarém)







Grande actuação de Rouxinol Jr. no quarto toiro e brilhante
pega de Miguel Cecílio (Montemor)







Sónia e Ana a duo no quinto e uma grande pega de Vasco Salazar
(Santarém)













Rouxinóis fecharam a noite com uma apoteótica lide a duo
e o toiro foi pegado com galhardia por Joel Santos (Montemor)