segunda-feira, 6 de agosto de 2012

E depois chegou Salgueiro! Nazaré "veio abaixo"!




Miguel Alvarenga - Em Angra e em Lisboa já o tinha "dito". Na Nazaré, sábado, confirmou-o em absoluto. "Este" João Salgueiro de 2012 é o João Salgueiro dos tempos grandes. O génio - génio, sim senhor.
Sem o frio habitual que ali se faz sentir à noite, mas também sem o calor que se exige numa corrida de toiros, muito por culpa do "mau empenhamento" dos toiros de Falé Filipe, a corrida de sábado na bonita e acolhedora praça do Sítio da Nazaré decorria a ritmo morno, apesar de uma bem ritmada lide a duo dos dois cavaleiros, de uma esforçada faena do Maestro Mendes, de uma lide vibrante do jovem António João Ferreira e de uma excelente actuação de António Ribeiro Telles. O público estava meio "distante". Até que chegou Salgueiro!
Era verde e bonita a sua casaca. Talvez a denotar a esperança que o cavaleiro de Valada deposita nesta "temporada diferente", iniciada mais tarde que o usual, quando a "procissão" já ia a meio e em que apostou em menos e melhores corridas.
Era visível a sua disposição. E a sua decisão de, uma vez mais, demonstrar que "estou aqui" e "venho para marcar a diferença". Assim foi.
Faltou raça e bravura ao toiro, constantemente a procurar refúgio nas tábuas. Sobrou arte e valor ao toureiro, mais a emoção e aquele jeito muito seu de "parar corações".
Dois compridos de poder a poder foram o mote para a "loucura" que viria a seguir. Procurou João Salgueiro dar ao toiro a prioridade que este tardava em querer assumir. Passou "ao ataque", provocando a investida num curto espaço milimétrico, nos terrenos "que pesam", "entrando por ele dentro" e deixando quatro ferros curtos em sortes "impróprias para cardíacos". A praça "veio abaixo"! Mais um a pedido do público e eis que estava eleito, sem tirar nem pôr, o grande triunfador da noite.
A António Ribeiro Telles coube um toiro "um nadinha mais" colaborante. Sem o seu cavalo-craque "Rondeño", vítima de uma cólica e em recuperação, o Maestro da Torrinha protagonizou uma lide ao seu melhor estilo, dentro da linha clássica que é apanágio da sua trajectória e do seu estatuto de Grande Senhor do toureio a cavalo.
A noite de sábado na Nazaré ficou ainda marcada pela tremenda dignidade - meu Deus! - e pela experiência que dá gosto ver desenrolar  numa lide, a cargo do Maestro Vitor Mendes.
Não precisa de estar ali. Não precisa de provar nada a ninguém. Trinta anos depois, ele continua a ser o primeiro dos matadores da nossa História. E, mesmo assim, aos 54 anos, ainda "dá cartas" - e que cartas, meus senhores!
Não abreviou, quando podia e, se calhar devia, frente ao complicado toiro que enfrentou em primeiro lugar. Esteve esforçado, profissionalíssimo, como é seu timbre.
O seu segundo toiro proporcionava mais hipóteses e Vitor Mendes "viu-o" e entendeu-o desde o primeiro segundo. Cravou um extraordinário par de bandarilhas em tércio que dividiu com o valoroso António João Ferreira. Com a muleta e depois de também ter estado um Senhor com o capote, desenhou faena variada e profunda, onde a entrega e o valor foram a grande tónica.
As "cenas do próximo capítulo" decorrem esta quinta-feira no Campo Pequeno, onde o Maestro Vitor Mendes se apresenta uma vez mais, desta vez frente a toiros de Oliveiras Irmãos. A expectativa é grande depois da lição na Nazaré.
António João Ferreira toureava este ano pela primeira vez, num momento em que salvo raríssimas excepções - e a empresa do Campo Pequeno, também gestora da praça da Nazaré, é uma delas - continuam os nossos empresários pouco vocacionados para as corridas mistas e para o valor dos nossos (ainda que poucos) matadores de toiros.
António João, nas raras oportunidades que tem tido, demonstrou sempre as suas ganas, o seu querer - e, acima de tudo, o seu valor. Tem-no às carradas. Pena que toureie tão pouco.
Sofreu aparatosa voltareta quando fazia um quite ao primeiro toiro de Vitor Mendes, mas nem por isso "desmoralizou". No seu primeiro toiro, de melhor nota que o último, desenhou templada e bonita faena, parecendo estar "toureadíssimo" e "placeado". O segundo já não lhe permitiu luzir-se, valendo a lide pela sua entrega e, outra vez, pelo seu muito querer.
Um "apunte" para a arte do capote de João "Curro", o "novo Bacatum" de António Telles, aliás, com escola feita ao lado do saudoso bandarilheiro da Casa Ribeiro Telles. Também para o excelente desempenho de Gonçalo Simões e Mário Figueiredo, a belíssima quadrilha de João Salgueiro. E para um excelente - e decidido - par de bandarilhas do jovem António Telles Bastos e um toiro "difícil", numa noite em que as quadrilhas andaram meio "desajustadas" nesse tércio, destacando-se ainda David Antunes num bom par. Destaque também, neste tércio, para João Pedro "Juca", impecável a colocar as bandarilhas em plano superior.
Com algumas clareiras nas bancadas e a galeria cheia, a praça da Nazaré registou no sábado meia entrada forte. Mesmo assim, menos público que nesta mesma data há um ano, quando ali tourearam Ferrera e "Procuna". A noite foi abrilhantada - e bem - pela magnífica Banda Filarmónica da Nazaré.
Como já referimos, registou-se ainda auspiciosa estreia de Rogério Jóia como director de corrida - uma noite que fica na história por ter sido, para ele, "o primeiro dia do resto da sua vida". Sorte para as próximas!
Já a seguir: mais fotos da corrida da Nazaré.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com