Eduardo Fortunato de Almeida nos seus tempos áureos e, na foto de baixo, já marcado pela doença, na Corrida TVI em Agosto do ano passado na praça do Campo Pequeno |
Miguel Alvarenga - Ali por início dos
anos 80, era eu um jovem jornalista do semanário "O Diabo", Vera
Lagoa chamou-me ao seu gabinete e marcou-me um almoço, no dia seguinte, no
restaurante "Porta Branca", no Bairro Alto, com Eduardo Fortunato de
Almeida, seu grande amigo, proprietário e director das revistas "Homem Magazine" e
"Casa & Jardim". Ao tempo, eu era responsável, também, em
parceria com o Dr. Fernando Teixeira, pela página "Diabo ao Quite" e
Eduardo pedira a Maria Armanda Falcão (verdadeiro nome da famosa jornalista e minha
grande mestra) para que eu fosse a esse almoço com o objectivo de me apresentar
um jovem que dava os primeiros passos na arte de Montes e que ele apoiava, como
sempre apoiou, ao longo da sua vida, os que faziam antever um futuro promissor
em qualquer arte. A Tauromaquia era uma das artes que apaixonava o Eduardo. E
outra coisa não se podia esperar: ele era um Português de gema, venerava a
nossa Cultura, a nossa Tradição.
Fui ao almoço - que nunca mais esqueci.
O jovem que me queria apresentar chamava-se Rui Bento, era um rapaz humilde e
simples, acabara de se revelar num concurso promovido pela empresa do Campo
Pequeno (que ganhara conjuntamente com José Luis Gonçalves) e lia-se-lhe nos
olhos que queria muito ser Toureiro e tornar-se matador de toiros.
O percurso de Rui Bento, hoje, muito
merecidamente, Director de Actividades Tauromáquicas da empresa do Campo
Pequeno (a praça onde deu os primeiros passos) é de todos conhecido. Naquele almoço e com a ajuda do Eduardo, tivemos o nosso primeiro encontro. O
director da "Homem Magazine" não foi propriamente o primeiro
apoderado do Rui, mas fez quase esse papel. Foi ele que lhe abriu algumas
portas no meio da Comunicação Social.
Ao longo dos anos, o Eduardo foi sempre
uma presença - agradável, simpática, amiga e apoiante - no meu percurso
jornalístico. Muitas foram as vezes em que lhe bati à porta e meti uma
"cunha" para que saísse uma notícia - e ele ajudou sempre. Marcou
presença, desde a primeira hora, sentado a meu lado, nos vários jantares de
entrega dos Troféus "Farpas", dando depois enorme destaque ao evento
nas suas publicações. Era também presença assídua na praça do Campo Pequeno,
numa barreira do Sector 1, em todas as corridas - menos nas últimas, onde a
doença já não lhe permitiu assistir ao espectáculo de que tanto gostava e que
tanto apoiava.
Há quatro anos, nos corredores do Campo
Pequeno, como tantas outras vezes, encontrei-o ao intervalo. "Como vai,
Eduardo?". "Mal - respondeu-me - tenho um cancro, mas hei-de
vencê-lo". Não o senti vencido, quase não o senti abalado. O Eduardo era
um lutador.
Voltámos a estar juntos em outras
corridas do Campo Pequeno, a última das quais na da TVI no ano passado, já ele
estava diferente e já a doença dava sinais, que anteriormente quase se não
reconheciam. A sua vontade de viver era a mesma. A sua luta contra o maldito
cancro prosseguia, com uma dignidade imensa, com uma coragem de pasmar.
"Cá continuo, Miguel", dizia-me. Sempre com um sorriso e a força de quem vai vencer. E dizia-me também, todas as vezes,
que a Maria Armanda era "das pessoas que mais falta lhe faziam".
Oxalá, no Reino de Deus, se tenham já reencontrado. Que paródia deve ir lá
para os Céus!
O Eduardo Fortunato de Almeida morreu
ontem, com 69 anos. Soube-o esta manhã, quando comprei o "Correio da
Manhã". Acaba de me telefonar o Hugo Teixeira, que com ele conviveu várias
vezes nos nossos jantares do "Farpas", a dizer também que, neste
período de férias, comprou o jornal e ficou triste pela morte do nosso Amigo.
Que em paz descanse. Jamais esquecerei a
sua bondade, a sua amizade, o seu grande olho empresarial, a sua forma de estar
na vida e na profissão, os exemplos que soube dar neste mundo do jornalismo. E
a forma desinteressada com que sempre esteve ao lado da Festa de Toiros.
Um grande abraço a seu filho Eduardo, um
grande beijo a sua filha Catarina (ex-Mulher do famoso médico Tallón), a seus
netos - que ele adorava.
O Eduardo é daqueles que se não
esquecem.
Fotos D.R./@Lux e Emílio de Jesus