Miguel Alvarenga - A corrida nocturna de
sábado em Torres Vedras foi uma daquelas que fazem aficionados e tão cedo não
nos saem da memória. Para isso contribuiu o excelente comportamento dos
fantásticos toiros da ganadaria de Mestre David Ribeiro Telles e as brilhantes
actuações dos três cavaleiros - Luis Rouxinol, Filipe Gonçalves e João Moura
Caetano -, bem como dos forcados (Vila Franca e Aposento da Moita), para lá,
obviamente, de um público entusiasta que, como acontece em anos anteriores
(quase vinte), encheu por completo as bancadas da praça portátil.
O espectáculo foi, como sempre,
cuidadosa e primorosamente montado pela comissão da Junta de Freguesia de S.
Pedro e Santiago, que ali tem sabido defender e enaltecer a arte tauromáquica
há quase vinte anos com a realização desta corrida por ocasião da Feira de S.
Pedro. Figura de destaque nesta comissão é a de Joaquim Pinta Negra, que desta
vez até foi passaeado em ombros no final da corrida, que terminou com os três
cavaleiros e os cabos dos dois grupos de forcados em praça a agradecer as
ovações do público - o que diz bem do sucesso da corrida.
Voltando aos toiros, sairam seis
exemplares da ganadaria de Mestre David Ribeiro Telles muisíssimo bem
apresentados (até em demasia para uma praça desmontável) e que impuseram
seriedade e perigo. Toiros daqueles que, aos poucos, prometem devolver a emoção
às praças, passado que parece estar (oxalá!) o tempo da moda dos
"nhoc-nhoc". Empregaram-se, investiram com clareza e alegria, não facilitaram
a vida aos toureiros e também deram água pela barba aos forcados, sobretudo aos
Amadores da Moita, que se apresentaram em Torres Vedras com elementos jovens,
dando até a ideia de uma total e completa renovação no "plantel" -
marcado pela ausência de antigos forcados.
Por duas vezes, foram muito justa e
merecidamente chamados a dar a volta à arena, em representação da ganadaria,
Manuel e António Ribeiro Telles.
Luis Rouxinol voltou a estar muito bem -
para variar - reafirmando a regularidade constante do grande momento que vive
há várias temporadas. Teve momentos de muita verdade e de enorme seriedade,
arriscando frente a toiros que não permitiam descuidos. Protagonizou duas lides
bem ao seu estilo, arrebatando o público com adornos aceitáveis em recintos
deste tipo, como colocar o cavalo de joelhos, etc. A bregar demonstrou a sua
usual experiência e a cravar colocou emoção nas sortes. Por onde passa,
Rouxinol deixa rasto de triunfo. E em Torres Vedras não fugiu à regra.
Filipe Gonçalves soma pontos de corrida
em corrida e sobe, degrau a degrau, mercê do seu muito valor, a escadaria que o
há-de levar aos lugares da frente. É um toureiro diversificado e versatil, com
cavalos e com "números" para todas as situações e para todos os
públicos. Facilmente lança o "rastilho" e "incendeia" as
bancadas. Tem cavalos que fazem piruetas, bons "quiebros",
"violinos" e até um que "bate palmas". É um daqueles
toureiros que não deixam ninguém dormir e a que ninguém fica indiferente.
Vem-se consolidando, tem agora pela frente importantes desafios, corridas em
praças e cartéis de primeira e acredito que chegará ao final como um dos
grandes triunfadores desta temporada.
João Moura Caetano, vindo de duas
corridas importantes em que não teve sorte nenhuma com os toiros (Lisboa e
Santarém), recuperou finalmente a moral em Torres Vedras frente a dois toiros
sérios de Ribeiro Telles que lhe permitiram realizar o seu bom toureio de
arrepiante temple. Sem grandes "espalhafatos", numa linha mais
clássica e talvez mais própria para as grandes catedrais do toureio e não
propriamente para praças portáteis e públicos mais versáteis, mesmo assim
conquistou a aficion, que lhe dedicou vibrantes e eufóricos aplausos quando, no
primeiro toiro, com o fantástico cavalo "Temperamento", parou
corações com arrepiantes batidas ao piton contrário, verdadeiramente impróprias
para cardíacos. O cavalo é "elástico", pode com todos os toiros e
Moura Caetano está de novo moralizado e "encarrilado" para lutar pela
reconquista do trono da temporada. Resultado: foi uma lide de sonho e até o
"Temperamento" teve, no final, honras de acompanhar cavaleiro e
forcado numa aplaudida volta à arena.
No último toiro, com o cavalo
"Verdi", João Moura Caetano voltou a marcar a diferença. Deu
prioridade ao toiro nos compridos, citou de praça a praça com verdade e emoção,
cravou com seriedade e levantou de novo o público das bancadas. Mostrou nesta
segunda lide que também tem argumentos e cavalos para empolgar públicos como este,
ou seja, foi uma actuação diferente da primeira no estilo e na forma. Mas
igualmente brilhante. Em suma, noite de reencontro total depois de duas
azaradas passagens pelo Campo Pequeno e por Santarém, onde lhe faltaram toiros
para fazer o que sabe: triunfar.
Os Forcados de Vila Franca, com três
pegas ao primeiro intento por intermédio de Rui Graça, António Faria e Pedro
Loureiro, destacaram-se do grupo com que competiam. Grupo forte e coeso,
preparado para "tudo o que vier", excelentemente comandado por Ricardo
Castelo, mais uma vez em grande noite.
Uns pontos atrás esteve o Grupo do
Aposento da Moita onde, como atrás referi, se não viram as caras antigas.
Sangue novo, bons forcados de cara, mas alguns desajustamentos nas ajudas. As
três pegas foram executadas ao terceiro intento por intermédio,
respectivamente, de Francisco Baltazar, José Maria Águas e Salvador Pinto
Coelho (este em sorte sesgada, depois de duas duras tentativas falhadas).
A corrida foi bem dirigida pelo antigo
cabo dos forcados das Caldas, Francisco Calado. No início do espectáculo, guardou-se
um minuto de silêncio pela memória de José Maria Cortes, igualmente lembrado
nos emotivos brindes de forcados e cavaleiros.
Não perca, já a seguir: todas as fotos desta corrida - de Emílio de Jesus - e dos Famosos que ali marcaram presença!
Fotos Emílio de
Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com