Miguel Alvarenga e Emílio (fotos) - Tempos idos dos
famosos cavalos "Isco" e "Herói", João Salgueiro a parar
corações e a provocar a loucura nas bancadas. Tempos de glória que o cavaleiro
de Valada nos relembrou ontem em Évora. Era a sua última corrida da temporada,
um ano de altos e baixos, mas sempre a esperança de que o génio desperte, venha
acima e haja a explosão, aquela faena que enche a alma de quem vê, aqueles
ferros que depois não se repetem. Ontem, Salgueiro marcou a diferença. Andou
sereno e mandão, bregou com sabedoria, entrou pelo toiro dentro com o arrojo, a
ousadia e a irreverência de outros tempos. Passaram 25 anos depois da sua
alternativa. Ele continua de pé e quando menos se espera, catrapumba, lá vem a
arte, lá vem a genealidade, lá explode a diferença. Os génios são assim e são
distintos, uns dias sim, outro dias não. Ontem, João Salgueiro estava em
dia-sim.
A última corrida promovida pela empresa
"Campo e Praça" - que também marcou esta temporada, quanto mais não
fosse, pela ousadia das "exclusivas" - na Arena D'Évora incluia os
cinco cavaleiros do grupo e mais um (Gilberto Filipe), que também fez parte
deste "movimento" em 2013. O público não correspondeu. Talvez
cansaço, talvez final de temporada, talvez um elenco que, embora de figuras,
era "mais do mesmo". Um quarto das bancadas preenchido, a ausência do
ambiente que se deseja, mas, mesmo assim, uma corrida agradável e com ritmo,
que decorreu sem intervalo (aleluia!) e sem dificuldades nem tempos mortos na
recolha dos toiros. Foi um instante, não maçou ninguém e houve triunfos frente
a toiros-toiros da ganadaria espanhola de José Luis Pereda - ninguém se lembrou
de chamar o ganadero à praça, já assistimos a voltas à arena por muito menos e
sem justificação aparente. Ontem, justificavam-se os aplausos a Pereda. Os
toiros sairam com seriedade, com peso, excelente apresentação, tiveram bom
comportamento na generalidade e tinham idade (cinco anos) e, por consequência,
um sentido apurado. Não eram toiros "para meninos" e isso viu-se
sobretudo nas pegas, mas não apenas, também nas lides dos cavaleiros.
Lamente-se, há que apontá-lo, as
excessivas presenças de curiosos na trincheira, muitos deles a movimentar-se
durante as lides e a distrair os toiros (Vitor Ribeiro foi o mais prejudicado
por esta anomalia) e também as andanças nas bancadas durante as actuações. O
director de corrida, Pedro Reinhardt neste caso, deveria ter estado mais atento
a estes pormenores - e evitá-los.
Vamos aos toureiros. Salgueiro à parte,
que foi, repito, quem ontem marcou a diferença, vimos em Évora um António
Ribeiro Telles seguro de si e a brilhar com o antigo cavalo-craque de Ribeiro,
o "Alcochete", certeiro na cravagem e brilhante na brega; Rui
Fernandes deu a volta a um toiro "matreiro" e saíu por cima com uma
lide a todos os títulos fantástica, em que mandou e orientou as coisas para o
seu lado mercê da sua experiência e da forma em que se encontra, bem montado,
poderoso, moralizado e toureirão; Vitor Ribeiro explicou este ano que faz falta
à Festa e regressou em pleno, Mesmo depois de se desfazer do cavalo que lhe
dava os triunfos, depressa recuperou e se reencontrou. Ontem, em Évora, esteve
enorme nas entrada ao piton contrário, na brega e na cravagem, executando uma
lide à base da emoção e ritmada com pinceladas de valentia e de arte; Gilberto
Filipe teve pela frente o pior toiro da tarde e mesmo assim conseguiu triunfar.
Valeu a entrega, o valor e a raça que colocou em tudo o que fez. Foi uma lide
pautada pela raça de um toureiro que esta temporada voltou a subir a sua
cotação; por fim, João Ribeiro Telles esteve muito bem, também, frente a um
toiro com classe e que ele aproveitou da melhor forma, sem contudo atingir o
nível de outras tardes. Esteve sempre muito bem e ontem limitou-se a estar bem.
Mesmo assim, sem nada de negativo a apontar. João foi um dos jovens que marcou
esta temporada e apesar de ter participado num número limitado de corridas,
manteve uma regularidade notável e sempre acima da média.
Frente aos toiros de Pereda que, como
disse, não eram "para meninos", nem sempre foi fácil o desempenho dos
forcados dos dois grupos em praça, Évora e Alcochete. Apesar dos vários
momentos de apuro que se viveram na arena, não houve, graças a Deus, feridos a
lamentar, exceptuando João Rei, o valente primeiro-ajuda do grupo de Alcochete,
que recolheu pelo seu pé à enfermaria e esteve em observação no Hospital de
Évora, havendo apenas a registar a fractura de costelas. Teve alta ao final da
noite e já se encontra em casa a recuperar.
Ricardo Casas Novas fez ao primeiro
intento a primeira pega dos Amadores de Évora, que foi a sua última. Sem despir
a jaqueta (parece que isso passou de moda...), deixou as arenas após alguns
anos ao serviço do grupo sempre em plano brilhante. Deu a volta à arena com o
ajuda Francisco Abreu, que também se despediu ontem das arenas.
Pelos Amadores de Évora pegaram ainda
Ricardo Sousa (à terceira) e Dinis Caeiro, este à quarta tentativa e depois de
sofrer violentos derrotes nas anteriores intervenções. Esteve valente como as casas!
Fernando Quintela, dos Amadores de
Alcochete, foi autor da grande pega da tarde, a segunda da corrida, ao primeiro
intento. Como sempre, esteve bem a citar, recuou toureando e fechou-se com
braços de ferro, estilo daqui não saio, daqui ninguém me tira, aguentando
derrotes e derrotes, bem ajudado pelos companheiros.
Diogo Timóteo fez a segunda pega do
grupo comandado por Vasco Pinto, à segunda tentativa, com uma boa ajuda de
Fernando Correia, que foi depois muito justamente chamado à arena no final.
Pedro Viegas encerrou, à primeira, a
triunfal passagem dos Amadores de Alcochete pela arena eborense.
Entre os bandarilheiros houve valor e
houve saber diante dos toiros de José Luis Pereda. Destaque para as
intervenções de João Ribeiro "Curro", António Telles Bastos, Nuno
Oliveira, Ricardo Raimundo, João "Belmonte", Gonçalo Simões, Manuel dos Santos
"Becas" e Jorge Alegria.
Salgueiro e João Telles brindaram as
suas últimas actuações de 2013 aos empresários da praça - e das
"exclusivas". Pedro Reinhardt dirigiu a corrida com acerto, havendo
apenas a apontar o facto de não ter imposto a ordem na trincheira e também nas
bancadas. Com toiros com tanto sentido, impunha-se mais calmaria nas duas
frentes. Houve, como disse, andanças a mais entre tábuas e alguns espectadores
a desviar as atenções aos toiros com movimentações na bancada. Também nessas
áreas - e sobretudo nelas - há que repeitar regras. Para não prejudicar e,
acima de tudo, não colocar em perigo, quem na arena arrisca a vida.
Já a seguir: não perca todas as fotos desta corrida de ontem em Évora!
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com