domingo, 22 de junho de 2014

Forcados e Fernandes foram os reis em Alcochete

Chegou atrasado, mas valeu a espera. Rui Fernandes chegou e disse "estou aqui",
brindou ao Grupo de Alcochete e mostrou depois que está a anos luz dos outros
Faltou público e faltaram sobretudo forcados de outros grupos, ontem em Alcochete
Os pais de Hélder Antono na bancada, antes de se iniciar a corrida
"Nené", Bolota e Vasco Pinto, os três cabos dos Amadores de Alcochete. Só
faltou o saudoso João Mimo, fundador do grupo, falecido há um ano
Antigos e actuais: a noite foi dos Amadores de Alcochete
Pânico entre tábuas quando o quinto toiro as saltou...
Às onze da noite, uma hora depois do início da corrida, ainda estava na arena,
teimando em não recolher aos currais, o primeiro toiro da corrida... Houve
"tourada à corda" e tudo...


Miguel Alvarenga - Esperava-se mais público nas bancadas e, sobretudo, mais forcados. Mas a solidariedade entre os homens das jaquetas de ramagens esteve ontem longe de ser uma realidade em Alcochete. O que foi pena e se lamenta.
Com pouco mais de meia casa preenchida, a corrida valeu pela magistral actuação de Rui Fernandes no último toiro da noite (já madrugada), da ganadaria de José Lupi; e pela emotiva actuação dos Forcados Amadores de Alcochete, marcada pela presença de muitas antigas glórias do grupo e pela ousada e heróica tentativa do antigo cabo "Nené" de pegar o segundo toiro, um "tio" da ganadaria Lopes Branco com 515 quilos, que resultou frustrada e o mandou para o hospital, como esta manhã noticiámos. De resto e exceptuando ainda uma actuação brilhante do renovado Tomás Pinto, a corrida resultou meio enfadonha e arrastou-se ao longo de quase quatro horas, sobretudo por obra e graça do tempo que os toiros, quase todos, levaram a recolher aos currais. O primeiro, de Paulo Caetano, eram onze da noite e ainda estava a ser laçado (com eficiência, pelo moço de espadas Alberto Gama) e a corrida só começara uma hora antes... O quinto, de Rio Frio, mesmo depois de lidado, saltou as tábuas e semeou o pânico na trincheira. Havia prémio para o melhor toiro e foi justamente ganho pela ganadaria do Engº José Samuel Lupi.
Os sete toiros, oferecidos por distintas ganadarias, de excelente apresentação e trapio, com mais de 500 quilos, não eram propriamente os toiros indicados para as velhas glórias dos Forcados de Alcochete. O mais arrojado foi "Nené" e acabou no hospital. João Pedro Bolota deu excelente primeira-ajuda, como nos seus tempos, a Daniel Silva no toiro de Herdeiros de António Lampreia (quarto) e Francisco Marques "Chalana" rabejou valentemente o segundo, de Lopes Branco.
As sete pegas de ontem foram brilhantes e o grupo esteve fantástico a ajudar em todas as intervenções. A emoção, ontem, reinou em torno da forcadagem.
O cabo Vasco Pinto pegou com a técnica usual, à primeira, o toiro de Paulo Caetano; António José Cardoso, filho de "Nené", dobrou o pai no segundo toiro, da ganadaria Lopes Branco, ao primeiro intento, com arrojo e galhardia; a terceira pega, ao toiro de Fernandes de Castro, teve como autor o enorme Fernando Quintela, que se fechou com braços de ferro; Daniel Silva pegou com perfeição o quarto da noite, de Herdeiros de António Lampreia, com ajuda do histórico Bolota; o quinto toiro, de Rio Frio, foi muito bem pegado por Ruben Duarte; na cara do sexto, de Alves Inácio, esteve enorme Tomás Torre do Valle, à segunda, aguentando fortes derrotes; e o último, de José Lupi, foi pegado por Joaquim Quintela, que também aguentou barbaridades e se fechou que nem um leão. A noite de ontem foi dos Forcados de Alcochete, que prestaram a mais bonita das homenagens à memória do seu antigo companheiro Hélder Antono, morto por um toiro naquela mesma arena há 26 anos.
Dos sete cavaleiros em praça, vimos Sónia Matias desembaraçada e desenvolta; Gilberto Filipe com uma lide em crescendo, terminando com dois bons curtos em terrenos de compromisso; Filipe Gonçalves completamente em dia-não; Tomás Pinto a assinar uma lide emotiva, chegando ao público e a entrar pelo toiro dentro com ferros de parar corações; Mateus Prieto numa lide alegre e comunicativa; e João Salgueiro da Costa com altos e baixos, mas alguns ferros de boa nota.
Tudo decorreu dentro do normal em que decorre a tauromaquia lusa, ou seja, sem grandes destaques, até chegar Rui Fernandes. Chegou tarde, vindo das bandas de Madrid, onde actuara horas antes, mas mais vale tarde que nunca e valeu mesmo a pena esperar por ele. A anos luz dos restantes toureiros da noite, a atravessar momento de grande virtuosidade, Rui marcou a diferença, chegou e disse "estou aqui" - e estava. Brega inigualável, cites de arte, reuniões de muita emoção e ferros que empolgaram o público. Música, aplaudida volta à arena, a loucura em Alcochete. Triunfador máximo. Mais nada.

Já a seguir: os Momentos de Glória, as pegas uma a uma, os Famosos e as imagens dramáticas da colhida de "Nené".

Fotos M. Alvarenga