No início deste mês, anunciámos que até ao final do ano haveria grandes novidades quanto ao futuro do Campo Pequeno. E elas chegaram hoje, numa manhã de nevoeiro... |
João e Henrique Borges com Rui Bento na praça da Nazaré, antes da insolvência da SRUCP. Os empresários vão retomar a gestão do Campo Pequeno |
Paula Mattamouros e Rui Bento formaram uma dupla de sucesso ao longo de 2014. Esta foi a melhor temporada de sempre desde a reinauguração do Campo Pequeno em 2006 |
Miguel Alvarenga - Sem que uma coisa
tenha propriamente a ver com a outra, a queda do Império Espírito Santo acabou
por ditar uma reviravolta no processo de insolvência da empresa gestora do
Campo Pequeno, que se arrastava desde o início do ano, sem que isso tenha,
valha a verdade, afectado de alguma forma o normal funcionamento da temporada
tauromáquica - antes pelo contrário. O ano de 2014, gerido pelos
administradores judiciais, Drª Paula Mattamouros e João Gonçalves, acabou mesmo
por ser o melhor e o mais positivo (até em termos económicos) desde a
reabertura da praça (2006).
A notícia divulgada esta manhã pelo
jornal "Correio da Manhã", segundo a qual o Tribunal da Relação de
Lisboa anulou a sentença de insolvência da Sociedade de Renovação Urbana do
Campo Pequeno (SRUCP) proferida no início do ano pelo Tribunal do Comércio,
pelo que os anteriores empresários/administradores, as Famílias Borges e Goes
Ferreira, deverão retomar a gestão da primeira praça do país, não apanhou
propriamente de surpresa os "mais bem informados" do meio taurino
nacional.
A decisão do Tribunal da Relação depois
da reapreciação do processo (por recurso interposto pelos anteriores
administradores) era conhecida desde finais de Novembro (foi tomada dia 24) e,
se bem se lembram, no início deste mês já aqui tínhamos adiantado que até ao
final do ano surgiriam "grandes novidades quanto ao futuro do Campo
Pequeno". O próprio Rui Bento (director de Actividades Tauromáquicas da
primeira praça de toiros do país) tinha-se referido a isso, sem especificar,
durante um jantar de homenagem ao nosso repórter Emílio de Jesus realizado no
Museu Taurino de João Simões em Almeirim no dia 1 de Dezembro.
Na última terça-feira, a Drª Paula
Mattamouros (que desde o início do ano tomou as rédeas do Campo Pequeno como
administradora judicial da insolvência) anunciou a novidade (a decisão da
Relação) a todos os funcionários da empresa durante o almoço de Natal da SRUCP
- uma espécie de despedida, já que a sua missão terminou.
Com a decisão do Tribunal da Relação de
Lisboa, a sociedade gestora do Campo Pequeno - constituída pelas Famílias
Borges e Goes Ferreira (45% cada) e pelo BCP (10%) recupera o estatuto de não
insolvente e vai reassumir a gestão do espaço. Mesmo assim, "a sociedade
não está solvente, apenas foi declarada não insolvente", explica o
"Correio da Manhã", citando fonte próxima do processo.
A primeira sentença, agora anulada, foi
proferida no início do ano pelo Tribunal do Comércio de Lisboa, que deu
provimento a uma acção interposta pela construtora Opway (do grupo Rioforte,
uma sociedade do Grupo Espírito Santo, agora considerada insolvente), que
reclamava uma dívida de 30 mil euros. A SRUCP foi então considerada insolvente
por dívidas totais na ordem dos 90 milhões.
Na altura, oa administradores do Campo
Pequeno também avançaram com uma queixa na Justiça contra a referida
construtora (responsável sobretudo pelas obras no parque subterrâneo),
acusando-a de prejuízos e danos (nomeadamente, pela existência de
infiltrações), queixa essa que não terá sido tida em conta pelo Tribunal do
Comércio, mas que o foi agora pela Relação.
Em favor dos anteriores administradores
pesou também, na reapreciação do processo pela Relação de Lisboa, o facto de
não existirem quaisquer dívidas ao Estado, nomeadamente à Segurança Social e ao
Fisco e de todos eles terem "o nome limpo na praça".
Ao longo deste ano e em particular nas
últimas semanas, os habituais profetas da confusão fizeram correr os rumores de
que vários compradores se perfilavam para tomar conta (adquirir) da concessão
do Campo Pequeno (propriedade da Casa Pia), entre os quais chineses, angolanos
e outros...
Ao contrário, o naufrágio do BES acabou
por ditar uma reviravolta no caso: os Borges regressam ao Campo Pequeno (e
regressam, como D. Sebastião nunca chegou a regressar, numa manhã de intenso
nevoeiro...) e em breve realizar-se-à uma assembleia-geral da sociedade para a
reorganizar, estabelecer um plano de pagamentos e formular uma estratégia de
futuro para o Campo Pequeno.
Rui Bento (que se encontra em Espanha,
de onde regressará amanhã) continua na gestão taurina da primeira praça do país
e a Família Borges volta em força, depois de ter sido responsável por todo o
processo de reabilitação da centenária praça de toiros, reinaugurada em 2006.
Termina aqui o curto, mas marcante,
reinado da Drª Paula Mattamouros e de João Gonçalves - muito justamente
premiados pelo "Farpas" no início do mês pelo seu dinâmico e empreendedor desempenho
ao longo da temporada em prol da tradição e da cultura tauromáquica - a quem devemos aplaudir
na hora da despedida.
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com