segunda-feira, 2 de abril de 2018

S. Manços: toiros de emoção e toureiros de valor!

Miguel Moura, Francisco Palha e Luis Rouxinol Jr. ontem em S. Manços
Francisco Palha enfrentou em primeiro lugar o toiro de Fernandes de Castro,
vencedor do prémio de apresentação, com o qual teve uma lide algo irregular,
mas com dois grandes curtos já na fase final
Foi brilhante a todos os títulos a lide de Francisco Palha ao toiro de Canas
Vigouroux
Ferros de uma grande verdade: Miguel Moura com o toiro de Jorge de Carvalho
Miguel Moura pisando terrenos de compromisso numa lide de emoção e verdade
ao seu segundo toiro, da ganadaria Palha
Ferros ousados de Luis Rouxinol Jr. no toiro de Veiga Teixeira
Momentos da lide empolgante de Rouxinol Jr. com o bom toiro de Cunhal Patrício


Miguel Alvarenga - Reinou a seriedade por parte dos toiros e por parte dos toureiros e forcados, houve emoção e é de corridas assim que a Festa necessita. Depois de diversos festivais, a temporada arrancou ontem com uma corrida de toiros séria e a grande competição entre três dos mais destacados valores da nova vaga de cavaleiros, Francisco Palha, Miguel Moura e Luis Rouxinol Júnior - numa tarde soalheira e sem frio (pelo contrário) que registou uma boa enchente (três quartos) nas bancadas da praça alentejana de São Manços, sendo justíssimo louvar o empenho do empresário Rui Palma, que aos poucos vem conseguindo recuperar esta data de Páscoa nesta arena, impondo-a de novo no calendário taurino nacional. Quando os cartéis são apelativos (era o caso) e se anunciam toiros de verdade (também era o caso), o público vai. Não é assim tão complicada a fórmula de encher as praças...
Francisco Palha enfrentou em primeiro lugar o toiro de Fernandes de Castro, que ganhou o prémio de apresentação e podia também muito bem ter ganho o de bravura, porque foi um toiro duro, que se empenhou, que impôs seriedade e deu emoção, começando logo por dar ao valoroso cavaleiro um aparatoso aperto contra as tábuas. Palhinha não teve a tarefa facilitada e alternou mesmo o bom com o menos bom, destacando-se contudo em dois imponentes ferros curtos já na fase final. Ouviu música, mas teve a vergonha toureira de recusar a volta à arena, autorizada pelo director.
A segunda lide de Palha, ao toiro de Canas Vigouroux, de excelente apresentação, algo reservado, mas que acabou por vir de menos a mais, foi uma lide a todos os títulos brilhante, com cuidada brega e entradas temerárias ao pitón contrário, resultando de grande verdade todos os ferros. O cavaleiro pôs emoção na sua lide e tudo o que fez foi bem feito. Nota alta para quem tem evoluído imenso nas últimas temporadas e está definitivamente entre os de cima, a prometer mais uma campanha brilhante.
Miguel Moura lidou com a ousadia habitual o toiro de Jorge de Carvalho, algo manso e a procurar o refúgio em tábuas e que obrigou o cavaleiro a muito porfiar e a passar ao ataque, pisando terrenos de alto compromisso e deixando a ferragem em sortes empolgantes e que entusiasmaram o público. Corria tudo às mil maravilhas quando pediu mais um ferro e sofreu aparatosa colhida, sem contudo chegar a cair. Mas há colhidas e colhidas. E esta foi por que arriscou em demasia e em terrenos apertadíssimos.
No seu segundo, o toiro de Palha, que foi o mais pequeno, mas também o que tinha mais tipo de um toiro de lide (tinham quilos a mais os outros...), Miguel Moura esteve muito bem, voltando a empolgar com ferros emotivos e a brilhante brega mourista. O público correspondeu e não lhe regateou aplausos. Acabou por puxar pelo toiro, mais manso que bravo, dando-lhe importância. Triunfou.
Luis Rouxinol Júnior, não me canso de o dizer, é já um caso muito sério. Tem uma raça tremenda e um sentido de lide aprumado. Na véspera dera que falar em Serpa e ontem alcançou mais um êxito memorável no último toiro da tarde, o de Cunhal Patrício (prémio bravura), que esperou, sereno, no meio da arena, galvanizando desde logo o público com uma imponente sorte de gaiola, aguentando depois a fortíssima investida do toiro em duas voltas à arena. Com o público na mão, desenvolveu depois uma lide de muita emoção, com acertada brega e ferros de parar corações, terminando com um violino em terrenos apertados. Lide empolgante, a consagrar o muito valor de um toureiro que tem a quem sair, ou não seja ele filho do grande Luis Rouxinol.
No primeiro do seu lote, terceiro da ordem, da ganadaria Veiga Teixeira (620 quilos!), um toiro de irrepreensível apresentação (uma estampa), mas algo reservado, Luis Rouxinol Jr. andou em plano superior, evidenciando valor e muita entrega. Sofreu uma forte colhida no penúltimo ferro, mas emendou-se e acabou em pleno.
Os três cavaleiros escutaram música (justa e merecida) em todas as lides e, exceptuando Palha no primeiro, todos deram aplaudidas voltas à arena.
A corrida foi muito bem dirigida por Agostinho Borges, assessorado pelo médico veterinário Dr. Matias Guilherme e no que às pegas diz respeito, como na notícia anterior já ficou referenciado, esteve ontem em plano superior o Grupo de São Manços com três grande pegas por Rui Pelado, Jorge Valadas (ambas à primeira) e pelo cabo João Fortunato (à segunda), causando esta brilhante actuação enorme euforia entre o seu público.
Os Amadores de Évora tiveram ontem tarde menos brilhante, sendo caras João Madeira (à quarta), Miguel Direito (à terceira) e Ricardo Sousa (à primeira), que salvou a honra dos eborenses. Por morrer uma andorinha nunca acabou a Primavera e uma tarde infeliz não faz esquecer o valor e as tardes de triunfo dos valentes forcados de Évora, que esta tarde voltam a dar a cara em Sousel. Sorte para eles!

Fotos Maria Mil-Homens