Amadeu dos Anjos na sua última presença na praça do Campo Pequeno, há dois anos, na corrida de Morante de la Puebla, num camarote com o seu amigo José Jorge (Zeca) Pereira |
Numa cerimónia oficial, anos 60, com o então presidente da República, Almirante Américo Thomaz |
Anos 60: Amadeu entre Germano e Eusébio |
Com a fadista Hermínia Silva |
Amadeu dos Anjos em Maio de 2014 na "Mexicana", em Lisboa, usando da palavra na noite em que foi homenageado pela Tertúlia Tauromáquica daquela famosa pastelaria, presidida por Joaquim Tapada |
Uma amizade de muitos anos |
Amadeu nessa noite de homenagem com um dos seus netos |
Amadeu dos Anjos com Manuel Andrade Guerra num jantar no restaurante "Casa das Enguias", na Lançada, em 2013, na noite em que foi homenageado na praça da Moita pelos seus 50 anos de alternativa |
Amadeu em Salamanca com o saudoso Júlio Robles |
1991 na casa de fados "Velho Páteo de Santana": Amadeu comigo e com o Maestro Paco Camino |
Noite de fados em Lisboa no "Velho Páteo de Santana" com Paco Camino e o fadista Nuno de Aguiar |
1991 em Lisboa, com Paco Camino: na Torre de Belém e no Marquês de Pombal |
No Hotel Lezíria Parque, em Vila Franca, anos 90, depois de um Festival na "Palha Blanco": Amadeu comigo e com "Espartaco" e "Antoñete" |
A célebre tarde (anos 90) em casa do saudoso Júlio Robles. Amadeu dos Anjos (a meu lado), Paco Pallarés, José Maria Manzanares, Robles, Rui Bento e um jovem novilheiro espanhol |
Num dos nossos muitos almoços de domingo, nos anos 90, em casa de Amadeu... |
... e o nosso último almoço, na sua casa em Tróia, há quatro anos, com José Jorge (Zeca) Pereira, um dos grandes amigos de Amadeu dos Anjos |
Recorte de uma revista, anos 60: Amadeu e o seu amigo José Santareno |
Amadeu com o seu grande amigo Guerreiro, marido de Hermínia Silva, e o Rei de Itália. Em baixo, nos seus tempos de glória nas arenas |
Miguel Alvarenga - Era ainda miúdo quando conheci o Maestro Amadeu dos Anjos. Quase todos os fins-de-semana ia com o meu Pai e o meu irmão Nuno à Quinta da Fonte Santa, em A-da-Beja, às portas de Lisboa, onde vivia o Ti Afonso, avô do cavaleiro José Manuel Correia Lopes. Tinha lá aulas de equitação. O professor (o Zé Manel) era fantástico, eu é que era um péssimo aluno e nunca gostei de alturas, no cavalo “não tinha pé”…
O Amadeu também lá morava. Daí nasceu uma amizade que se viria a consolidar bem mais tarde, já perto dos anos 80 e 90. Nesse tempo, os domingos eram sagrados: ora em minha casa, ora em casa do Amadeu, em Sete Rios, almoçávamos quase sempre. O almoço fazia-o ele. Tinha tanta arte e gosto a cozinhar como o tivera a tourear.
Vi-o actuar tantas vezes. O Amadeu, que muitos recordaram para todo o sempre como o mais fino muletero português, tinha uma arte do outro mundo. Foi figura em Espanha, onde viveu grande parte da sua vida em Salamanca. E foi figura em Portugal, embora a sua carreira não tenha durado muitos anos. Mas foi um toureiro que marcou.
Pessoalmente, era uma pessoa fantástica - e com graça. Mas era um autêntico “bicho do mato”, acho mesmo que nunca conheci ninguém tão anti-social. Foi uma carga de trabalhos convencê-lo uma noite a vir jantar ao Círculo Eça de Queiroz, em Lisboa, onde a Real Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I lhe prestou uma merecida homenagem - que ele dizia não merecer.
Nesses anos, corri Portugal e Espanha com o Amadeu. Foi com ele que fui a Salamanca ao célebre festival que não se realizou porque choveu e em que acabámos todos a lanchar, a jantar e a cear em casa do saudoso Júlio Robles, também com o Rui Bento e onde tive o privilégio e a honra de conviver de perto e sei lá com quantos uísques com o Maestro José Maria Manzanares.
Com o Amadeu jantei também em Vila Franca, depois de um outro não menos célebre festival, com António Chenel “Antoñete”, Juan António Ruiz “Espartaco” e Manolo Cortés.
Com o Amadeu conheci o seu grande amigo Paco Camino, quando a seu convite esteve um fim-de-semana em Lisboa. Percorremos a cidade, tirámos fotografias no Marquês de Pombal, na Torre de Belém, fomos uma noite aos fados no “Velho Páteo de Santana”. Aprendi tanto de toiros e do passado com eles!
Em casa do Amadeu conheci o Eusébio num almoço de um dia 10 de Junho. Inesquecível. Eram muito amigos. Com Amadeu passei um dia inesquecível em Fuentes de Oñoro, depois dos carnavais em Ciudad Rodrigo, em casa do famosíssimo crítico taurino Alfonso Navalón.
Fizemos passagens de ano juntos, com a Ana, minha ex-Mulher e os meus filhos, que eram ainda pequenos e tão bem recordam ainda hoje o Tio Amadeu. Com o meu Pai.
Com o Zeca Pereira, antiga glória da forcadagem e seu grande amigo, tivemos há quatro anos o nosso último almoço, ia lá eu imaginar que era o último, até tínhamos outro marcado para breve, em Tróia, naquela que era a casa dos seus sonhos e por cuja construção tanto batalhou naquele tempo.
Há mais ou menos dois anos, deixara a casa de Tróia e fora viver para, dizia ele, “uma espécie de lar, um hotel onde estou muito bem, mas a única chatice é não me deixarem ser eu a cozinhar…”, na Praia das Maçãs.
Pelo Natal, como todos os anos, falámos. Voltámos depois a estar juntos um dia, há três meses - e marcámos um almoço, com o João Duarte, que estava agendado para os próximos dias.
Esta tarde, ligou-me o Rui Bento. Está em Espanha, onde esta noite a empresa do Campo Pequeno recebe as honrarias de uma homenagem em Baeza. “Ó Miguel, sabe alguma coisa do Maestro Amadeu? Disseram-ma agora aqui em Espanha que houve qualquer problema”.
Liguei para o telemóvel do Amadeu. Tocou, tocou e ninguém atendeu. Falei para o Zeca Pereira, que não sabia de nada e prontificou-se de imediato a pôr-se em campo.
Pouco depois ligou. E confirmou. O nosso Amadeu morreu esta manhã. Estava a levantar dinheiro num multibanco na Praia das Maçãs e caíu para o lado. Teve um ataque cardíaco, pensa-se, fulminante. Ainda foi socorrido pelo INEM e pelos Bombeiros, mas já não havia nada a fazer.
Tinha 82 anos, era o que diziam as biografias. Mas até podia ter mais. Ou menos. O Amadeu era daquelas pessoas que não gostam de dizer a idade e tiram sempre alguns anos.
Percebia de toiros como poucos e com ele aprendi imenso. Agora guardo a saudade. Lembro os momentos, tantos, que com ele partilhei. Já não vamos ter o tal almoço. Provavelmente, hoje, as televisões nem dele falarão. Amadeu dos Anjos não era futebolista. Era Toureiro. E dos tempos em que os toureiros eram ídolos - como ele foi.
Até um dia, Maestro!
Fotos D.R./Emílio de Jesus, Fernando Clemente e M. Alvarenga