quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

1961: quando "Cantinflas" actuou no Campo Pequeno

O famoso actor mexicano Mário Moreno “Cantinflas”, grande aficionado da Festa Brava, actuou na praça de toiros do Campo Pequeno num festival a favor do Banco dos Olhos, em 10 de Setembro de 1961, enfrentando uma bezerra e provocando a euforia e as gargalhadas do público que quase enchia a praça de Lisboa. Na foto de cima, o popular actor com o saudoso bandarilheiro e director de corrida Joaquim Silva. E em baixo, dois momentos da sua actuação na Catedral do Toureio nacional.

O cartel era de luxo, formado pelos cavaleiros Manuel Conde, Pedro Louceiro e David Ribeiro Telles e pelos matadores Diamantino Vizeu e Manuel dos Santos, bem como os Forcados de Montemor.


Uma crónica do saudoso José Manuel Severino publicada no nº 249 (22 de Setembro de 1961) da desaparecida revista "Festa", de Gentil Marques, recorda assim a presença de "Cantinflas" na arena do Campo Pequeno:


"Após ovacionadas cortesias dos cavaleiros, matadores e demais artistas, fez-se um ligeiro intervalo com a natural impaciência do público, que ansiosamente queria ver o resto. Finalmente apareceu. Abriram-se as portas do Pátio de Cavaleiros e no meio de enorme gargalhada surgiu Mário Moreno "Cantinflas".

Calças remendadas e a cair, camisola azul, gabardina de farrapo e chapéu. A enrolar-lhe o corpo, um lindo capote de passeio e, em passos desencontrados, gingão e imponente, Mário Moreno atravessou a praça.

É impossível descrever a ovação. Apenas podemos dizer que foi tão grande e estrondosa que, após o seu passeio, o público obrigou-o a dar a volta e saída aos médios. Um delírio. Entre barreiras, os flashs dos fotógrafos que antes tinham invadido a arena relampejam dezenas e centenas de vezes e "Cantinflas", com um sorriso nos lábios, para todos posava, ao mesmo tempo que autografava os mais variados objectos.

Após a actuação do terceiro cavaleiro, Mário Moreno dirige-se ao burladero. Abrem-se as portas do curro e o bicho tarda em surgir. "Cantinflas" sai do esconderijo e espreita. O riso dos assistentes, ante as atitudes do artista, é enorme e duplica de intensidade.

Quando aparece na arena um bezerro insignificante, mas engraçado, "Cantinflas" toureia de capote entre gargalhadas e olés, pois além da graça das situações, Mário Moreno sabe tourear. Isto foi o prólogo da sua actuação, porque tudo mais que se passou entre "Cantinflas" e o bezerro não pode ser relatado. Só visto.

No final deu várias voltas com muitas prendas, serpentinas e papelinhos em autêntico Carnaval de gargalhadas.

Ficaram por certo satisfeitos todos os seus admiradores e sem dúvida também o próprio artista, por ter contribuído para essa obra fabulosamente humana que é o Banco dos Olhos".


Fotos Ezequiel de Sousa/revista "Festa"/Arquivo