Miguel Alvarenga - Tive a sorte e a honra de ter conhecido bem Adelino de Carvalho e dele ouvir, com a simplicidade que o caracterizava, muitas das histórias que viveu ao longo dos seus 42 anos como forcado e sobretudo aquelas que diziam respeito ao tempo em que foi cabo do último grupo de forcados profissionais, o de Lisboa.
Conheci-o nos anos 80 por intermédio do meu querido amigo Joaquim Alfredo Guaparrão (que morreu no último sábado), que com ele mantinha uma sólida e bonita relação de amizade. Jantámos muitas vezes e assistimos juntos a algumas corridas.
Adelino de Carvalho foi um forcado de referência - e era um extraordinário ser humano, uma pessoa simples e discreta. Muitos dos que hoje escrevem e falam de toiros não se terão sequer apercebido da sua existência. Ficaram por fazer homenagens que ele merecia - e lhe eram devidas. José Cáceres rendeu-lhe bonito tributo e dedicou-lhe em 2019 um programa especial no canal Campo Pequeno TV, dando a conhecer a história, o valor e a importância da sua passagem pelo mundo dos toiros. Foi através dessa entrevista que os mais novos descobriram, há três anos, Adelino de Carvalho.
Não o via há uns tempos. Falávamos uma ou outra vez. Sabia que estava bem. Que todos os dias, no tempo em que se podia, bebia o seu café e trocava dois dedos de conversa com os amigos lá por Vendas Novas, onde vivia. E onde esta noite morreu, em sua casa, depois de se ter sentido mal.
Apesar da sua avançada idade (96 anos), nada fazia prever este desfecho. Estava bem, mantinha a lucidez, a memória, a graça e a simplicidade com que contava as suas histórias. Fui surpreendido esta manhã pelo telefonema do meu amigo José Prates, também seu amigo e conterrâneo (Adelino nascera em Riachos, mas vivia há muitos anos em Vendas Novas). Ficámos todos mais pobres. E cada vez mais sós.
Adelino de Carvalho não foi um homem qualquer. Foi um forcado importante. Dos mais notáveis que passaram pelas nossas arenas.
Que em paz descanse.
Foto D.R.