Triunfo da ganadaria: Raquel de Carvalho deu volta à arena no sexto novilho com Gonçalo Alves. Em baixo, Francisco Canales, o triunfador da tarde em Vila Franca |
Miguel Alvarenga - Seis novilhos verdadeiramente "de campeonato" da ganadaria do Engº Jorge de Carvalho, sem muita força, mas de investidas francas e alegres, constituíram a tónica triunfal da novilhada popular que esta tarde se realizou em Vila Franca de Xira, com a "Palha Blanco" muito bem composta de público (fotos de baixo - cerca de 2.500 espectadores) em tarde de entradas gratuitas - uma extraordinária promoção da empresa Tauroleve em prol da Festa e com atenção especial ao toureio a pé.
A ganadaria do Engº Jorge de Carvalho atravessa um momento importante, como ficou comprovado nas últimas temporadas e esta tarde se confirmou na "Palha Blanco". Os novilhos, de apresentação e trapio q.b. para um espectáculo deste tipo, serviram, mas foram muito mais além dessa "servidão": foram nobres, bravos e de jogo excelente. Pode mesmo dizer-se que houve muito mais novilhos que toureiros.
O triunfador maior foi, indiscutivelmente, o jovem rejoneador espanhol Francisco Canales, pupilo do cavaleiro António Maria Brito Paes, evidenciando boa noção de lide e de terrenos, muito bem montado (o cavalo castanho dos curtos é fabuloso), empolgando o público com notável brega e ferros de muita emoção, fazendo a batida na cara do toiro e cravando com acerto, rematando com arte e bom gosto. Foi uma agradável surpresa para quantos, como eu, nunca o tinham visto tourear.
Mariana Avó, a jovem cavaleira amadora que abriu praça, cumpriu a papeleta sem grandes alardes, com uma lide limpa e valorosa, mas sem explodir. O novilho era de nota alta e o director João Cantinho autorizou o ganadeiro a dar volta à arena, mas o Engº Jorge de Carvalho declinou a honraria, provavelmente por se tratar ainda do primeiro exemplar lidado.
Os Forcados Amadores de Vila Franca, com a sua formação juvenil, realizaram duas pegas ao primeiro intento, com os forcados da cara muito bem - Bernardo Gomes e Miguel Faria, filho do antigo cabo Jorge Faria - e os ajudas a fecharem com coesão. Um grupo consagrado que amanhã celebra 90 anos de existência, a mostrar que tem o futuro assegurado... para os próximos 90. Nas cortesias e nas voltas à arena, destaque para o pequeno forcado-mascote do grupo (foto de baixo), a provar isso mesmo. Há futuro - e bom - no glorioso Grupo de Vila Franca.
Tourearam a pé os novilheiros espanhóis Miriam Cabas (aluna da Escola de Toureio do Campo de Gibraltar), Joaquín Caro (Escola José Cubero "Yiyo" de Madrid), Dário Romero (Escola Taurina de Badajoz) e o nosso Gonçalo Alves (Escola de Vila Franca), que prestava provas para praticante.
Com novilhos fantásticos pela frente, provavelmente como tão cedo não lhes vão aparecer iguais, os jovens toureiros desaproveitaram, mercê de alguma verdura ainda, as oportunidades que o Engº Jorge de Carvalho ontem lhes deu para fazerem um brilharete.
A jovem Miriam Cabas é valente, demonstrou querer e evidenciou raça: Joaquín Caro esteve bem com as bandarilhas e desenvolto com a muleta; Dário Romero brilhou com enorme poderio a bandarilhar, mas baixou depois o tom numa apressada faena de muleta.
O português Gonçalo Alves começou com muita decisão e atitude, esperando o novilho de joelhos frente à porta dos sustos, desenhando uma ousada e aplaudida "larga afarolada" de joelhos em terra, seguindo depois com arrimadas "chicuelinas".
As bandarilhas não são o seu forte, o que é estranho, uma vez que tem como mestre aquele que foi nessa sorte o primeiro de todos, o Maestro Vitor Mendes. Nesse tércio, Gonçalo foi um desastre. Com a muleta, reencontrou-se e foram seus os mais profundos muletazos da tarde. Sofreu aparatosa colhida, ficou com o traje rasgado, mas prosseguiu com empenho e querer. Não foi a prova de praticante sonhada. Deu volta à arena (o público apoiou-o e esteve sempre a seu lado) com Raquel de Carvalho, filha do Engº Jorge de Carvalho - para cuja ganadaria ficam os grande louros da tarde de ontem na "Palha Blanco".
Fotos M. Alvarenga