sábado, 26 de agosto de 2023

Encontramo-nos na Moita! Mai nada!


Miguel Alvarenga - Nem vocês calculam as mensagens (todas elogiosas, nem uma contra) e os telefonemas (todos elogiosos, nem um contra) desde ontem, depois do que aqui escrevi sobre a tourada do Campo Pequeno.

"Estás bruto, mas tens razão", disse-me um amigo que vocês todos conhecem. "Estás zangado comigo, fiz alguma coisa mal?", perguntou-me, preocupado, o meu querido amigo Pombeiro.

Nada disso, meus queridos. Não estou bruto, nem nunca estaria zangado contigo, Pombeirinho. Somos amigos há uns cinquenta anos. Continuamos amigos pelos próximos cinquenta anos. Caí foi na realidade - que é diferente. Acho que andava adormecido. Já chega!

Não me zanguei com ninguém. Se calhar, zanguei-me só comigo próprio. Toda a gente me dizia nos últimos anos que eu conseguia escrever bem de todos e nunca dizer mal de ninguém, que estavam todos sempre bem e etc. E a realidade, confesso, é que, se calhar, pequei por isso. Procurei tapar o sol com uma peneira. Tentar não dizer mal de um regime que, afinal, é mesmo preciso derrubar. Com um Golpe de Estado, seja com o que for, mas é preciso denunciar esta aldrabice toda.

A Festarola de hoje não tem minimamente a ver com a Festa séria, de respeito, de Senhores, que o meu Pai me apresentou quando eu era miúdo e que me entusiasmou, até, imaginem, a escrever sobre ela.

Conheci Manuel dos Santos, conheci Américo Pena, José Cardal, Alfredo Ovelha, Nuno Salvação Barreto, depois Manuel Gonçalves, Raul Nascimento, Rogério Amaro, o "Nené", os Empresários com letra grande - e alta.

Tive a sorte de viver esse tempo. E é por isso, entendam-me por favor, que não tenho pachorra para suportar o tempo de agora. Tudo isto é uma mentira, um faz de conta.

Não vos vou maçar muito. Vou só tentar explicar por que escrevi o que escrevi. Irritou-me, enervou-me, a porcaria da tourada de quinta-feira no Campo Pequeno. Porcaria mesmo, foi o que escrevi. Valeu pela seriedade dos toiros de Murteira Grave, pela emoção das pegas dos grupos de Montemor e de Évora. O momento mais giro e mais emotivo, para mim, foi o show do anti-taurino Peter Janssen, um número que devia haver sempre - porque agita e mexe com a malta. E as touradas não.

Moura Jr. esteve muito bem, é o melhor. Mas alguém imagina, noutros tempos, o Mestre Batista, o Veiga, o Zoio, o Senhor David, tourear ao som da banda, levantar a praça em euforia e dar aplaudida volta à arena... depois de ter deixado os ferros todos caídos no chão? Isto é o quê? E os bandarilheiros nem sequer se dão ao trabalho de ir apanhar os ferros espalhados pela arena, de tentar disfarçar aquela vergonha? Acontece e a mal bate toda imensas palmas?... Isto é o quê? É para se levar a Festa a sério?...

Palha esteve enorme no segundo toiro e tentou tudo no outro, o desembolado. 

E o espanhol Romero deixou bem claro que prometei muito nos últimos anos, é verdade, mas é também verdade que ainda não tem estaleca para vir a Lisboa tourear dois toiros - e Graves, ainda por cima. 

A sua primeira intervenção foi um desnorte completo. A segunda já não tive pachorra para ver, dizem que se esforçou e esteve melhor, acredito. Já o vi bem e respeito-o como toureiro. Daí a vir a Lisboa tourear dois toiros, são outras histórias (que conheço bem e posso contar, se quiserem...)...

E o Campo Pequeno também não tem nada a ver com o que eu conheci, onde me iniciei, onde vi grandes Toureiros e enormes touradas. Hoje o Campo Pequeno é uma Feira Popular folclórica, onde todos aplaudem o que nem sabem se é para aplaudir. Saudades do glamour que tinha a primeira praça do país. Da seriedade e do respeito que impunha. 

O piso da arena está fatal (aquilo já não é uma praça de toiros, queriam que o piso estivesse bom?...). Todos lamentam ter só quatro touradas. Se nem tiver uma, não vem daí mal nenhum ao mundo. A Festa a sério já há muitos anos que acontece noutras praças. Não em Lisboa.

Posto isto, o meu querido Pombeirinho perguntou-me: e não vais apoiar a Feira Taurina? Vou, claro. Vou assumir todos os compromissos que existem com todas as empresas e promover no "Farpas" as corridas que nos comprometemos a apoiar. Mas fartei-me mesmo de touradas. Não contem comigo antes de dia 12, na Feira da Moita. Apoiarei a Feira Taurina de Lisboa, tranquilo Pombeiro, mas não tenho o mínimo interesse em ver nenhuma das duas touradas, em voltar à Feira Popular. Tenho interesse, sim, em ver os dois Fernandes e o "Juanito" e o Tomás Bastos no dia 12 na Feira da Moita - isso sim- E outras corridas que se seguem. Almeirim, Évora, por exemplo. A Feira de Vila Franca - onde há aficion e respeito. E glamour, aí sim.

Agora vou de férias. Mas de férias a sério. Escusam de telefonar - que ficam já a saber que não vou atender. O "Farpas" não vai parar. Ficam notícias e cartazes agendados e tenho comigo o computador, para qualquer coisa de importante que aconteça. Mais nada.

Fartei-me mesmo. Com touradas destas, não vamos muito longe. Nem isto vai ter um grande futuro.

Foto D.R.