domingo, 29 de julho de 2012

"Caso Lousada": a versão dos intervenientes

Ricardo Levesinho (à esquerda) e Inácio Ramos Júnior (à direita),
dois dos intervenientes no "Caso Lousada", aqui fotografados
com Mestre David R. Telles no festival de abertura de temporada
em Dona Maria (Sintra)

Foto Joaquim Mesquita/@Facebook/Arquivo



"Apesar de João Oliveira já ter estado envolvido, há três anos, num escândalo que deu muito que falar (a organização de uma corrida de toiros em Vizela a favor de uma criança com paralisia cerebral, sendo depois acusado de 'burlar' a família e não lhe ter entregue a receita do espectáculo), nós todos demos-lhe o benefício da dúvida e 'embarcámos' nesta corrida de Lousada" - começa por explicar-nos Ricardo Levesinho (na foto de cima, este ano no festival de Dona Maria, com Mestre David R. Telles e Inácio Ramos Jr., outro dos envolvidos na bronca de ontem em Lousada (Porto), onde se não realizou a corrida que estava agendada.
As versões diferem e nas redes sociais circula mesmo o cartaz que reproduzimos à direita, com a fotografia de João Oliveira, o organizador da corrida, que em entrevista exclusiva ao "Farpas", que publicaremos hoje, acusa Levesinho de "o ter roubado" e anuncia que vai avançar amanhã com uma queixa-crime "por roubo" contra o conhecido empresário, que ontem em Lousada representava, como apoderado, o cavaleiro Pedro Salvador. Uma entrevista bombástica para ler hoje aqui no "Farpas".
Nas declarações que esta manhã prestou ao "Farpas", Ricardo Levesinho recorda que "as negociações com o senhor João Oliveira começaram há cerca de quatro meses", ao longo dos quais "ele foi sucessivamente adiando os seus compromissos".
Levesinho foi também o intermediário entre Oliveira e a ganadaria Palha, propriedade de João Folque de Mendoça, cujos toiros (novilhos) estavam anunciados  para a corrida de ontem em Lousada.
"Os toiros seriam embarcados durante o dia de sexta-feira e por várias vezes avisei João Oliveira que, por norma da ganadaria, eles não sairiam da Herdade da Adema sem serem pagos. Prometeu sucessivas transferências bancárias... que nunca fez. Na sexta, soubemos que tinha comprado toiros de Francisco Luis Caldeira, ao senhor de Santo Estevão que é proprietário da camada deste ano do ganadeiro de Campo Maior...", conta Ricardo Levesinho.
O acordo de João Oliveira com os toureiros - Alberto Conde, Pedro Salvador e a praticante Verónica Cabaço - era, segundo Levesinho, "pagar os cachet's combinados à hora do sorteio", ou seja, ao meio-dia. Ficara acertado, segundo também o apoderado de Pedro Salvador, um cachet de 2.500 euros para o seu toureiro, um valor igual para o cabeça de cartaz Alberto Conde (representado pelo apoderado Inácio Ramos Júnior) e um cachet inferior para a toureira praticante (cujo apoderado é o jornalista Pedro Pinto).
"A partir da hora do sorteio, João Oliveira foi-nos apresentando várias desculpas, dizia que quem vinha trazer os cheques eram os homens da Associação do Melão, que davam a cara como organizadores da corrida e que por volta das duas da tarde receberíamos. Fomos todos (apoderados, bendarilheiros, etc.) almoçar e mantivemo-nos unidos. Às duas regressámos à praça e nada de cheques..." - conta Levesinho.
Entretanto, prossegue o conhecido empresário e apoderado, "conseguimos obter o telemóvel do presidente da Associação do Melão e ficámos perplexos quando ele nos disse, e depois apareceu na praça e confirmou pessoalmente, que não tinha nada a ver com a corrida, que só dera o nome à organização, mas que materialmente não tinha quaisquer responsabilidade, que não ia passar cheques nenhuns".
No meio da confusão, o director de corrida Nuno Nery pretendia abrir as portas da praça para o público ir entrando e foi disso impedido pelo proprietário da desmontável, o também cavaleiro tauromáquico Agostinho Silva "porque ainda não recebera o dinheiro todo do aluguer da mesma". Este, exaltado, chegou a "ameaçar Nuno Nery" dizendo que a praça "era sua" e que "quem mandava era ele".
Agostinho Silva já recebera 3.250 euros. João Oliveira pagou-lhe "mais mil", com a garantia de que "abriria as portas e a corrida se dava". Perto da hora do início do espectáculo, segundo nos disse João Oliveira (entrevista exclusiva para ler aqui ainda hoje), os apoderados "aceitaram receber parte do dinheiro, assegurando a realização do espectáculo, aceitando também que receberiam o resto no final".
Levesinho e Inácio Ramos Jr. receberam (e assinaram um papel confirmando que tinham recebido) "mil euros cada", por conta dos cavaleiros que ambos apoderam, respectivamente, Pedro Salvador e Alberto Conde. E Pedro Pinto, apoderado da praticante Verónica Cabaço, "recebeu 600 euros".
E é aqui que as versões diferem. Ricardo Levesinho diz-nos que recebeu os mil euros "por conta das despesas" e que com esse dinheiro "pagou ao proprietário da camioneta de cavalos (alugada) que transportara as montadas de Salvador" e "dividiu o mal pelas aldeias, dando algum dinheiro ao proprietário dos toiros, que ia ser aquele que mais prejudicado ficaria, pois acabaria por receber também apenas mil euros pelo curro de toiros...".
"Se a corrida fosse para a frente, estávamos todos a dar uma corda ao proprietário dos toiros para se enforcar, pois não iria receber. Foi por isso que todos decidimos não ir para a frente com a corrida e viemos embora" - esclarece Levesinho.
Pedro Pinto, por seu turno, disse ao "Farpas" que "João Oliveira não tem a culpa toda":
"Não podem atirar as culpas todas ao homem e andar a circular na internet esse cartaz a dizer que é procurado, porque o homem não fugiu. Esteve sempre dentro da praça e deu a cara. Há que questionar também que responsabilidades tinha a tal Associação do Melão. Dão o nome, dão o número de contribuinte, assumem-se como organizadores da corrida e depois descartam-se e dizem que não têm nada a ver com aquilo?...".
O apoderado de Verónica Cabaço confirma ao "Farpas" que quando recebeu "os 600 euros" e quando os outros dois apoderados receberam "mil euros cada", foi "com o compromisso de que iríamos com a corrida para a frente e era essa a nossa disposição". E diz:
"Eu e o Inácio ficámos 'pendurados' depois de o Ricardo Levesinho se ter ido embora e ter mandado embarcar os cavalos do Pedro Salvador, decidindo que não toureava...".
Pedro Pinto lamenta o incidente e reconhece que o mesmo "em nada beneficiou a imagem da Festa Brava. Numa altura destas, com tantas forças contrárias, não devíamos dar estes tristes exemplos...".
Ricardo Levesinho, nas declarações prestadas esta manhã ao "Farpas", contradiz a versão de Pedro Pinto e assume que "a decisão de não realizar a corrida foi todos e não só minha".
Nuno Nery elaborou um relatório sobre o incidente, que amanhã de manhã entregará na Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC). João Oliveira avança com uma queixa-crime "por roubo" contra Levesinho. E no meio desta trapalhada, espera-se, ansiosamente, pelas tomadas de posição, face ao sucedido, da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET), da Associação Nacional de Toureiros (ANDT) e da Federação Prótoiro - que não podem, nem devem, existir "só por existir". Exige-se que tomem posição quando sucedem coisas destas - ou não?...

Fotos D.R.