sábado, 21 de setembro de 2019

O estranho silêncio de quem manda...



Miguel Alvarega - Uma semana depois do acidente sofrido na praça de toiros da Moita pelo repórter fotográfico Fernando Clemente (ainda internado no Hospital de São José), é espantoso como ainda ninguém assumiu posição alguma para de uma vez por todas pôr ordem nas trincheiras das nossas praças.
Estranha-se que a Inspecção-Geral das Actividades Culturais continue em silêncio. Estranha-se que a Associação de Empresários Tauromáquicos ainda não se tenha pronunciado. Estranha-se que a Federação PróToiro, que emite comunicados por tudo e por nada, tenha escondido a cabeça na areia neste caso.
Normalmente, depois de casa roubada, põem-se trancas na porta. Mas, por cá, continua tudo de portas abertas. Se calhar, à espera de novos roubos…
É necessário e urgente que alguém tome medidas de uma vez por todas. A trincheira de uma praça de toiros é um palco exclusivo para os artistas. Pode sê-lo, também, para alguns (em número substancialmente mais reduzido) repórteres fotográficos devidamente credenciados. Mas uma boa foto também se consegue desde a barreira. O mal, aqui, é que a barreira não dá visibilidade a quem fotografa. E a maioria dos repórteres querem ser vistos na trincheira a fotografar…
Tudo o mais é apenas e só vaidade.
Não se justifica que um grupo de forcados tenha a acompanhar os que estão fardados uma falange de antigos pegadores, de antigos cabos, de simples amigos do grupo. Não se justifica que um ganadero esteja na trincheira, a menos que pretenda dali dar indicações aos seus toiros… Não se justifica que as trincheiras estejam quase sempre povoadas de empresários de outras praças, de toureiros que não toureiam, de amigos e primos dos toureiros que toureiam, de familiares do empresário, de amigos dos amigos do empresário, etc. e tal.
Há que ter um rigor maior e há que dar maior seriedade a um palco que não é propriamente a Avenida da Liberdade. Mas é preciso, é necessário e é urgente, que isso seja assumido por quem manda ou por quem tem competências para pôr ordem nesta barafunda.
Muitas praças não têm burladeros suficientes para albergar tanto turista e tanto curioso que anda a passear pela trincheira. Outras nem burladeros têm. E algumas, como a de Évora, têm burladeros onde é mais perigoso estar do que fora deles, por lá caber um toiro… ou mesmo dois.
Outro caso importante - muito importante, mesmo - diz respeito à assistência médica nas nossas praças. O que teria acontecido a Clemente se o Dr. António Peças e a sua equipa não estivessem naquela noite de serviço na praça da Moita? Em Agosto passado, uma médica que prestava serviço na praça de toiros de Tomar veio a público afirmar que a enfermaria não tinha as mínimas condições e que se fosse preciso suturar algum doente teria que o transferir para o hospital, porque ali não havia sequer meios para o fazer. Estranha-se que tenha dito o que disse e tenha assumido e assinado o termo de responsabilidade para que o espectáculo se realizasse.
O acidente de Fernando Clemente deveria ter dado azo a muitas reflexões e servir de exemplo para que se acabe com a desorganização que se passa nas nossas trincheiras.
Mas, pelos vistos, tudo parece ter ficado como estava. Até ai próximo acidente.

Fotos M. Alvarenga