domingo, 5 de março de 2023

Alcochete: novilhos de Silva Herculano "responsáveis" por triunfos de cavaleiros e forcados em agradável festival a favor dos Bombeiros

Animado festival abriu temporada em Alcochete. Em baixo, o
ganadeiro Henrique Silva Herculano, um dos grandes 
triunfadores da tarde, dando volta à arena no quinto novilho

Miguel Alvarenga - Foi agradável, entretido, sem intervalo e sem demoras, as pegas foram todas à primeira exceptuando uma, a quarta, os seis cavaleiros de um atractivo e diversificado elenco estiveram à altura dos belíssimos novilhos-toiros da ganadaria Silva Herculano, com apresentação e comportamento irrepreensíveis, dignos de uma corrida, isto é, "toiros a mais" para um festival, o ganadeiro Henrique Silva Herculano foi muito merecidamente honrado com volta à arena no quinto (o melhor de todos) e o público saíu satisfeito. 

Resumindo e concluindo, a temporada em Alcochete começou da melhor forma e os cartéis que se seguem, na Feira de Agosto, são de alto calibre. Margarida e António José Cardoso continuam, de cabeça levantada, a honrar o legado de seu Pai, o nosso querido e saudoso "Nené".

Estes festivais de princípio de temporada, ainda sem ambiente propício, isto é, sem sol nem moscas e com algum frio, têm por norma objectivos de beneficência e o de ontem era a favor da compra de um veículo ligeiro de combate a incêndios para os Bombeiros Voluntários de Alcochete. O público correspondeu à chamada e preencheu dois terços da lotação da praça ribeirinha. Houve ambiente. E houve entusiasmo.

Para isso, repito, muito contribuiu a excelente qualidade dos novilhos-toiros de Silva Herculano. Nobre e a entregar-se o primeiro. Também com nobreza, mas algo distraído o segundo. Mais reservado e algo incómodo o terceiro, mas a cumprir, como agora se diz. De excelente nota o quarto. Bravo o quinto, o melhor da tarde. Bom o último, mas que acabou por vir a menos, prejudicado por um violento choque com o cavalo de Tristão. Em suma, um curro com chama, não houve um novilho mau.

Abriu praça Gilberto Filipe. Só vê-lo montar enche as medidas a qualquer aficionado. Toureou a gosto, aproveitando as claras investidas do bom novilho, cravando ferros de nota alta, evidenciando a maestria que lhe confere uma já longa e digníssima trajectória. Gilberto é um grande cavaleiro - Bi-Campeão Mundial de Equitação de Trabalho - e um toureiro dos de cima. Teve ontem um fantástico início de temporada.

Filipe Gonçalves veio um dia do Algarve distante disposto a conquistar um lugar de destaque num mundo onde não tinha antecedentes nem padrinhos. Fez-se à custa do seu valor, subiu a corda a pulso e consolidou um lugar. Ontem e depois de uma temporada anterior em que toureou menos que o habitual, deixou a mensagem de que está outra vez na luta. Ferros ousados, a pisar terrenos de compromisso, a alegria costumeira e a empatia com o público foram as notas altas de uma lide que agradou.

Manuel Telles Bastos, um toureiro "à antiga", começou muito bem com dois ferros compridos cravados de praça a praça, depois desceu o tom com uma ou outra passagem em falso, o director de corrida acabou por lhe conceder música já na fase final da lide e Manuel subiu outra vez o tom, terminando em beleza com dois curtos de excelente execução.

O quarto cavaleiro foi Miguel Moura. Atitude e afirmação são atributos maiores do mais novo ginete da histórica dinastia de Monforte. Tentou receber o novilho com uma sorte de gaiola que não resultou por o oponente "ter virado a cara" e não ter investido em direcção ao cavalo, Emendou Miguel com um primeiro bom ferro comprido e a seguir abriu o livro e fez gala da brega mourista e da emoção que imprime na cravagem. Ladeios arriscados, ferros em terrenos de atrevimento e o público com Miguel. Grande início de campanha e fantástico triunfo.

António Prates andou meio apagado no ano passado, depois de duas temporadas de grande fulgor em que se afirmou com uma das maiores certezas da nova vaga. Voltou a unir-se ao apoderado António José Cardoso e isso ter-lhe-à dado uma nova moral. A sua actuação de ontem em Alcochete marca o início de um novo capítulo na sua tão promissora carreira. Voltámos a ver o atrevido e ousado Prates de outros anos. Jogou a pele, deu a cara, conquistou o público de novo. A prometer uma temporada de sucesso.

Fechou praça o praticante Tristão Telles de Queiroz frente a um novilho-toiro que não facilitou, que tinha teclas e se adiantava no momento da reunião. Valente como as armas, Tristão foi à luta com a bravura de sempre. Sofreu um violento toque, que só por pouco não provocou uma queda. O embate acabou por diminuir o novilho, que já de si não era pêra doce. Tristão esteve bem e arrimou-se, mas não chegou a romper, não teve música e no final ficou entre tábuas, recusando vir à arena.

Todos os bandarilheiros estiveram acertados, mas é de justiça destacar a arte dos capotes de Duarte Alegrete, Nuno Oliveira, Nuno Silva, Ricardo Alves, Miguel Batista e Jorge Alegrias, sem desprimor pelos demais.

Os forcados de Alcochete e do Aposento da Moita tiveram uma tarde grande e, sobretudo, uma tarde em que abriram as portas ao futuro e puseram à prova novos valores, demonstrando que num e noutro grupo há forcados em ebulição para assegurar a continuidade.

Já a seguir, vamos aqui mostrar as sequências das seis pegas. Os novilhos de Silva Herculano foram pelo seu caminho, sem complicar, à excepção do último, que ensarilhou e proporcionou uma grande pega ao jovem José Maria Duque, do Aposento da Moita, que esteve enorme a toureá-lo na incerta e complicada investida e se fechou com decisão consumando a melhor pega da tarde.

Por Alcochete foram caras, todos à primeira, João Dinis, João Pedro e Daniel Ferraz. Pelo Aposento da Moita pegaram João Freitas à primeira, Rafael Silva à segunda e o já referido José Maria Duque à primeira.

Houve brindes de alguns cavaleiros aos Bombeiros Voluntários de Alcochete, um dos Amadores de Alcochete ao aficionado presidente da Câmara e outro ao futebolista Gonçalo Guedes, do Benfica, que ontem honrou a tauromaquia com a sua presença na praça. A última pega do Aposento da Moita foi brindada à falange de antigas glórias do grupo que assistiam ao festival e a anterior foi brindada aos empresários Margarida e António José Cardoso.

Fábio Costa foi um excelente director deste festejo e esteve ontem assessorado pelo médico veterinário José Luis da Cruz.

Apesar do frio (não tanto como se pensava), valeu a pena ter ido ontem a Alcochete. Toiros, toureiros e forcados aqueceram o ambiente e proporcionaram a todos uma excelente tarde de toiros (apesar de serem novilhos!).

Alcochete tem sempre um sabor diferente.

Fotos M. Alvarenga

Gonçalo Guedes, jogador do Benfica, assistiu ontem ao festival
e desceu à trincheira para receber o brinde dos Amadores
de Alcochete, sendo muito aplaudido