quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Balanço da Temporada 2023: Tomás Bastos, Tertúlia "O Natural" e João Perdigão

Inicialmente pensámos redigir umas linhas debruçando-nos, em jeito de balanço, sobre a excelsa época realizada pelo “nosso” novilheiro vilafranquense Tomás Bastos. Porém, por duas ordens de razão não o faremos. A primeira, porque outros, e muitíssimo bem, valha a verdade, já o fizeram antes de nós. Referimo-nos à revista “Novo Burladero” que num trabalho de pesquisa jornalística verdadeiramente louvável trouxe à estampa uma minuciosa súmula do que foi a brilhante primeira temporada do “nosso” (mais que) promissor novilheiro sem picadores. Bem-haja Sr. Diretor da referida revista pela qualidade do trabalho desenvolvido.

A segunda, e quiçá para nós, Tertúlia “O Natural”, mais importante, assenta no facto da época não ficar apenas marcada pela afirmação inequívoca de um toureiro que “promete” reconduzir ao futuro cultural e identitário de Vila Franca o melhor que a nossa terra teve no passado: um matador de toiros que seja figura mundial do toureio! De facto, a temporada fica, também e infelizmente, marcada pelo desaparecimento terreno do Presidente da Direção da nossa Tertúlia, porventura, ou melhor, sem dúvida, o mais acérrimo aficionado da terra que nos viu nascer e amamos incondicionalmente. 

Escrevemos este texto porque, hoje e sempre, a amizade não é, nem nunca poderá circunscrever-se a uma qualquer palavra vã, vazia, oca e desprovida de qualquer sentimento.

E o nosso amigo João Perdigão (na foto, ao lado de Tomás) interpretou, fielmente e mais uma vez, esse sentido de amizade, ao tomar a iniciativa de organizar, a 2 de Abril último na Herdade da Baracha, o evento “Vamos vestir o toureiro”, procurando reunir o apoio financeiro suficiente para comprar traje de luces, traje curto, capotes, muletas, estoques, montera e todo o restante material necessário para o tão difícil “arranque” do Tomás em arenas espanholas e portuguesas, muitas delas com o prestígio taurino de Sevilha, Bilbao, Valência, Puerto de Santa Maria ou, intramuros, Vila Franca e Moita do Ribatejo.

Já anteriormente, aquando das comemorações dos 25 anos da nossa Tertúlia, o João Perdigão havia convidado o Tomás Bastos, através de seu pai, o nosso conterrâneo e figura dos bandarilheiros David Antunes, para actuar na Baracha, lidando uma bezerra para deleite dos Tertulianos presentes e restantes convidados e amigos.

Tomou, ainda, o João Perdigão, a iniciativa de juntar um grupo de (fiéis) amigos e solicitar em reunião com Sr. Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca – Fernando Paulo Ferreira – o apoio que faltava para comprar um “capote de passeio”. Bem-haja pelo apoio e sensibilidade demonstrada, Sr. Presidente. Os “grandes” líderes não hesitam no processo de tomada de decisão e V.exa., em momento algum, hesitou no apoio ao Tomás.

Ainda conseguiu o João, já distante do seu melhor, assistir ao debute em Espanha do “seu” menino, “nosso” menino, a 15 de Abril em Puebla del Prior. Fez a viagem de carro com os nossos Tertulianos de “O Natural” António Montez, José Amaral e, sempre inseparáveis, o seu fiel escudeiro José Ibraim, encontrando-se em Campo Maior comigo, Paulo Malico, com o Tomás Bastos, com seu pai David Antunes e, ainda, com o ex-Presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, João Muacho, que, entretanto, e desde o dia 2 de Janeiro, acolhera o Tomás em sua casa como se de um filho seu se tratasse.

Já não conseguiu assistir o João Perdigão - estava hospitalizado - ao debute de “luces” do Tomás no dia 2 de Maio em Arroyo de San Serván. Ainda assim, disse-me: “Paulo, grava tudo! Quero ver a lide completa até o Tomás passear as orelhas”. Gravei e enviei-lhe de imediato. Viu o “seu menino” passear as duas orelhas e o rabo.

Uma palavra de agradecimento para ti, amigo João Perdigão: grande impulsionador deste arranque taurino do Tomás e um dos últimos românticos da festa que Vila Franca conservou até este ano.

Eu diria: um aficionado da nossa geração que, felizmente para nós, viveu fora do seu tempo cronológico e que apenas encontrou expressão semelhante em Vila Franca com os grandes aficionados já desaparecidos das gerações anteriores, que se juntavam religiosamente todas as noites no mítico Café Central que Álvaro Guerra imortalizou em livro, para discutirem o que os apaixonava: a nossa festa!

Apetece-me dizer: o João Perdigão pertenceu, por direito próprio, a uma Vila Franca de outros tempos, infelizmente já quase extinta! Um grande abraço para ti amigo, onde quer que estejas!

Finalmente, uma última palavra para o Tomás Bastos: vai cumprir o teu sonho “miúdo”, mais que o teu sonho, o teu desígnio! Estás entregue, e bem entregue, a uma figura do toureio - Cristina Sánchez - depois de, nesta época, teres assimilado os ensinamentos do maestro Luís Reina na emblemática Escola de Tauromaquia de Badajoz. Bem-haja maestro Luís Reina, e igualmente maestro “El Cartujano”, pelo importante contributo que tiveram no processo de desenvolvimento do “nosso” menino.

O Tomás sabe que o caminho faz-se caminhando… e que a vida não reflete apenas as metas atingidas, mas também, e fundamentalmente, a pessoa em quem nos tornamos na nossa caminhada! O Tomás sabe perfeitamente disso e vai viver na plenitude o dia de hoje, projetando, simultaneamente, o de amanhã. 

E o Tomás sabe igualmente, caros amigos, que passar pela vida não é a mesma coisa que passar por um bar, parar e pedir uma cerveja, e depois pedir outra. Na vida, meus caros, não há direito a uma segunda rodada. 

Então, mais importante que o ter é o ser, e o Tomás quer ser figura do toureio… e nós, Tertúlia “O Natural”, estaremos aqui para ajudar.

Tomás: o impossível custa apenas um pouco mais, mas consegue-se!

Por último, caros amigos e conterrâneos vilafranquenses: o Tomás saiu de Vila Franca a 2 de Janeiro último, carregando consigo o Sonho e a Ilusão de um dia chegar onde outros chegaram, ou quiçá mais além. Caríssimos: quando saímos de um determinado local, deixamos sempre alguma coisa de nós e levamos sempre alguma coisa dos outros.

E o Tomás deixa-nos a esperança e o sonho, e leva de nós o mais precioso dos bens: a ilusão de uma terra, Vila Franca, e de uma região, o Ribatejo, com uma cultura, uma identidade e uma tradição únicas no Mundo, que está ávida do surgimento de uma nova figura do toureio mundial.

Como escreveu o grande poeta Fernando Pessoa: “Não sou nada, nunca serei nada, Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Tomás, sê feliz e que o sonho do sucesso te acompanhe!

Assim se resume a temporada taurina da nossa Tertúlia “O Natural”, agridoce sem dúvida, com as vicissitudes da vida a proporcionar-nos, numa só época, o melhor e o pior que podemos experienciar neste mundo. 

Ainda assim, longe de nós permitirmos que as adversidades que vamos encontrando no caminho da vida sejam, em momento algum, maiores que o tamanho da nossa “alma”.

Até dia 1 de Março de 2024 em Olivenza, se tudo correr como desejamos.


P.S. - Caro João, só para ti que ninguém nos ouve: sabemos que não estamos, nem nunca estaremos, à altura do legado que nos deixaste, mas prometemos dar o melhor de nós em cada momento para sermos o melhor que conseguirmos ser.


Em nome da Tertúlia “O Natural”

O Presidente da Mesa da Assembleia Geral, 

Paulo Malico Sousa


Foto D.R.