domingo, 16 de março de 2025

Público encheu praça de Évora na primeira corrida do ano

Foto José Canhoto

Miguel AlvarengaÀ semelhança do que acontecera no ano passado (em que se realizou a Festa do Forcado de manhã e o Festival da Gala da Tauromaquia à tarde), os empresários António Alfacinha e Carlos Ferreira (com boa cara, óptima disposição e felizmente a recuperar muito bem do problema de saúde que lhe bateu à porta no último ano, força, Carlos!) apostaram ontem de novo na promoção de "um dia em cheio", voltando a realizar o sempre emotivo e animado Concurso de Cernelhas pela manhã (com as bancadas muito bem preenchidas) e à tarde, na falta do festival da Gala da Tauromaquia (que este ano e ao que sabemos, não se vai efectuar), optaram por uma corrida com um cartel que alguns criticaram, tinha pouco a ver com Évora, diziam, mas que resultou, chamou público à praça (cheia, à tarde, outra vez) e acabou por ser um agradável espectáculo.

Exceptuando Marcos Bastinhas, a restante composição do cartel, no que aos ginetes dizia respeito - Manuel Telles Bastos e António Prates - tinha o selo de Pedro Penedo - apoderado destes dois cavaleiros e também representante da ganadaria São Marcos, do Engº Francisco Lobo de Vasconcellos. Nada a apontar. Porque razão não deveria ser assim?... É crime? É alguma coisa incorrecta?

Artisticamente, a corrida resultou. Sem grandes deslumbramentos, sem uma história por aí além, mas foi um espectáculo agradável, o público saíu satisfeito e a realidade é que esta que era a primeira corrida de toiros da temporada (até aqui só se realizaram festivais, nenhuma corrida) encheu a praça de Évora e marcou pela positiva o arranque da nossa temporada.

Os toiros de São Marcos, de apresentação irrepreensível, bonitos, não incomodaram, proporcionaram boas lides aos três cavaleiros e não fizeram mal aos forcados. Não foi uma corrida propriamente de grande emoção. Os exemplares da ganadaria São Marcos não transmitiram muito, mas "não chatearam ninguém". O pior foi o terceiro, que cedo evidenciou a sua mansidão, procurando o refúgio nas tábuas. Os outros cinco "deixaram-se" e "serviram", como agora se diz e escreve, proporcionando aos artistas e ao público uma tarde divertida, de aficion e com momentos agradáveis.

Os cavaleiros apresentaram-se em excelente forma, com as quadras "no ponto", nem parecia que esta era a primeira corrida da temporada. 

Manuel Telles Bastos fazia ontem anos e antes de iniciar a lide do seu segundo toiro, quarto da tarde, foi brindado com os Parabéns e Você pela Banda da Associação Filarmónica Liberalitas Julia (de Évora) e aplaudido carinhosamente pelo público. Bastinhas, num aplaudido gesto de companheirismo e amizade brindou-lhe depois a sua segunda lide.

Tanto no primeiro, como no quarto da tarde, Manuel Telles Bastos esteve igual a si próprio, ou seja, com a classe o brilhantismo que o caracterizam, lidando e toureando com verdade, como mandam as leis. 

No quarto da ordem cometeu o abuso de mais um ferro e ia estragando a festa. Falhou a cravagem, a seguir pôs mais um e levou um encontrão valente e à terceira lá deixou um ferro bom. Mas, às vezes, é preciso saber sair em beleza, sem pedir mais ferros.

Marcos Bastinhas marcou, como sempre, a diferença. Brindou a primeira lide a sua Mulher e a segunda ao aniversariante Manuel Telles Bastos, mas na altura do brinde e depois de reclamar a presença do companheiro na arena, o cavalo deu um empurrão ao Manuel e só por pouco não o atirou ao chão... Coisas que acontecem...

Lide emotiva e vibrante de Bastinhas, que repetiu a dose no quinto toiro, um exemplar de nota alta, mas que cedo se cansou, sentando-se na arena quando o cavaleiro se preparava para terminar com o par de bandarilhas, sua imagem de marca sempre aclamada pelo público. Por pouco, não havia par, mas o toiro lá se pôs de pé e Bastinhas conseguiu assim terminar em beleza.

A temporada ainda agora vai no adro e Bastinhas voltou a mostrar que é diferente. Hoje em dia, salvo raríssimas excepções, os cavaleiros toureiam todos da mesma maneira, é sempre mais do mesmo. O único diferente é o Marcos. E isso faz sempre valer a pena segui-lo em todas as praças onde se anuncie.

António Prates já não tem aquele cavalo fantástico dos "quiebros", mas mantém a raça e a alma de toureiro valente, arriscado e ousado. Nem sempre os ferros resultaram perfeitos e brilhantes, mas ficou a imagem de um jovem que não desiste de ir em frente e que reúne condições e aptidões para chegar longe.

Foi perfeita e valorosa a lide do terceiro toiro, o manso que destoou dos irmãos e que se refugiou em tábuas. Prates resolveu os problemas com desenvoltura e saber. Com risco e emoção. Lide de grande valor e muita raça.

A última lide foi mais fácil, com um toiro mais colaborante, mas sem grande espavento e alguns ferros resultaram passados. Não teve o brilhantismo da primeira. Prates brindou esta sua segunda actuação aos representantes da Aja Sul-Agricultores do Sul.

Bem os bandarilheiros das quadrilhas dos três cavaleiros: Paulo Sérgio e Francisco Honrado, Gonçalo Veloso e João Prates "Belmonte", João Bretes e Jorge Alegrias.

No fim da corrida e depois de um momento único, que aqui retratamos em baixo, com um grupo de miúdos a fazer pegas a uma tourinha e a comprovar que a tauromaquia é arte com futuro, apesar dos contras, saíu à arena um sétimo toiro da ganadaria do Engº Jorge de Carvalho, com o qual tomaram as respectivas alternativas, como se fazia antigamente, os jovens bandarilheiros  José Maria Maldonado Cortes e Diogo Fernandes. Lidaram bem de capote e bandarilharam com valor. João "Belmonte" e João Bretes foram, respectivamente, os padrinhos das duas alternativas.

Pegaram os Amadores de Évora, que já estavam anunciados, a que depois se juntou, com todo o merecimento, o Grupo de Monsaraz, por ter ganho o Concurso de Cernelhas matinal no evento Dia do Forcado, com a dupla composta por Miguel Valadas e André Claudino.

As pegas não foram complicadas, os toiros de São Marcos em nada dificultaram o labor aos forcados, o que se traduziu também em alguma falta de transmissão e de emoção-maior. Mas viram-se boas pegas (que já vamos mostrar em pormenor a seguir) e os dois grupos estiveram em bom plano.

Pelos anfitriões pegaram o cabo José Maria Caeiro (à segunda tentativa), João Maria Cristovão e Martim Lobo, ambos à primeira e este último com uma grande e muito aplaudida pega. Bem os companheiros nas ajudas nas três intervenções dos Amadores de Évora.

Os Amadores de Monsaraz, que esta temporada cumprem vinte anos da sua fundação, protagonizaram ontem a quinta intervenção da temporada, primeira em Portugal, depois de uma triunfal digressão de quatro corridas no México.

Foram forcados de cara, os três ao primeiro intento, o novo cabo João Tiago Ramalho, André Mendes e Miguel Valadas, todos eles bem e melhor ajudados pelos companheiros, concretizando três pegas muito ovacionadas.

Os toiros foram recolhidos a cavalo, com saber e arte, pelos campinos irmãos Vitor e Francisco Cabaço - que ninguém se lembrou de premiar com uma aplaudida volta à arena...

Esta corrida foi correctamente dirigida por António Santos, que, confesso, desconhecia exercer estas funções de director de corrida. Já no ano passado, disserem-ma, fora director na praça de Évora, a sua cidade, mas alguma desatenção minha (acontece) e o facto de em 2024 não ter calhado assistir a nenhuma corrida na praça da Cidade-Museu, levaram a que fosse para mim uma surpresa ver ontem na cadeira do "inteligente" este bom aficionado, que conhecia como apoderado, agora ex, do cavaleiro Francisco Núncio. Esteve António Santos muito correcto, exigente a conceder música, dirigindo com aprumo e aficion. Aplausos. Esteve assessorado pela reputada médica veterinária Ana Gomes.

Em suma, um dia bem passado em Évora. Um sucesso com duas casas cheias de manhã e à tarde. Um bom arranque de temporada a nível nacional e, em particular, na emblemática Arena D'Évora. Onde só lamento mesmo terem deixado de existir barreiras propriamente ditas e ser quase impossível fotografar da primeira fila (suposta barreira) pelas traves que estão por diante...

Fotos M. Alvarenga

Momentos únicos vividos ontem depois da corrida em Évora.
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