Mesmo sem toureiros de Monforte (facto muito criticado por alguns...), a praça encheu ontem para assistir a um agradável festival |
Com a "fava" da tarde, um novilho de Pinto Barreiros sem qualidade, a maestria e a arte de Luis Rouxinol impuseram-se e asseguraram o nível habitual do grande cavaleiro |
António Maria Brito Paes voltou a deixar grande ambiente, mostrando-se "renovado" e reafirmando o sucesso da véspera em Serpa |
Marcos Bastinhas em grande, autor de uma lide para recordar! |
Emoção e verdade numa excelente lide de Duarte Pinto |
Jacobo Botero teve uma lide com altos e baixos, mas não desarmou e terminou em plano superior, não tendo estado, no entanto, num dos seus melhores dias... |
1ª pega teve na cara o forcado Cláudio Cruz (Amadores de Portalegre), que se fechou à primeira, bem ajudado pelo grupo |
Luis Marques (Amadores de Arronches) fez à primeira a 2ª pega do festival |
A 3ª pega (Amadores de Monforte) foi executada à segunda por Luis Samarra |
Pelos Amadores de Portalegre, pegou o consagrado Nelson Batista à primeira tentativa, consumando a 4ª pega da tarde de ontem em Monforte |
João Rosa (Arronches) executou a 5ª pega ao primeiro intento |
Miguel Alvarenga - Nem a ausência de
toureiros da terra (três Mouras e dois Caetanos) afastou público das bancadas,
bem pelo contrário, no festival que os Forcados de Monforte organizaram este
domingo na praça "João Moura (pai)", cumprindo a tradição taurina da
Páscoa, que outrora era romaria obrigatória à Monumental de Lisboa, para a
abertura da temporada no Campo Pequeno (sempre cheio, uma data que infelizmente
se perdeu no tempo, coisas que já lá vão...).
Monforte foi ontem praça cheia, com três
quartos das bancadas preenchidos... e só há mesmo a lamentar, como nota
negativa, a excessiva (desnecessária e incompreensível) presença de gente na
trincheira, na maior parte, caras conhecidas da nossa Festa, mas que nada
tinham a ver com o espectáculo de ontem...
Àparte esse deslize (que pode não ter
sido apenas responsabilidade sua), é de inteira justiça aplaudir a boa direcção
de corrida de Marco Gomes e apoiá-lo, num momento em que, todos o sabemos, lhe
quiseram "fazer a cama" e afastá-lo do desempenho das funções de
delegado técnico da IGAC, sem se perceber muito bem por que razão o fizeram e
por alma de quem se mexeram tantos cordelinhos nos bastidores para o procurar
demover de prosseguir. Marco Gomes aguentou-se "à bronca" e ficou,
que isto não é propriamente "o da Joana"...
Parêntesis feito para aqui expressar o
meu apoio ao regresso de Marco Gomes (sem ter existido propriamente um
afastamento), passemos ao festejo em si, em que há que destacar o comportamento
aceitável dos novilhos de Joaquim Alves (três da ganadaria Pinto Barreiros e
três de São Torcato), exceptuando o primeiro, a que o sempre-bem Luís Rouxinol
deu a volta com o sau saber e a sua louvada experiência, mas que não tinha, na
verdade, qualidades de lide. Rouxinol esteve superior, estreou um craque novo,
o "Equs do Zambujal" e, com a arte que lhe é peculiar, levou a bom
porto o barco, porque sabe e porque é toureiro dos bons.
Curiosamente, vá lá a entender-se o
critério, foi este o novilho "oferecido" ao matador Nuno Casquinha
para, no final e à porta fechada, procurar pôr em prática os seus reconhecidos
atributos, obviamente que sem os resultados desejados, repito, pela má
qualidade do exemplar de Pinto Barreiros. Não podia ter sido outro dos
novilhos? Assim e pese embora o esforço e o empenho do toureiro, coadjuvado
pelo eficiente bandarilheiro Filipe Gravito, aquilo mais pareceu um presente
envenenado ofertado ao valoroso Casquinha. Pena...
A Rouxinol seguiu-se António Maria Brito
Paes, que sem matéria prima para repetir o triunfo da véspera em Serpa, teve no
entanto uma lide bem desenhada e com bonitos pormenores que confirmam estar, de
facto, numa nova etapa, mais maduro e mais moralizado, capaz de se vir a
destacar nesta temporada que mal começou ainda, mas em que deu já sinais de vir
decidido a romper de vez. É um toureiro que tem tido altos e baixos, mas a que
reconhecemos valor e postura para vir acima de um momento para o outro. O
momento parece ser este.
Bastinhas - sempre!
Marcos Bastinhas marcou no terceiro novilho
do festival o primeiro ponto alto de uma tarde até então meio morna. Muito bem
montado e decidido a manter bem alto o apelido e todo o historial que durante
mais de três décadas seu Pai (a recuperar favoravelmente) defendeu e impôs nas
arenas, o jovem Marcos toureou "à Bastinhas", com brega impecável,
cavalos fantásticos, a alegria paterna e os rasgos de euforia com que ao longo
dos anos o Maestro Joaquim Bastinhas fez história em todas as praças -
incluindo o arrojado par de bandarilhas, que resultou emotivo e perfeito, e
também o salto do cavalo no fim da lide, uma marca da tauromaquia de Bastinhas.
Esteve em grande plano e a marcar com a glória costumeira da casa uma imagem e
um selo que fazem falta à nossa Festa. Toureou de verdade, com emoção e rigor,
pondo a carne no assador, empolgando, emocionando - e são esses os atributos
que motivam os aficionados a ir às praças. Muito bem, Marcos Bastinhas!
Duarte Pinto foi o quarto cavaleiro da
tarde, após um breve, mas não excessivo, intervalo. Desenvolvendo boa brega,
emocionando com sortes frontais, batendo ao piton contrário, pondo à prova a
verdade emotiva do toureio que faz falta, esteve o cavaleiro de Paço d'Arcos em
muito bom plano - no seu estilo clássico, ousado e de boa nota. Fez tudo bem
feito e o público reconheceu o valor de uma séria actuação não lhe poupando
merecidos aplausos numa aplaudida volta à arena.
Branco de novo em alta
Rever João Maria Branco era uma das
maiores expectativas neste festival, depois de na temporada passada ter estado
praticamente "fora de combate" em arenas nacionais, baseando a sua
actividade em Espanha e em praças de menor relevo. E a verdade é que o jovem
cavaleiro de Estremoz surpreendeu pela positiva, fazendo-nos acreditar que já
trazia umas vinte corridas toureadas, tal o aprumo dos cavalos e a desenvoltura
do cavaleiro, de moral novamente em alta, apesar de se tratar da primeira
actuação do ano. Demonstrou muito "trabalho de casa" e um empenho
enorme durante o defeso, que permitiu que tudo funcionasse em pleno e
alcançasse um triunfo memorável que, em circunstâncias normais e se
"isto" fosse, taurinamente falando, um país a sério, lhe teria aberto
as portas de par em par para as grandes corridas e as melhores praças nesta
temporada. Mas a verdade é que, segundo os seus apoderados Ignacio Rios e Pepe
Cotán, o toureiro não tem ainda um único contrato para Portugal... será
possível? Será justo?
João Maria Branco emocionou com ferros
de excelente execução, esteve certíssimo na brega, nos remates e em recortes de
arte e bom gosto. Uma actuação acima da média e que fez dele, juntamente com
Bastinhas, um dos grandes triunfadores de Monforte. Merecedor, por isso, da
atenção das grandes empresas. Se esperavam que estivesse "adormecido"
depois dos acidentes de percurso de uma ascendente carreira que muito prometia
e de repente parecia ter ficado estagnada, a verdade é que João Maria disse
ontem em Monforte que ainda cá está e, mais que isso, que está de novo decidido
a retomar e recuperar o lugar que lhe é devido - e que, por mérito (muito)
próprio, é seu de novo.
Jacobo Botero recebeu o novilho com a
vara e parou-o "à antiga usança espanhola", sem intervenção dos
bandarilheiros, num gesto de afirmação e com a atitude de quem vem para
triunfar. Houve depois um ferro falhado e um choque frontal com o novilho que
acabaram por retirar algum brilho à lide do valoroso rejoneador colombiano que,
apesar de não ter estado nos seus melhores dias, não desanimou e não perdeu os
papéis, recompondo-se com dois bons ferros finais, um em sorte de
"violino", justificando deste modo que Marco Gomes lhe concedesse a
volta à arena.
Três grupos, seis pegas
Pegaram três grupos de forcados e a
fava, no que às pegas diz respeito, coube aos anfitriões, os Amadores de
Monforte (brindados pelos outros dois grupos e também por cavaleiros num
festejo que era por eles organizado), que executaram a sua primeira pega
(terceira da ordem) à segunda, por Luis Samarra; e a última, a mais complicada,
a sesgo e à quarta, por Carlos Falcão, a emendar Pedro Peixoto, que saíu
combalido e amparado por companheiros, depois de um fortíssimo embate na cara
na primeira tentativa, havendo neste momento de aflição a destacar um valente e
muito valoroso quite de Francisco Paralta, cabo dos Amadores de Portalegre.
Cláudio Cruz e Nelson Batista, ambos à
primeira, defenderam a honra da jaqueta de Portalegre, enquanto que pelos
Amadores de Arronches foram caras, também à primeira, Luis Marques e João Rosa.
Exceptuando a sexta, as restantes pegas não tiveram dificuldades de maior e os
novilhos de Pinto Barreiros e São Torcato permitiram o bom desempenho da
forcadagem, sem criar complicações.
Em bom plano, exibiram-se todos os
bandarilheiros participantes.
O festival contou com a honrosa presença
de Gonçalo Lagem, o aficionado presidente da Câmara de Monforte, a quem o grupo
da terra brindou uma pega.
Fotos Maria Mil~Homens