sábado, 2 de outubro de 2021

Campo Pequeno: a noite das capas negras e das jaquetas azuis

Injustiçados durante anos - e ontem provaram bem o valor que têm e a injustiça de que foram vítimas - os valorosos Forcados Académicos de Coimbra, capitaneados por Ricardo Marques, foram este ano finalmente aceites no seio da Associação Nacional de Grupos de Forcados e ontem tiveram uma estreia a todos os títulos triunfal na primeira praça do país, vencendo o concurso de pegas e gritando bem alto que não há grupos de forcados de primeira e grupos de forcados de segunda. Os valentes forcados das capas negras (com que se apresentaram nas cortesias) e das jaquetas azuis honraram a cidade de Coimbra - e dignificaram a arte de pegar toiros com duas fantásticas pegas ao primeiro intento.

Tiveram menos sorte com os toiros, mas nem por isso menos valor e menos dignidade, os Amadores de Arronches e os Amadores de Monforte.

Sérios, duros, com força e raça e muito peso, os toiros de Charrua não foram fáceis para as pegas. Eram toiros para forcados de barba rija!

Aqui ficam, para começar a série de reportagens que ao longo do dia vos vamos trazer sobre a memorável corrida de toiros que ontem encerrou a temporada do Campo Pequeno, as sequências das seis pegas.

Fotos M. Alvarenga





Luis Marques, dos Amadores de Arronches, pegou o primeiro
Charrua da noite (606 quilos) com grande raça e brilhantismo.
Recuou bem, aguentando a fortíssima e violenta investida,
fechou-se com decisão e aguentou um grande derrote sem
nunca sair. O toiro desviou-se do grupo, mas depressa todos
os companheiros ajudaram em força e com enorme coesão,
contribuindo de forma decisiva para que a pega ficasse
concretizada ao primeiro intento. Grande pega e grupo bom!

















Para a cara do segundo toiro (632 quilos) foi João Falcão, dos
Amadores de Monforte, que brindou a Guillermo Hermoso de
Mendoza. Sofreu dois poderosos derrotes nas duas primeiras
tentativas. À terceira foi de vez, com excelente intervenção do
primeiro ajuda e de todo o grupo. No final veio à praça
agradecer as ovações do público juntamente com Pablo
Hermoso e o maioral da ganadaria Charrua, que teve honras
de ir à arena










Francisco Gonçalves foi para a cara do terceiro Charrua (560
quilos), naquela que era a estreia dos Académicos de Coimbra
no Campo Pequeno. Brindou aos céus, não sei a quem, mas
presumo que à memória do nosso querido João Cortesão,
cujos dois filhos António e Jaime foram cabos deste grupo e
que até ao fim da vida lutou para que o "seu" grupo actuasse
um dia em Lisboa. Grande pega ao primeiro intento, com o
forcado a templar a investida, a fechar-se que nem uma lapa
e o grupo a ajudar superiormente. No final, veio à arena
agradecer as calorosas ovações do público com João Moura
Caetano e teve ainda mais uma chamada especial no centro
da praça. Estreia em glória dos Académicos de Coimbra
na primeira praça do país















O quarto toiro, que seria lidado por Rouxinol e pegado pelo
Grupo de Arronches, foi devolvido aos currais por manifesta
deficiência e por isso lidou Pablo Hermoso aquele que deveria
ter saído em quinto lugar e a pega, como lhe competia, foi
executada pelos Amadores de Monforte, que brindaram a
João Moura Jr. (primeira foto de cima). Para a cara foi o
experiente e valoroso forcado Vitor Carreiras, que sofreu na
primeira tentativa um violento e aparatoso derrote,
consumando à segunda com garbo e valor. Foi aplaudido
no final com Pablo Hermoso. O toiro pesou 586 quilos



















Para pegar o quinto toiro (605 quilos, o sobrero, que foi
lidado por Luis Rouxinol) saltou à praça Rodrigo Abreu, dos
Amadores de Arronches. O toiro "não queria ser pegado por
nada deste mundo" e o forcado foi quatro vezes à cara, sendo
sempre violentamente derrotado, apesar do esforço de todos
os companheiros, que também nunca viraram a cara. A
pega - que fora brindada aos Académicos de Coimbra - acabou
por ser concretizada à quinta tentativa, a sesgo, com os
ajudas "em cima". Salvou-se a honra do convento, mas 
sem o brilhantismo que o grupo desejava








A sexta pega, ao último toiro da noite (650 quilos) foi mais
uma grande pega dos Académicos de Coimbra à primeira
tentativa, executada com muito valor e excelente técnica por
João Tavares. O grupo voltou a estar muito bem a ajudar.
Foi a pega vencedora do concurso. O júri foi ontem constituído
pelos cabos dos três grupos