Aprendi com Vera Lagoa - e nunca mais esqueci -, que foi grande e corajosa Jornalista e, mais importante que isso, fantástica professora que me ensinou a estar de cabeça erguida - e sem medo! - nesta tão apaixonante profissão; aprendi, dizia eu, que não se guardam queixas na gaveta. E que as verdades são para ser contadas. Doa a quem doer. Vamos lá, então! Aquilo que aqui venho contar, ao contrário do que já fizeram constar por aí nas últimas horas, não é contra Pombeiro, nem é contra Charraz, nem é contra Nunes. Eu não escrevo coisas contra. Conto verdades. Sou jornalista. Esta é a minha missão.
Houve quem me pedisse segredo, como se fosse possível esconder uma realidade que todo o mundo já comenta em surdina por aí. Como se fosse possível continuar a enfiar a cabeça dentro da areia. Como se fosse possível prolongar por mais dias uma verdade que já está sobre a mesa, mas que há ainda quem a queira esconder...
Há duas semanas que o mundinho taurino nacional, hoje, na sua esmagadora maioria, composto por uma gentinha que não tem absolutamente nada a ver com os Senhores daquele tempo em que Manuel dos Santos me abriu a porta para eu entrar neste meio (e com que orgulho o fiz na altura!), anda alvoraçado com informações e contra-informações sobre a trapalhada (vergonhosa) que envolve as quatro touradas da mini e insignificante temporada do Campo Pequeno, que foi outrora o grande esplendor da tauromaquia lusitana e nos dias de hoje praticamente não conta para o campeonato...
A história, todos a conhecem e todas a comentam. Não venho aqui contar novidade nenhuma. Luis Miguel Pombeiro (empresa Ovação e Palmas), o empresário a quem Álvaro Covões adjudicou as (quatro) datas para organizar touradas no Campo Pequeno, teve no ano passado uma parceria com os empresários Samuel Silva e Jorge Dias. A união ainda tem muita coisa por resolver, mas entretanto Pombeiro juntou-se a José Maria Charraz, antigo cabo dos Forcados de Beja e empresário (de sucesso) em alguma praças alentejanas, casos das de Beja, de Moura e de Cuba.
Há três semanas, desentenderam-se, depois de antes se terem entendido muito bem e até terem montado praticamente os quatro cartéis da mini-temporada lisboeta, chegando mesmo o empresário alentejano ido a Sevilha (sem Pombeiro) contratar Diego Ventura (foto de cima), que já não actua em Lisboa há oito anos.
Mas veio o desentendimento. Charraz não queria que o rejoneador espanhol Andrés Romero toureasse no Campo Pequeno por estar há um ano de candeias às avessas com o seu apoderado António Nunes, depois de um período em que foram grandes amigos. Pombeiro tinha compromissos com Nunes e isso passava pela entrada de Romero num dos cartéis da mini-temporada da capital.
Charraz não condescendeu. Romero, não. Bateu com a porta. Pombeiro foi ter com Nunes. E assinou um contrato de parceria. Ou seja: de repente ficou com dois parceiros... que, ainda por cima, não se podem ver um ao outro...
António Nunes começou a estabelecer contactos com apoderados e preparava-se para fazer grandes alterações nos elencos montados por Charraz. De um momento para o outro, a confusão baralhou as hostes e toda a gente comentava a trapalhada. Havia os cartéis de Charraz e havia também os cartéis de Nunes. E Pombeiro não havia meio de se definir. De esclarecer se o parceiro era um ou era outro... Na foto de cima, Nunes e Charraz quando eram amigos, no burladero da empresa na Monumental de Badajoz. Tempos que já lá vão...
Ontem, finalmente, houve fumo branco. Não está ainda confirmado oficialmente, nem provavelmente o estará nos próximos dias, mas Pombeiro esteve reunido o dia inteiro com Charraz em Beja e também com Pedro Penedo (que se isto fosse um filme do 007 desempenharia o papel de agente duplo...). Charraz voltou a ser o parceiro que era desde o princípio do ano e que há duas semanas tinha deixado de ser. Nunes, por seu turno, encontra-se nos Açores e ainda não saberá que foi ultrapassado nesta trapalhada.
É provável, mais que provável, que António Nunes não reaja bem à reviravolta que lhe tirou o sono. Neste momento encontra-se nos Açores. Mas pode vir a caminho um anticiclone e uma tempestade das valentes. Diria mesmo: um tsunami. Vem aí a Guerra Fria! O empresário afirmou nos últimos dias ter um contrato de parceria assinado com Pombeiro e jurou que não abria mão desse estatuto. "O novo parceiro da Ovação e Palmas sou eu e mais ninguém" - disse esta semana ao "Farpas". Mas depois… Nunes promete agora levar as coisas a um patamar judicial que põe em causa as corridas em praças adjudicadas à Ovação e Palmas. "Andou três semanas a fugir de mim como o Diabo foge da Cruz...", afirma.
Pombeiro justifica a escolha de Charraz para parceiro alegando ter em sua posse documentos assinados por diversos toureiros e ganadeiros que "se recusavam a actuar no Campo Pequeno se o parceiro da Ovação e Palmas não fosse Charraz". E todo o mundo sabe que isto havia de acabar mal. Com um ou com o outro e qualquer que fosse a escolha... O pior está, por isso, para vir. E pode mesmo passar por uma acção judicial imposta por Nunes para impedir a realização de touradas em Lisboa. E a culpa é de quem?... Não é de Nunes, concerteza.
Os toureiros (cavaleiros) que já estavam contratados por Charraz e que tinham avisado Pombeiro de que "com Nunes não iriam", agora voltam a ir, Ventura incluído. E Charraz acabou por ceder a já contratou Romero para a corrida de seis cavaleiros em Agosto.
Pombeiro e Charraz projectam agora apresentar os quatro cartéis na próxima quarta-feira, dia 11 de Junho, no Salão Nobre do Campo Pequeno. A ver vamos se isso acontece... Eu, por mim, estarei nesse dia, se Deus quiser, no Reino dos Algarves, longe do Salão Nobre. E difícilmente me apanharão este ano nalguma das quatro touradas de Lisboa. Acreditem ou não, já tenho pachorra nenhuma para o Campo Pequeno. Que foi outrora o grande esplendor da tauromaquia lusitana e hoje praticamente já não conta para o campeonato...
Fotos M. Alvarenga e D.R.