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| Rafael de Paula fotografado pelo "Farpas" em 2023 num festival taurino em Huelva |
Morreu hoje com 85 anos o mítico matador de toiros gitano Rafael de Paula, que verdadeiramente se chamava Rafael Soto Moreno. Encontrava-se já bastante debilitado há alguns anos.
Nascido no bairro de Santiago em Jerez de la Frontera em 11 de Fevereiro de 1940, iniciou em 1956 na finca de Fermín Bohórquez os primeiros treinos para iniciar a actividade de toureiro, vestindo o primeiro traje de luces em 1957 na praça de Ronda. Debutou com picadiores em 2 de Maio de 1958 em Jerez e a 6 de Setembro do mesmo ano estreou-se em Las Ventas, Madrid.
No ano de 1960 e depois de participar em vinte novilhas, toma a alternativa em Ronda numa corrida goyesca, apadrinhado por Júlio Aparício, com o testemunho de António Ordoñez e toiros de Atanásio Fernández, cortando uma orelha a cada um dos seus toiros.
Confirmou a alternativa catorze anos depois de a ter tomado, em 28 de Maio de 1974 em Madrid, apadrinhado por José Luis Galloso, com o testemunho de Júlio Robles, com toiros de Luis Osborne.
Em 5 de Outubro desse ano, na praça madrilena de Vista Alegre, delicia tudo e todos com duas faenas de antologia e, apesar de não matar bem, foi premiado com duas orelhas e saíu em ombros. Alternava nesse dia com António Bienvenida e Curro Romero frente a toiros de Fermín Bohórquez e um de Pérez-Tabernero. Esta foi a corrida que lançou em definitivo Rafael de Paula, toureiro que era já muito conhecido e admirado na sua terra, mas que com este triunfo começou a ter mais contratos e a integrar os cartéis das principais feiras de Espanha.
Em 17 de Maio de 1979, em Jerez de la Fontera, actuando ao lado de Curro Romero e Emílio Muñoz, cortou duas orelhas e um rabo. Foi de tal ordem esse triunfo que colocaram na praça uma placa de bronze a comemorar a efeméride.
Em 1987 protagonizou dois dos feitos mais transcendentes da sua carreira: a 12 de Outubro realiza a mais genial faena da sua carreira em Madrid, com o toiro "Corchero" de Martínez Benavides; e sai em ombros pela Porta do Príncipe em Sevilha depois de lidar seis toiros em solitário.
Sofrendo vários problemas de saúde, entre os quais grande debilidade nas pernas (nos últimos anos, deslocava-se em cadeira de rodas), passou a tourear menos corridas na década de 90, mas ainda actuou até 2000. Nesse ano, em Jerez de la Frontera, toureando com Curro Romero e Finito de Córdoba, deixou ir os dois toiros vivos aos currais e, num gesto de raiva, arrancou a coleta, como que a anunciar a sua retirada das arenas.
Fora das arenas, foi também uma figura polémica. Em 1985 esteve preso, acusado de tentativa de homicídio do presumível amante de sua mulher. Foi preso quando terminava uma corrida em El Puerto de Santa Maria. Nos últimos anos, chegou a ser apoderado de Morante de la Puebla.
Com a morte de Rafael de Paula, fecha-se um ciclo e perde-se uma figura emblemática que marcou a tauromaquia e foi só igual a si próprio, sem nunca ter havido outro como ele. Mítico, artista, genial, diferente.
Fotos M. Alvarenga e D.R.
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| Rafael de Paula - um toureiro que marcou os últimos 60 anos |
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| Em 1985, quando era preso no fim de uma corrida em El Puerto, acusado de tentar matar o presumível amante da mulher |
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| Anos 90, em Madrid: mano-a-mano com Curro Romero. Ao meio, o português Paco Duarte, que actuou nesse tarde como sobressalente |






