sexta-feira, 24 de abril de 2015

"Parrita": a primeira entrevista depois de passar a bandarilheiro

"Parrita" em Setembro do ano passado na Moita, a última corrida em que actuou
de luces como matador de toiros; na foto de baixo, com a filha

Onze anos depois da alternativa de matador de toiros (que se cumpririam esta temporada), Sérgio dos Santos "Parrita" trocou o traje de ouro pelo de prata e esta é a sua primeira entrevista depois dessa decisão. Lamenta nunca se ter apresentado como matador no Campo Pequeno, mas lamenta sobretudo ter nascido no "país errado", onde o toureiro a pé "deixou de ter futuro". Não confirma a entrada na quadrilha de Moura Caetano, mas diz que "é uma hipótese". E parte com um sorriso para esta nova faceta da sua vida nas arenas, depois de um dia ter sido apoderado pelo saudoso Fernando Camacho, que chegou a afirmar tratar-se "do novo Pedrito"

Entrevista de 
Miguel Alvarenga

- "Parrita", foi difícil tomar essa decisão de passar a bandarilheiro, depois de dez anos como matador de toiros?
- Fácil não foi... Cheguei a pensar em retirar-me de vez, mas considero que estou num bom momento e que ainda posso dar muito de mim à Festa e por isso tomei a decisão, penso que acertada, de abdicar da minha carreira de matador de toiros e de passar a bandarilheiro.
- Uma decisão que retrata um pouco o estado em que se encontra entre nós o toureio a pé...
- Pois... O Miguel acompanhou-me e sempre me apoiou desde os meus princípios e sabe, tão bem como eu, que se perdeu na Festa todo o encanto desses tempos. Hoje em dia as coisas não estão fáceis. Cumpri dez anos como matador de toiros e andei sempre de cabeça erguida, mas a verdade é que o toureio a pé está esquecido e embora as coisas resultassem bem artisticamente, não funcionaram em termos económicos. Tenho uma filha para criar e não me podia sujeitar a andar aqui a fazer uma ou duas corridas por ano como matador... Como lhe disse, pensei em afastar-me de todo, mas acho que ainda estou em forma e vou continuar na Festa como bandarilheiro, sem que por isso me tenham caído os parentes na lama...
- Claro que não. É uma opção que muitos matadores, sobretudo espanhóis, tomaram também...
- Pois é.
- Mesmo assim, que mágoas guarda destes últimos anos como matador?
- A maior de todas foi nunca me ter chegado a apresentar no Campo Pequeno como matador de toiros. Nunca houve acordo com Rui Bento, tenho imensa pena. É talvez a maior mágoa que vou guardar...
- Continua como professor da Escola de Toureio de Alter do Chão?
- Continuo. É um projecto bonito, embora haja poucos jovens a querer ser toureiros a pé. Não me admira que também a escola venha um dia a acabar. Mas por enquanto funciona, fizemos há dias um encontro de escolas de toureio que resultou e foi muito positivo.
- Confirma que vai integrar a equipa de João Moura Caetano?
- É uma hipótese que foi falada e inclusivamente a estreia como bandarilheiro do meu amigo João pode ocorrer na corrida de dia 2 de Maio em Estremoz, mas não está ainda absolutamente confirmado. Sou muito amigo do João Caetano, acompanho-o frequentemente nos treinos e nas provas de galgos, mas a sua quadrilha é formada pelo Pedro Paulino e pelo João Fera, meus amigos e embora este último não tenho toureado ultimamente por questões burocráticas e profissionais, está a tentar resolver o seu problema e caso continue, eu não entro. Logo se verá. Mas se não for nesta quadrilha, será noutra, virei uma página e vou continuar a escrever o meu livro, agora como bandarilheiro.

Fotos Emílio de Jesus e Maria João Mil-Homens