Fernando José - Não é fácil descrever em palavras aquilo que se passou na noite de sábado na arena da castiça praça da Nazaré, só os "privilegiados" aficionados que marcaram presença e esgotaram as bancadas puderam desfrutar de uma noite mágica e de sonho que certamente ficará na memória como a grande corrida da temporada 2025 e só o tempo poderá julgar se foi a corrida do século.
Sem dúvida alguma, não podia ter corrido melhor a abertura das portas da temporada das Fabulosas Corridas de Verão na Nazaré, um ambiente extraordinário dentro e fora da praça, com todos os artistas a entregarem-se, a darem o seu melhor e o público de pé a retribuir-lhe fortes e calorosos aplausos.
O cartel prometia e ao toque do trompete de Álvaro Pequicho, os artistas foram recebidos de pé sob fortes aplausos, com destaque para a grande figura do toureio mundial Morante de la Puebla.
O primeiro a sair à praça foi o consagrado António Telles, que "assinou" uma lide de antologia, muito bem a escolher os terrenos, perfeito a cravar a ferragem, com destaque para os últimos três extraordinários ferros curtos perante um toiro muito bom. No rosto do cavaleiro da Torrinha notava-se a alegria, o prazer e a felicidade do melhor que ele sabe fazer, tourear com arte. O público entendeu, levantou-se de pé e retribui-lhe uma forte ovação.
Para a primeira pega dos Amadores de Vila Franca, que estão no excelente momento demonstrado ainda recentemente no Colete Encarnado, foi chamado Lucas Gonçalves que também afinou pelo mesmo "diapasão" e rubricou uma vistosa pega à primeira tentativa com muito boas ajudas de todo o grupo.
Com o ambiente já "quente" seguiu António Telles filho, que aproveitou também outro bom exemplar da ganadaria da casa Telles. O jovem cavaleiro mostrou as suas qualidades, a sua irreverência, deixando uma actuação de entrega, de muito boa nota.
Para a segunda pega, do grupo das jaquetas das ramagens de Vila Franca saltou à praça Rodrigo Andrade, neto do consagrado cavaleiro Mestre Luís Valença, para "assinar" um "pegão" numa longa viagem no primeiro andar.
Fica na memória um "ode" nesta nobre arte tão portuguesa de pegar toiros. Diz o povo e com razão.. o melhor juíz é o público nas bancadas e todo ele respondeu num ambiente que só quem lá esteve pode ser "testemunha".
Findas as actuações dos cavaleiros, passou-se à segunda parte, ou melhor aquilo que era um sonho para muitos aficionados na praça nazarena estava a tornar-se realidade, o pisar da arena pelo Génio, coisa nunca antes vista, os aplausos, os gritos, levaram Morante a mostrar porque é um ídolo, porque arrasta milhares de aficionados às praças.
Logo nos primeiros passes da "arte de Montes" se notou a maestria e não tardaram a soar os "olés", a partir de cada passe, que se tornou em arte, poder e maestria num hino ao toureio. O público agradeceu a sua actuação de pé.
De seguida e dado a impossibilidade de Marco Perez tourear devido a uma colhida em Alicante, foi a vez de Manuel Dias Gomes agarrar com a "duas mãos" a soberana oportunidade. Motivado com uma excelente actuação na Chamusca, o "diestro" luso arrimou-se, procurou sempre a perfeição, cada detalhe em cada passe, criou condições para uma lide de valor, de muita entrega, entendeu sempre bem o bom toiro e manteve sempre a fasquia alta como o seu antecessor, o público gostou. Uma nota alta de relevo para os seus bandarilheiros Joaquim Oliveira e João Martins pela perfeição que os levou a agradecer vibrantes aplausos do público de montera na mão.
Reza o ditado que "não há quinto mau", mas...desta feita saiu dos curros mais um bonito exemplar que desde os primeiros lances de capote denotou alguns problemas físicos, o que levou Morante a "despachá-lo" mais cedo para os curros deixando os aficionados com a "boca seca".
A "papeleta" ficou imediatamente resolvida com a entrada, para a segunda actuação, de Manuel Dias Gomes que, tal como no primeiro, esteve soberbo, com muito poder, forte com as duas mãos, levando o toiro desde os primeiros lances para os médios.
Desfrutou, esteve alegre, numa total entrega em cada lance de capote e em casa passe de muleta, tirou tudo o que havia a tirar, enquanto das bancadas se ouvia "assim vale a pena fazer centenas de quilómetros para ver um bom espectáculo".
Uma "aposta" ganha da empresa Doses de Bravura na substituição do jovem prodígio de Salamanca. Tal como esteve bem na faena, o toureiro lisboeta mostrou a sua humildade ao chamar o maioral da ganadaria Telles para partilhar consigo a emotiva volta à arena. "Bien" toureiro!
Mas... "Enhorabuena", o melhor estava guardado para o final quando o empresário Rui Bento dá um "passo em frente" com o seu arrojo pedindo para o "Cigarrero sevilhano" lidar o "sobrero". Foi caso para afirmar "só vendo", foi aí que Morante de La Puebla puxou dos pincéis e pintou uma tela de toureria frente a um toiro cheio de trapio. Uma faena magistral, de uma entrega de pleno poder ao natural, templando cada passe tanto com o capote, como com a muleta, mostrando porque é um dos maiores de todos os tempos. Gravou com bonitas letras de oiro a sua passagem pela carismática praça da vila piscatória e o público agradeceu, "obrigou-o" a dar duas voltas à arena e no final o Maestro saiu em ombros ao toque de música, palmas e olés num ambiente nunca antes visto.
Fica uma nota positiva para a apresentação do curro de toiros da ganadaria David Ribeiro Telles, que embora de jogo desigual, cumpriram perfeitamente.
A corrida foi dirigida de forma superior pela directora Ana Pimenta, assessorada pelo médico veterinário José Luis Cruz.
A terminar, mas com o destaque merecido, fica um justo e merecido "Olé de Parabéns" para a empresa Doses de Bravura - que em parceria com a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré proporcionou à aficion portuguesa uma noite de toiros que de certeza ficará para a História.
Uma "Puerta Grande" para Rui Bento, mas também uma fasquia muito alta e muita responsabilidade para as próximas corridas da temporada. Toca p'ra frente, Maestro!
Fotos Ana Pestana e Fernando José
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Público totalmente rendido a Morante! |
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Manuel Dias Gomes: o dom de tão bem tourear! |
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Ambiente enorme e lotação esgotada desde a manhã de sábado |