segunda-feira, 9 de novembro de 2020

João Cortesão recorda Rogério Amaro e os tempos dessa Lisboa de outras eras

João Cortesão (foto de cima) recorda no seu blog "Sortes de Gaiola" os tempos de uma Lisboa antiga que viveu ao lado de Rogério Amaro e muitos mais, numa bonita homenagem à memória do grande empresário falecido na última sexta-feira - que aqui publicamos com a devida vénia

Rogério Amaro e a erosão inexorável do tempo...

Amigo Rogério - recordar é viver:

Há mais de 50 anos começou a formar-se um grupo completamente ad-hoc de aficionados que, além de uma louca aficion, amavam as suas raízes e viviam a amizade como uma religião.

O núcleo duro desse grupo era constituído por ti, por mim, pelo Zuquete, pelo Lázaro, pelo M. J. Maurício, pelo Zenkl, pelo J. Nunes, pelo Regalito, pelo Paco Camilo, pelo C. Marinho, pelo Chibanga, pelo Manecas Jorge, pelo Zé Luís Gomes, pelo Nicolau Breyner, pelo Xinha e mais um ou outro... 


O patriarca era o Sr. Francisco de Sedevens Gato, mais conhecido por "Chico Carreira", dono dum restaurante no Parque Mayer - que a todos crismou, a ti por ”Pipi”, a mim por “Gago”, ao Zuquete por “Comprido”, ao Zenkl por “Loiro”, ao Lázaro por “Fartazana”, etc... Que tinha histórias infindáveis.


Com o decorrer do tempo começou a aparecer uma geração mais nova, Zé M. Pires da Costa, M. J. de Oliveira, Carlos Leonardo, Luis Pombeiro, etc., que, vivendo os mesmos ideais, pegaram de estaca.

 

Os dias passavam-se assim, almoçava-se no “Chico” ou no “Norte Ponte” em Algés e as tardes começavam no “Picolo” ou no “Passo no Rossio” e terminavam invariavelmente no bar do Hotel Príncipe, onde ouvíamos histórias do passado contadas por bandarilheiros antigos (A. Batata, J. Claro, Júlio Glória, A. Catoja, António Augusto e por vezes o teu pai). As noites variavam entre fados, “Stones” e o “Jardim Zoológico” (“Hipopótamo”, “Pantera”, “Elefante”, “Cova da Onça”…).

 

Em tudo isto pontificavas, como na amizade, no bom humor, no sentido crítico e na solidariedade, formando com estes predicados o material aglutinador de gente diferente.

 

Hoje por hoje, olho à minha volta e tristemente dos velhos, já só vejo o Tomix, o Manecas Jorge, o Zé Luis e o M. J. Maurício - porque a erosão inexorável do tempo tem levado um a um...


João Cortesão/"Sortes de Gaiola"


Fotos M. Alvarenga, Luis Azevedo/Estúdio Z e D.R.


Os fins de tarde no bar do Hotel Príncipe: Rogério Amaro, José
Zuquete, Álvaro Catoja e José António Lázaro
José Zuquete e seu irmão e José António Lázaro
Rogério Amaro com José Manuel Pires da Costa e amigos